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Será que Não Vai Ter Mais #NãoVaiTerCopa em SP

Acompanhamos o terceiro ato contra a Copa, que rodou quase 10 quilômetros a pé pela cidade de São Paulo, teve muita polícia, black bloc e quase nenhuma depredação.

O terceiro ato contra a Copa aconteceu nesta quinta-feira (13), com concentração marcada para às 18h na região do Largo do Batata, na Av. Brigadeiro Faria Lima. Os usuais organizadores, criadores de faixas, ativistas, black blocs e a Polícia Militar já estavam presentes desde às 17h30 enquanto mais pessoas chegavam. Emulando os atos do ano passado chamados pelo MPL – SP, já que a pauta dessa vez era o transporte público, eles conseguiram reunir aproximadamente mil e quinhentas pessoas (de acordo com a polícia), ou duas mil, segundo alguns participantes ouvidos.

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O tenente coronel Eduardo de Almeida respondeu algumas perguntas da imprensa antes do início do protesto, logo após três jovens serem revistados durante a concentração pacífica: “Não é normal ver gente andando de roupa e bota preta nessa região”. De acordo com ele, a Tropa de Contenção, ou a chamada Tropa de Braço, trazia 48 oficiais com farda diferenciada, dentro dos mil e setecentos escalados para a operação.

O grupo saiu do Largo em direção à Av. Rebouças às 19h, com fileiras de policiais acompanhando o percurso pelos dois lados. No trajeto, um grupo de soldados sem identificações montava guarda num posto de gasolina, chamando a atenção de alguns manifestantes e de quem possuia câmera fotográfica. Não eram raros os momentos em que a imprensa corria atrás de alguma coisa ou se prontava na frente da barreira policial, chamando a atenção de todos e, provavelmente, acuando a polícia ainda mais. Quando isso acontecia, o grupo maior pedia para não darem atenção e continuarem a marcha. Nada para ver, nada o que fazer.

O grupo seguiu pela Rebouças, se espalhou e chegou a ocupar as duas vias da avenida, apesar dos esforços visíveis dos policiais de manter as vias abertas. Eles não conseguiram impedir que alguns manifestantes pendurassem faixas e aplaudissem o grupo que passava por uma ponte na altura do Hospital das Clínicas. Uma corrente feita pelos black blocs e alguns puxadores da manifestação protegiam a faixa principal, assim como os Advogados Ativistas que acompanhavam atentamente tudo o que acontecia ao redor. Entramos no meio da corrente para saber o que eles falavam, como se organizavam e o que estavam protegendo. “Vamos proteger da polícia quem a gente conseguir, infelizmente, não dá pra fazer no grupo todo”, me disse um dos black blocs enquanto nos pedia uma garrafa d’água e passava para alguns amigos, nos devolvendo depois o que tinha sobrado — com um salve — antes de correr de volta para puxar um novo grito de guerra. Os gritos não diziam muita coisa sobre o transporte nem traziam uma solução para algo específico a não ser o sempre presente “queremos tarifa zero”. Os batuqueiros também não conseguiam animar por muito tempo, mas era quando os blacks pulavam, corriam e uivavam seu “uh, uh, uh” que era possível ouvir a raiva e a sensação de vitória por terem durado mais de uma hora sem apanharem ou serem presos.

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O grupo seguiu pela Av. Paulista, de forma pacífica, até o MASP, quando foi ouvido um primeiro estrondo e as pessoas começaram a correr. No Twitter, a PM disse que "vândalos estavam na Paulista e arremessaram um coquetel molotov na polícia". O barulho até foi alto, mas o que vimos foi uma espécie de bombinha de festa junina.

As pessoas que batucavam e levavam a maioria das faixas começaram a se dispersar após a polícia fechar o caminho. Nesse momento, começam as primeiras prisões: cinco, de acordo com o Twitter da polícia, entre eles, um menor de 15 anos. Essa foi a parte mais tensa do dia, porque embora a galera estivesse de boa, a polícia parecia estar de tocaia o tempo todo. A tensão vinha por parte dos jornalistas, dos manifestantes e dos próprios soldados. Mesmo com a multidão tomando a avenida mais famosa da cidade, às vezes, tudo ficava em silêncio. Um cerco policial foi armado e a passeata temia avançar, já que até a Tropa de Choque estava posicionada. De maneira corajosa, a galera seguiu em frente, a polícia recuou e o ato continuou.

Cerca de 500 manifestantes continuaram no local, pedindo para que os outros não corressem ou se espalhassem. Após um tempo parados, continuaram em direção à Rua Vergueiro. A partir daí, a polícia não conseguia mais parar as vias nem desviar os carros, com os manifestantes passando pelo meio dos automóveis e ônibus enquanto arrancavam alguns gritos e buzinadas de apoio. O grupo restante seguiu em direção à Liberdade.

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Foi uma manifestação pacífica, mas, entre os gritos que se ouviam, tarifa zero e corrupção nos transportes eram temas fracos em relação aos gritos de desafio e pedidos de desmilitarização da polícia. Parecia que o maior desafio não era ser ouvido ou ter sua “pauta divulgada, mas saber se o protesto chegaria até o fim sem a usual brutalidade policial. O número de homens fardados portando câmeras era maior do que nas outras manifestações, além de um carro com equipamento que surgiu na Paulista e continuou durante o trajeto. Como eles não fizeram nenhuma tática para conter pessoas e a violência foi menor, tanto da parte deles como dos black blocs, deu a impressão de que os dois lados estão aprendendo os movimentos para algo maior que poderá acontecer mais tarde, já que a realização da Copa parece algo iminente e irrefreável. Agora, parece mais uma questão sobre liberdade de protestar e como isso acontecerá na época da Copa, do que realmente uma luta por direitos. “A Paulista é nossa, agora não vai mais ter Copa” foi o grito mais sem nexo de todos, já que uma avenida não pode representar uma vitória para outros tantos estados que ficarão com os mesmos problemas e estádios inúteis após o fim do evento.

O ato terminou na Praça da Sé, por volta das 23h, com cerca de 100 pessoas. Sem distinção, todos ali – policiais, jornalistas, manifestantes – estavam visivelmente exaustos depois de percorrer 9,8 km a pé. O Coronel Bexiga, responsável pela região central, disse que cinco pessoas foram detidas para averiguação e uma agência foi depredada. Simpático com os jornalistas, falou sorrindo que "A ideia é que todos os próximos atos sejam pacíficos".

Depois da quantidade de abusos policiais sofridos pelos manifestantes desde junho, o que sentimos é que a desmilitarização da Polícia Militar foi a pauta que se sobressaiu diante das diversas indignações que movem os atos recentes contra a Copa. Uma faixa estendida numa ponte da Avenida Rebouças dizia: "Os terroristas vestem fardas".

Medir a legitimidade do ato é complicado, ao mesmo tempo em que é difícil não compará-lo com as jornadas de junho. Embora muita gente se solidarize com a causa, ela não parece ganhar forças. Se vai ter Copa ou não, a gente não sabe. A dúvida é: será que não vai ter mais #nãovaitercopa?

Siga a Débora Lopes (@deboralopes) e o Eduardo Pininga (@5dollarsshoes) no Twitter; e veja mais fotos do Felipe Larozza no site dele.