Amamos DuvallFlorCaveira8/10Há alguém que não goste de estar à vontade em sua casa? Vestir aquelas pantufas rotas e cantar sobre as canções dos outros como bem lhe apetece e sem temer julgamentos? O Tiago Cavaco fez muito para se sentir em casa nos seus discos e hoje é quase impossível resistir a toda a felicidade familiar presente em cada novo investimento do patrão da FlorCaveira.Amamos Duvall, disco duplo repartido em 24 temas, encontra-o a fazer aquilo em que é realmente bom: a aproveitar os samples e as deixas de canções alheias para, na companhia da sua malta e de alguns convidados, transformar tudo isso num novo índice dos seus afectos musicais.Tal como o próprio título indica,Amamos Duvallé um disco de afectos: tembangerse hinos de recurso, tem lições de pai para filho (a lembrar o Lou Barlow ultra-íntimo de Sentridoh), tem crónicas irresistíveis do que era ser punk nos anos 90 (e, nisso, Tiago está próximo de um Farrajota) e tem também uma série de roubos — mais ou menos assumidos — de jóias rock como “We Care a Lot”, a mais decisiva malha dos Faith No More.Sim,Amamos Duvalltambém chateia aqui e ali, mas o mais estranho era alguém sentir-se completamente compatibilizado com todos os disfarces e “ondas” de Tiago Cavaco, que nunca pede desculpa pelo que decide ser: quer seja o rapper branco em festa africana ou o ídolo “cock rock” num álbum com um subtexto de fé (claro). Mas é quase sempre em casa que nos assumimos tal como somos eAmamos Duvallnão andará assim tão longe de ser oWhite Albumdos discos caseirinhos e mais puramente afectivos alguma vez feitos na tuga.
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