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Música

Estivemos lá e vimos: Noiserv

Fiquei enfeitiçado por este druida harmonioso.

Teatro S. Luiz
Lisboa
8/10 Ando há uma semana sob um encanto lançado pelo druida harmonioso Noiserv, hoje acordei para a vida e vem-me agora à memória a sucessão de acontecimentos que me colocou neste estado, vou contar como tudo se passou: Dia 1 de Outubro, dia da música, teatro S. Luiz. A chuva anunciava a abrupta mudança de estação, pelo menos lá fora, porque dentro conhecia-se em primeira mão uma quinta estação do ano a ser inaugurada: Noiserv e a orquestra que quase se vê.  Estão duas pessoas no palco: David Santos e Diana Mascarenhas. A primeira cozinha com confiança uma sinfonia em directo, enquanto a segunda compõe desenhos que transformam um cenário minimal num puzzle onírico. Não se pode negar a beleza que existe no cruzamento entre peças de arte a serem construídas, mas deve dizer-se que para quem não tenha um cérebro multitask, existirá dificuldade em se focar apenas numa das artes, e a verdade é que fomos lá mais por causa de uma delas. O concerto começa com "Mr. Carousel", anterior ao novo álbum, como que para entrar devagarinho no universo de Noiserv. À segunda canção começamos a ouvir os acordes novinhos em folha de "This is maybe the place where trains are going to sleep at night", altura em que nos é revelado o apuramento que foi atingido na sonoridade tecida pelo músico lisboeta. "The Sad Story of  a Little Town" leva-nos de volta àquele a que Noiserv carinhosamente apelida de "disco do meio", antes de retomar o novo caminho com a única canção com fonte de inspiração bem definida: a história do maratonista-carpinteiro Francisco Lázaro, primeira vítima mortal das Olimpíadas modernas (Estocolmo, 1912), que lutou até ao fim pelos seus sonhos. Seguiu-se a melancólica "It’s useless to think about something bad without something good to compare" e logo depois o excelente tema criado para a banda-sonora de José & Pilar, "Palco do Tempo". Por esta altura, já com o feitiço a começar a bater, eis que sobem ao palco seis convidados para cantar "I was trying to sleep when everyone woke up", segundo single, que de tão bonito apetece mandar-lhe piropos.  Foi então que me deu o badagaio do qual recuperei há momentos e sobre o resto só posso dizer o que me contaram: desespediu-se uma vez com "Don’t say hi if you don’t have time for a nice goodbye". Despediu-se a segunda vez com "Bontempi", uma das melhores da carreira — "seja lá o que isso for" — desabafou despretensiosamente. Regressou por fim para "47 seconds are enough if you only have one thing to do". Depois de tudo isto, sobrou encharcá-lo de palmas e 47 segundos não foram de perto suficientes. Resta esperar pela próxima e dizer-lhe: "enfeitiça-me que eu gosto, druida harmonioso". Fotografias por Vera Marmelo