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Duelos de Carros com Alemães Bêbados

Ao invés de duelar com dignitários estrangeiros, os cavaleiros de hoje galopam por sobre os lombos de cavalos enquanto tentam pegar anéis presos a um portão com um ímã. Felizmente, a juventude alemã está trazendo o valente desprezo por segurança de...

Combates tradicionais sempre pareceram muito divertidos – um jogo baseado numa premissa simples que carrega consigo grandes chances de carnificina. Mas hoje em dia esse tipo de duelo acontece nos arredores de vilarejos no norte da Alemanha, e, na maioria das vezes, são desprovidos de qualquer perigo real. Ao invés de duelar com dignitários estrangeiros, os cavaleiros de hoje galopam por sobre os lombos de cavalos enquanto tentam pegar anéis presos a um portão com um ímã. Felizmente, a juventude alemã está trazendo o valente desprezo por segurança de volta aos duelos.

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Em Schleswig-Holstein, um terreno baldio entre Hamburgo e a fronteira com a Dinamarca, os duelos estão renascendo. Enquanto seus antepassados dependiam de cavalos, a garotada hoje em dia balança lanças pela janela de um stock-car envenenado em um gigante e não regulamentado festival de perigo e bebedeira, velocidade e lama.

Martin, 23, é um dos 20 organizadores desse evento. Mas quando eu pergunto sobre as regras e sobre segurança, ele faz uma cara como se ele já tivesse ouvido essa pergunta várias vezes. “Seriam muitas condições para cumprir,”  ele diz. “Alem da presença obrigatória de caminhões de bombeiro em cada evento, cada motorista teria que ter pelo menos 18 anos de idade, possuir uma carteira de motorista válida e não beber. E se tudo estivesse de acordo com essas condições, não sobraria nada do que realmente é o duelo de carros.” E ele está certo; qual é o objetivo da coisa toda se você não pode ver um moleque mamado que não sabe dirigir correndo por todo canto com uma arma branca pendurada pra fora de um carro em chamas?

Os competidores de hoje em dia já descarregaram dezenas de carros velhos em um milharal detonado no meio de uma floresta escura. Esses carros estavam apodrecendo em ferros velhos no norte da Alemanha há poucas semanas, mas, agora, graças a incontáveis semanas de trabalho árduo debaixo das capotas, esses carros viraram Batmóveis tunados beirando 250 cavalos de potência. “Você realmente precisa ir o mais rápido possível,” diz um duelista frequente de 34 anos de idade que passou os últimos 15 anos remodelando carros velhos, “se não, não vai ser foda o bastante.”

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Prestes a começar o maior evento de duelos de carros em todo o norte de Friesland, o clima é um misto de antecipação ansiosa e entorpecimento alcoólico. Crianças e fazendeiros locais ficam no bar. Mães com suas crianças, eletricistas e pedreiros de uniforme, jovens garotas, vovó, vovô -- estão todos ali bebendo uísque com coca, vodka com suco de laranja, ponche de chá e, principalmente, Sternmarke, uma imitação barata de conhaque que os jovens chamam de “Champanhe do Norte”.

Na hora do almoço, os motoristas estacionam os carros na beira da floresta, comem churrasco e bebem. Alguns motoristas param no “pit stop”, outros optam pelo modo drive - in – nem se incomodando em sair do carro enquanto pessoas entregam o goró pela janela aberta. Eu me arrisco a perguntar para um cara chamado Knut se esses eventos são uma simbólica preservação de uma tradição que seus antepassados apreciavam.  Ele sorri: “Não muito.” Ele costumava duelar da maneira tradicional a cavalo, mas “os cavalos não funcionam pra mim. Eu preciso da adrenalina.” Um viciado em carros que começou a duelar com os amigos no começo dos anos 90, e que agora tem seus 30 e poucos anos, está feliz que a molecada dos vilarejos nos arredores está tomando conta desses eventos.

Mais ou menos 60 carros se alinham em três fileiras paralelas. Metallica bomba nos alto-falantes. Os passageiros se penduram pra fora das janelas e esticam suas mãos para alcançar aljavas de metal soldadas no lado de fora do carro para pegar suas lanças. Há uma família inteira dentro de um Kadett azul bebê: paizão atrás do volante, mãe no banco de passageiro, crianças nos bancos de trás. Carros se movem vagarosamente, girando em torno deles mesmos, jogando lama pro alto, lama que cai nas pessoas como granizo dos grandes. A soma de motores potentes e “champanhe” não combina com direção precisa, e de uma jeito muito lamacento, as coisas estão fora de controle.

Quem acabou ganhando? Quem vai levar a copa pra casa? Ninguém sabe, e pelo visto, ninguém liga. Tudo vai se aquietando no final, exceto, claro, pelos corredores de caixas de som bombando Motörhead: “Você ganha algumas, perde algumas, é tudo a mesma coisa.” O prazer está no duelo.

TEXTO POR E.F. KAEDING VICE DE
TRADUÇÃO POR EQUIPE VICE BR