Seja por causa do gasto excessivo de água ou por causa do uso indiscriminado de pesticidas, é de conhecimento geral que o cultivo de maconha — seja ele legal ou não — não é sustentável. E agora vem a má nova: um novo estudo publicado na revista Frontiers in Ecology and the Environment mostra que, ao menos com base em alguns parâmetros, a prática pode ser pior para o meio ambiente do que a extração de madeira.Ao comparar dados geográficos da área norte da Califórnia, nos EUA, reunidos entre 2000 e 2013, os pesquisadores descobriram que, embora o impacto geral da extração de madeira seja maior, o cultivo ilegal de maconha pode ser ainda mais destrutivo. Isso acontece porque a maioria das plantações ilegais de maconha tem tamanhos e formatos irregulares e é cultivada aleatoriamente no meio de florestas.Assim, diferentemente da extração madeireira, que costuma ocorrer em áreas grandes e limpas localizadas nos limites desses ecossistemas, o cultivo ilegal de cannabis ameaça a parte mais vulnerável de uma floresta: seu núcleo.O núcleo de uma floresta abriga muitas espécies de plantas e animais. Como ela é cercada por mata fechada, é protegida de ventos fortes, radiação solar e evaporação. O núcleo florestal é um local fresco, úmido e sombreado — resumindo, um lugar ideal para animais silvestres viverem e se esconderem. É exatamente por causa dessas características que os cultivadores de maconha elegeram o núcleo das florestas californianas como seu esconderijo — e é aí que os danos ambientais começam a superar os da extração madeireira.Wang também me disse que essas florestas, localizadas no famoso Triângulo da Esmeralda — por décadas a região com a maior produção de maconha do país — abrigam várias espécies ameaçadas de extinção, entre elas a coruja-pintada do norte, o salmão prateado e a marta de Humboldt. Como os dados usados na pesquisa só vão até 2013, ainda não se sabe qual será o impacto da legalização do uso recreativo da maconha, que terá início no dia primeiro de janeiro de 2018, nessas plantações clandestinas. A esperança é que a legalização da maconha irá eliminar a demanda por plantações clandestinas e permitir que produtores regularizados ocupem seu lugar. No entanto, não foi isso que aconteceu quando a Califórnia legalizou o uso medicinal da maconha nos anos 90.Wang e seus colegas estão começando a estudar dados mais recentes em busca de respostas, mas por enquanto ele mantém sua opinião de que, caso os produtores regularizados parem de abrir buracos no meio das florestas, o impacto da legalização será positivo.
"Mas se esse tipo de produção de cannabis continuar a crescer", acrescentou ele, "o impacto será cada vez maior".Leia mais matérias de ciência e tecnologia no canal MOTHERBOARD.
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"As plantações ilegais de maconha formam pequenas clareiras no meio da floresta, enquanto a extração de madeira desmata áreas maiores localizadas nas bordas da floresta", explica Ian Wang, autor principal do estudo e professor assistente de ciências ambientais, diretrizes e gestão da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos EUA. "Assim, as plantações de cannabis deixam a floresta parecendo um queijo suíço, o que é mais prejudicial para as espécies que dependem de grandes áreas de mata fechada para sobreviver".Como os dados usados na pesquisa só vão até 2013, ainda não se sabe qual será o impacto da legalização do uso recreativo da maconha, que terá início no dia primeiro de janeiro de 2018, nessas plantações clandestinas
"Mas se esse tipo de produção de cannabis continuar a crescer", acrescentou ele, "o impacto será cada vez maior".Leia mais matérias de ciência e tecnologia no canal MOTHERBOARD.
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