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Música

O diário de Paredes de Coura - parte 3

Falta de sexo e literatura: os motes para quem esteja por Paredes de Coura.

Cuide de Vila Verde, 14 de Agosto de 2012
13h06 “Era, porém, frequente a humidade torná-lo mais belo aos meus olhos.” Retiradas do convívio com as outras, estas palavras parecem ter o que é preciso para nos levarem por um desfiladeiro de enredos sexuais. Logo à frente, a escrita insinua-se ainda mais — “os grandes jactos da rebentação” precipitando-se para “a dança da morte”. Pois, mas quem ficava mais belo com a humidade, aos olhos do narrador, era Ross, o raio de um promontório. E nem a rebentação de que se fala trata da consumação plena (ou precoce) do acto, nem mesmo quando termina numa dança da morte, que eu esperava que fosse a petite mort do orgasmo. Não era. Robert Louis Stevenson e Os Folgazões foram, então, uma má escolha para literatura de viagem. A música salvou a cena: Black Lips, Vivian Girls e Smiley Face, um promissor músico tuga. Para o resto dos dias, já escolhi outro livro, Mulheres de Charles Bukowski, retirado da estante de um imenso casarão recuperado do século XVI, onde ficarei com uns amigos até ao final da semana. A localidade com nome imperativo de onde saem estas linhas pertence a Ponte da Barca e fica a cerca de 50 quilómetros do recinto do Festival Paredes de Coura. A chuva cai ininterruptamente desde a noite passada. Ontem, a viagem até ao recinto—debaixo de um cerradíssimo nevoeiro, por estradas nacionais que o Google Maps sugeria —foi, vamos assumir sem merdas, um rolar constante sobre a lâmina que separa a vida da morte. Parabéns ao condutor exímio, que obviamente não fui eu. A ele devo o incrível futuro que ainda tenho pela frente. Protegido pelo alpendre do nosso abrigo medieval, penso em como foi inútil rodar uma centena de quilómetros (ida e volta) só para espreitar o B Fachada, morder um hambúrguer e umas batatas e ficar ensopado com as copiosas gotas de chuva sem qualquer hipótese de caldinho dentro da cueca. Já anunciei que neste Paredes de Coura iria cumprir uma espécie de ramadão sexual, mas um amigo despreocupou-se logo: “Ah claro, só comes à noite."