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Música

Um Primeiro Encontro com... Moko

Um papinho cheio de segundas intenções com a futura rainha do R&B britânico.

Entrevistas e encontros amorosos não são tão diferentes, principalmente se, assim como eu, você insiste em só entrevistar pessoas pelas quais tem uma paixonite aguda. Chegou uma hora que meu editor sugeriu que seria mais seguro para todas as partes envolvidas se a gente chamasse a entrevista de encontro logo de cara.

Tenho uma confissão a fazer. Este não é um primeiro encontro propriamente dito. Conheci a Moko algum tempo atrás quando tomamos uma cerveja e fizemos uma entrevista num bar no sul de Londres. Foi mais ou menos na mesma época que ouvi a música dela e me tornei uma tiete no sentido completo; seguia no Twitter, ia a todos os shows, enrolava para ir embora depois na esperança de fazer amizades.

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Na cabeça de algumas pessoas, isso poderia justificar um mandado de proteção, mas a Moko foi estranhamente receptiva. Ela até me mandou uma mensagem fofa no Natal. Talvez ela tenha síndrome de Estocolmo, mas parecia mesmo que eu estava ficando amiga da minha popstar favorita. E aí, como inevitavelmente acontece em todas as minhas amizades com pessoas tão talentosas, comecei a desenvolver um sentimento. Não estou dizendo que ter um single no topo das paradas de sucesso britânicas seja o que eu procuro em uma pessoa (porque isso seria fútil), mas a quinta posição da Moko com Chase and Status em setembro me deixou com uma puta queda por ela.

Comecei a me perguntar: “Será que a Moko e eu seremos só amigas para sempre? Ou será que podemos ser algo mais???” Como diz minha avó: “Às vezes as melhores coisas da vida estão bem na sua frente”, então arrisquei e chamei a Moko para tomar um café.

Noisey: Ahn, você chega 53 minutos atrasada no nosso primeiro encontro?
Moko: Desculpa! Dormi demais e perdi a hora!

Hmm. Imagino que você esteja trabalhando muito – você merece uma dormidinha a mais. Fui no seu show na sexta-feira (obviamente, #stalker). Foi demais. Qual foi a penúltima música que você tocou mesmo?
“Never Let Me Go”.

Ah, adoro essa música. A gente dançou bastante com ela.
Fico feliz, é isso que é para ser, pelo vocal e pela letra, tem aquela energia dançante.

Mas você é boa de fazer as pessoas dançarem. Você sempre grita: “Quero ver vocês mandando o twerk aqui!” E aí o público olha para você tipo: “Ahhnn ninguém mais aqui manda um twerk tão bem quanto você”.
Haha, talvez eu não devesse ter dito aquilo. Lembrei da Miley Cyrus e aí me bateu uma culpa e pensei: “Não queremos nenhum twerk neste show, não, não é bem-vindo aqui”.

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Não importa que a Miley tenha estragado o twerk para todo mundo porque, no palco, a Moko faz um “dutty wine” bem característico. Ela consegue rebolar por músicas inteiras, a silhueta deliberadamente marcada pelas luzes. Em um momento ela está pulando para cima e para baixo, chamando o público para acompanhá-la, e no outro ela joga a cabeça para trás e segura uma nota digna da Whitney.

O som dela faz você sentir como se o milênio estivesse prestes a virar; uma mistura única de house e garage do fim dos anos 90, coberta com um vocal cheio de soul aperfeiçoado ao longo do tempo desde que ela entrou para o coral da igreja aos cinco anos de idade. É um pouco tipo Massive Attack com Candi Station com drum'n'bass; nostálgico e contemporâneo ao mesmo tempo. Como regra geral, a Moko só veste preto. Ah, e tem o cabelo, que é marca registrada dela, e sobre o qual não consigo não perguntar.

Como você faz para arrumar o cabelo?
Ah! Não posso entregar muita coisa, mas é quebrando muito pente. Penteio tudo e depois coloco vários elásticos. Demora bastante.

E ele é muito comprido. Você consegue deixar para cima?
Consigo.

Por favor, faz um show assim, eu ia morrer.
Estou tentada a fazer! Mas é meio que uma bagunça.

Eu também, é por isso que estou sempre de gorro, se bem que vou tirar porque estamos em um encontro. Então me fala sobre a coisa do Chase and Status, o que tem rolado desde a última vez que te vi. Você fez uma turnê com eles?
É, eu abri os shows. Foi muito difícil, mas muito divertido. Nunca peguei um público morto. Mas foi um verdadeiro aprendizado, porque eu tinha que me concentrar muito na arte e não me perder em outras coisas.

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“Outras coisas”?
As pessoas chapavam, mas não eram loucas nem piravam.

Então não é que nem aqueles drogadinhos do clipe?
Exatamente. Não uso essas coisas, nunca usei nenhuma droga além de maconha. Não dou conta. Tenho muito medo porque já sou louca sem drogas. Enfim, isso me ensinou a ser uma artista mais controlada e também foi muito assustador, porque você está na frente de uma plateia que potencialmente não te conhece, ou pelo menos só te conhece por uma música.

Count on Me” chegou à 5ª posição nas paradas, né?
É, e ficou lá um bom tempo.

Existe o medo de que, se você aparece em uma música muito famosa quando está começando, as pessoas vão te conhecer só por aquilo?
Foi uma experiência muito incrível e uma forma muito positiva de abrir espaço para a atenção que eu preciso. Comparada às minhas coisas, é a mesma ideia, tem um lance meio anos 90, mas era muito pop e comercial e ainda não estou pronta para esse tipo de som e estilo.

Mas agora você assinou com o selo do Chase and Status? Você recebeu outras ofertas? Por que escolher esse?
Sim, assinei, depois de muita reflexão, no fim essa foi a decisão. A gente tinha a Columbia, a Island, a Excel: mas escolhi a MTA porque senti que teria um relacionamento mais pessoal e direto com eles, e eles têm uma experiência artística, então me entenderiam como artista. E quer saber? Isso se mostrou uma verdade. Toda vez que termino um show, o Will sempre diz: “Você podia ter feito melhor”. Ele é um mito.

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Você está gravando?
Vou entrar em estúdio amanhã e ficar duas semanas.

Álbum?
Não, EP.

Você já fez um EP! (Chama Black).
É, mas quer construir algo. Tenho muito mais a mostrar e quero que as pessoas entrem nessa jornada comigo, em vez de chegar e dizer “aqui está o meu álbum”.

Conversando sobre influências, Moko cita FKA Twigs e James Blake como inspirações contemporâneas, e não esquece de Shara Nelson e TLC nas mais oldschool. “Cresci escutando a Smooth FM em casa em New Cross”, conta, “mas minha mãe escutava muita música de Gana e afrobeat também”.

E como a sua mãe está?
Continua durona! Está vivendo a vida dela, cara. Ah, é! Agora ela está com o hábito esquisitíssimo de ir aos meus shows e tirar foto com todo mundo. Dá muita vergonha!

Bom, agora você tem uns fãs bem tietes. Provavelmente ela deve estar orgulhosa. Ela tira selfies?
É, tira selfies com o celular. Selfies de mãe. Eu devia ter trazido uma para você. Ela sempre faz isso quando está de slit e kaba. Sabe, aqueles vestidos hipongas africanos…

Você já usou um? O que você vestia para o coral da igreja?
Ah, é, fui para a Alemanha fazer um show com o meu coral e tinha um vestido enorme. Sabe aquele material africano kente dos anos 90 que é laranja, tipo que o Fresh Prince usava? Era horrível na época, mas agora eu olho e acho que podia até ser legal.

Mas não se usava ironicamente, né?
Não…

Fala sobre as coisas que a sua mãe cozinha, é sobre isso que quero ouvir. Qual é o prato tradicional de Gana?
Às vezes é arroz jollof, mas tudo gira em torno de banku e okra. Banku é milho fermentado e depois enrolado em um bolinho e aí minha mãe coloca numa folha, daí você abre a folha e molha na sopa de okra, em que a minha mãe também coloca frango, peru, cebola, espinafre e berinjela. Uma delícia. Te digo que às vezes dá sono porque é meio que uma sobrecarga de carboidrato…

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Carbicídio? (se segura, Boa Forma, pode usar essa)
Exatamente. Mas é muito gostoso, menos quando minha mãe faz muito apimentado. Já falei para ela parar porque não consigo aproveitar. Comemos com a mão em casa.

Comem?
É, mas a minha mãe nos forçou a aprender a comer com a mão e com talher. Civilizado, só que não. Na escola, a gente comia com garfo e faca e chegando em casa a gente deixava o garfo e a faca de lado e comia com a mão sentado no chão.

Você janta sentada no chão toda noite?
Não, só às vezes, dependendo do que comemos. Se jantamos comida africana, minha mãe coloca o tecido africano.

Pera, então se você vai comer comida africana, come no chão, e se for comida inglesa, come na mesa?
Isso me proporcionou uma vida muito equilibrada.

Siga a Amelia no Twitter: @MillyAbraham
Todas as fotos por Jake Lewis: @Jake_Photo