É Bola ou Bala?

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É Bola ou Bala?

O placar final do que rolou ontem no Maracanã.

Desde o início da onda de manifestações no país, o rechaço aos “grandes eventos” foi somado à pauta dos protestos, sobretudo no Rio de Janeiro e em outras capitais que receberam a Copa das Confederações, evento teste para a realização da Copa do Mundo da Fifa ano que vem. A exemplo do que aconteceu nas outras cidades em que a seleção brasileira jogava, um grande protesto foi convocado para a final no estádio que um dia foi o Maracanã. A manifestação já estava convocada independente dos times que estariam em campo, mas a confirmação do Brasil na final deixava tudo com um gostinho melhor. A partir das 12h de domingo a Tijuca já estava sitiada por um efetivo de seis mil policiais militares, fora a Policia Rodoviária Federal, Força Nacional, Exército e Guarda Municipal. O chamado “perímetro FIFA” foi estabelecido, cercando um raio de dois quilômetros em volta do estádio. Apenas quem tivesse ingresso poderia passar, e moradores só poderiam circular apresentando comprovante de residência. Duas manifestações com concentração na praça Saens Pena foram marcadas, uma para as 10h e outra para as 15h, ambas tiveram número de participantes bem menos expressivo do que as manifestações das semanas anteriores, e pouco mais de cinco mil pessoas ficaram na área até a hora do jogo — pelo jeito, geral preferiu voltar para casa e ver o jogo na TV.

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É fato que a manifestação foi bem menos coxa que as anteriores, não tinha cara pintada, camiseta branca ou gente puxando o hino nacional de cinco em cinco minutos. Nem sequer o Guy Fawkes apareceu por lá, quem ficou até o final era mais camiseta preta, máscaras de gás, keffiyehs e camisetas amarradas na cara. Conforme se acercava a hora do jogo, a galera se concentrou em frente a uma das barricadas, alguns ficaram sentados em frente à polícia, e como já era esperado, assim que o juíz apitou o início do jogo o gás lacrimogêneo e as balas de borracha pipocaram. Eu fui logo atingido por uma bala de borracha na panturrilha e não consegui acompanhar o ritmo da galera que recuava e resistia, chutando (de trivela) as granadas de gás lacrimogêneo de volta, atirando pedras e molotovs. Rapidamente a polícia esvaziou a rua, e manifestantes se dispersaram, sem deixar os rastros de depredação das manifestações do dia 17 e 20 no centro que contavam com reforço de várias torcidas organizadas, com motivação ainda não esclarecida, e que não deram as caras na Batalha do Maracanã.

O início dos bombardeios na Rua São Francisco Xavier, próximo ao Maracanã. Vídeo por Thomás R. P. de Oliveira.

Enquanto a polícia que mais mata no mundo fazia seu show do lado de fora do Maraca, a pátria de chuteiras goleava a Espanha para a tristeza da Shakira, a maior celebridade presente na arquibancada. Com receio de terem suas mães e sistema digestivo lembradas por um Maracanã lotado, nem a presidenta Dilma, nem o prefeito Eduardo Paes ou o governador Sergio Cabral compareceram ao jogo. Fato curioso uma vez que nos últimos sete anos o governador e o prefeito só faziam falar de “grandes eventos”, “Copa do Mundo” e “Olimpíadas” como justificativa para tudo, da militarização das favelas à higienização étnico-social do centro histórico e da zona sul. Essa omissão talvez tenha sido o maior gol marcado pelo Brasil nessa Copa.

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Saldo do mês: cassetada no braço esquerdo, granada na perna direita, cotovelo direito ralado e fudido e tiro de borracha na panturrilha. Mas tá sussa, já apanhei mais por menos.

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