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Entretenimento

Oi de Novo, Terry Gilliam

Terry Gilliam é uma máquina de imaginação perpétua que cospe grosserias encantadoras para os grandes estúdios por ele desnortedos. Essa semana entra em cartaz no Brasil O Mundo Imaginário de dr. Parnassus, outro filme que os caras da grana não queriam...

Terry Gilliam  é uma máquina de imaginação perpétua que cospe grosserias encantadoras para os grandes estúdios por ele desnortedos. Essa semana entra em cartaz no Brasil O Mundo Imaginário de dr. Parnassus, outro filme que os caras da grana não queriam que ele fizesse. Então, liguei para ele pra saber as novidades.

**VICE: Ouvi dizer que você teve problemas com o financiamento do filme porque as pessoas não entendiam a ideia, é verdade? **
Terry: Sim, fomos pros EUA e pedimos dinheiro, US$25 milhões, para o filme seguinte do Heath Ledger depois de O Cavaleiro das Trevas, e não conseguimos nada.

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O que eles não conseguiram sacar?
Nada! Eles não conseguiram nem entender que no verão seguinte a maior estrela de cinema no planeta seria o Heath Ledger porque O Cavaleiro das Trevas estava sendo lançado. Eles não conseguiram entender nem esse simples conceito, então como poderiam começar a entender o filme? Sabe, eu sempre tive esse tipo de problema. Vou a essas reuniões e eles dizem, “ah, meu Deus, adoramos tudo o que você já fez, Terry, mas não temos tanta certeza desse seu novo projeto.” E sempre foi assim, então não vejo porque um isso mudaria um dia. Os caras nessas posições, os guardiões da grana, etendem a ser pessoas conservadoras com muita pouca imaginação que só querem saber de um Bandidos do Tempo 2.

Você acha que isso tem a ver com o fato de não haver uma ideia que possa ser resumida em uma frase super expressiva como “cara perde garota”?
Bom, sim, mas tem acontecido isso há muito tempo já. E as pessoas tendem a mostrar o projeto imediatamente para o pessoal do marketing, porque se eles não sabem como vender, daí a coisa não é feita. O negócio não é dirigido por pessoas que querem dizer não para que possam sobreviver em seus empregos burocráticos super bem pagos pelo máximo de tempo possível. Foi assim por muito tempo e piorou ao longo dos anos, porque tudo ficou mais e mais burocrático. A razão pela qual meus filmes são feitos é porque consigo grandes estrelas, esse é o meu poder.

Esse seu filme parece ser bem moralista, em termos de ter cuidado com o que você deseja, atrelando medos e desejos.
É, bom, tem que ser sobre alguma coisa. Já existem pessoas suficientes fazendo histórias sobre coisas virando outras coisas e explodindo. Todos os meus filmes partem de uma ideia ou um pensamento sobre os quais quero refletir, e daí eu tento abarrotar o máximo que conseguir. Gosto de ideia de filmes em camadas, e desde o começo acho que a molecada entende meus filmes mais rápido do que os adultos. A molecada é mais aberta a qualquer coisa que os divirta e prenda a sua atenção – adultos, quanto mais velhos ficam, querem coisas que sejam mais diretas, ou colocadas em caixinhas para serem entendidas com mais facilidade. Essas são generalizações ridículas, mas já vi isso acontecer muitas vezes. Povo do cinema saindo depois de assistir o filme achando-o confuso, sem saber a do que se tratava, e um menino de sete anos de idade saindo entendendo tudo.

Na maior parte do filme, Parnassus não tem uma plateia compreensiva. Era pra ser tão autobiográfico quanto aparenta algumas vezes?
É, eu caio muito fácil na autocomiseração. Todos os personagens do filme têm aspectos meus. Parnassus e eu facilmente entramos numa de: “OK, estou ficando velho, ninguém gosta do que estou fazendo agora, o mundo mudou, blá, blá, blá.”

Ok. Então, é demais você ter conseguido o Tom Waits para ser o Diabo.
Ele é um deus vivo, em minha opinião. Eu iria pra qualquer lugar e faria qualquer coisa por esse cara. É uma pessoa que sinto que tem um espírito semelhante ao meu, ele é um poeta muito melhor do que jamais serei.

Parece que ele se divertiu.
Ah sim. Ele é ótimo. Só a voz dele já faz o serviço, ele podia ler a lista telefônica e seria mágico. E é o máximo ele ter usado em sua última turnê o chapéu coco que ele usou no filme. Ele disse que estava procurando um modelo diferente de chapéu para a turnê e o coco foi a resposta.