Comer às escondidas em Lisboa

Lisboa é uma cidade multicultural. Quem cá mora já está habituado a dividir o bairro com vizinhos de todos os pontos do globo. Algumas destas famílias abrem as portas das suas casas, transformando-as num quase-restaurante — há mesas, há cadeiras, há toalhas, há pessoas a servir comida e no fim paga-se a conta.

Fui à aventura com o Markus Ley (Round Square) para conhecer melhor este fenómeno: os clandestinos — espaços onde a etiqueta de restaurante confunde-se com um grande banquete em casa de amigos. É barulhento, fuma-se no interior e, sobretudo, sai bastante em conta (no que diz respeito aos euros que tens no bolso). Só não esperes as mesmas condições que na casa dos teus amigos. Se as casa de banho de um restaurante são a melhor maneira de conhecer a cozinha, é melhor ignorares as dos clandestinos. Mas há excepções, claro. E ainda bem.

O Markus contou-me uma experiência num clandestino que lhe ficou na memória e que descreve bem a restauração clandestina: “Jantei na sala de estar, em mesas de plástico. Os miúdos brincavam normalmente e via-se televisão chinesa ao nosso lado. A família não parou de fazer a sua vida normal enquanto nós estávamos a jantar.”

Fomos ao chinês do Largo da Severa, em Lisboa, onde fomos recebidos por uma sinalética enganadora: Associação de Emigrantes Estrangeiros — talvez seja para tentar confundir as autoridades. Segundo o Markus, a cozinha é óptima: “Comida da China completamente diferente do

fast-food

asiático que temos nos outros cantos da cidade.”

Existem três conselhos essenciais para este clandestino. O primeiro é pedir sempre um prato a menos do que o número de pessoas (sem contar com o arroz xau xau) — a dose é larga e costuma sobrar. Outro conselho: partilha a comida irmãmente. Aproveita para experimentar coisas novas, ir a um clandestino “é uma oportunidade para descobrir paladares diferentes. Quando vais a um sítio destes, não vais só comer barato, vais ter uma experiência diferente”. Por último: prova o prato da casa, a beringela assada, e não te vais arrepender.

Há outras aventuras, outros clandestinos por explorar. Estes restaurantes são para ser descobertos. Existem muitas casas que ninguém conhece, maioritariamente asiáticas, geralmente na Mouraria, e africanos, como o de São Bento. Há que descobrir os sabores originais.

Fotografia por Inês Henriques

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