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O documentário sobre a adolescência feminina mais honesto de sempre

O primeiro filme de Jenny Gage e Tom Betterton," All This Panic", acompanha o crescimento de sete raparigas de Nova Iorque. Uma visão rara e sem filtro do que é ser jovem, mulher e tentar encontrar um lugar no Mundo.
Imagem de "All This Panic". Cortesia Tribeca Film Festival

Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma i-D.

All This Panic, é o primeiro documentário realizado pelos fotógrafos Jenny Gage e Tom Betterton e acaba de estrear no Festival de Cinema de Tribeca. Foi gravado ao longo de três anos e meio e filmado, literalmente, quase em cima das personagens - enquanto falam nos seus quartos e andam de braço dado pelas ruas da cidade. O filme acompanha sete raparigas enquanto crescem, sonham, discutem, bebem, curtem, fazem planos e tentam perceber o que o futuro lhes reserva.

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As personagens centrais, Dusty e Ginger, viviam na mesma rua de Gage e Betterton, em Brooklyn, Nova Iorque. "Costumávamos vê-las a irem para a escola. Num dia tinham o cabelo cor-de-rosa, no dia seguinte já era verde. Fez-me recordar aquela altura da minha vida. É uma época de transformação verdadeiramente importante. Acontecem imensas coisas e a uma velocidade incrível", lembra a realizadora.

Os autores do filme têm também eles uma filha e, durante anos, trabalharam como fotógrafos de moda, para revistas como a Vanity Fair, ou a Italian Vogue, mas, para este projecto, tinham uma certeza: queriam captar a vida destas raparigas e das suas amigas com movimento e som. "Ocasionalmente tirávamos-lhes fotografias, só para as termos. Mas o que queríamos mesmo era ouvir-lhes a voz. Era preciso que elas participassem, de uma forma em que contassem as suas próprias histórias", explica Gage.

i-D: Como é que começaram a dar forma a três anos e meio de filmagens para tornar tudo em algo coeso?

Tom: Tínhamos mais ou menos 130 ou 140 horas de gravações. Foi um processo realmente interessante. Chamámos para a equipa um editor de histórias super talentoso, que nos acompanhou no visionamento. À medida que íamos avançando, íamos tomando notas sobre o que achávamos que estava a acontecer com cada uma das personagens e íamos juntando isso nos seus respectivos arcos temporais. Foi engraçado perceber, depois, que todas as pequenas coisas que pareciam importantes para as raparigas, e até para nós, nessa altura, acabaram por se desvanecer quando três anos e meio mais tarde olhámos para uma perspectiva geral desses arcos individuais. Isso deu-nos uma vantagem interessante para conseguirmos criar a coesão.

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Imagem de "All This Panic". Cortesia Tribeca Film Festival

As raparigas tiveram uma reacção semelhante quando viram a versão final do filme?

Jenny: Nunca lhes mostrámos nada até termos uma primeira versão final. Não faziam ideia. Isso deixou-nos bastante nervosos. Mas todas elas adoraram o filme e apoiaram-nos sem reservas. Como diz o Tom, uma coisa engraçada é que muitos dos momentos que elas achavam que iam estar no filme, afinal não estavam. Pensariam que estariam coisas do género, a primeira vez que se embebedaram, ou algo assim. Mas, na verdade, nós estávamos muito mais interessados naqueles momentos entre determinadas situações e naquilo que estava a passar-se nos seus mundos interiores.

Algumas vez sentiram que elas estivessem a representar um ideal de adolescente, mais do que estarem a ser elas próprias?

Tom: Houve alturas em que claramente conseguias ver que elas tinham estado a pensar "tenho aqui uma grande história", ensaiavam-na e faziam-na acontecer como se se tratasse de uma performance. Deixávamos que isso acontecesse,ams depois tentávamos direccionar a coisa noutro sentido. Tentávamos cansá-las e deixá-las num estado em que já não tivessem vontade de actuar e voltassem a ser elas.

Antes de ver o filme, supus que as miúdas fossem de alguma forma mais duras, por terem crescido em Nova Iorque, mas isso não é, de todo, o que o filme acaba por transmitir.

Jenny: Também pensei que elas fossem mais duras. Depois percebi que há imensas coisas relacionadas com o crescimento que são universais. Não interessa onde cresces. Sempre disse que fazer este filme era como escrever uma carta de amor às raparigas adolescentes. Sinto que essa altura da vida de uma rapariga é tão especial e tão frequentemente subvalorizada. Fico muito contente que elas agora tenham este diário desta época das suas vidas.

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Testemunharam alguns momentos bastante complicados nas vidas delas. Alguma vez intervieram quando as coisas não estavam a correr bem?

Jenny: Foi difícil com a Lena e a Ginger, em particular. Lena vivia uma situações em que estava a ficar sem casa e os pais de ambas tiveram conflitos muito graves. Ocasionalmente, sim, ajudámo-las. E a Ginger continuamos a ajudar [na sua tentativa de seguir uma carreira no mundo da representação, depois de terminar o Liceu]. Na minha perspectiva de mulher mais velha, olho para ela e para a sua vida e sei que vai correr bem; é difícil, mas acabas por perceber quem és, segues a tua vida com as coisas boas e deixas as más para trás. Estas raparigas foram uma autêntica inspiração e acho mesmo que vão todas acabar por fazer coisas espectaculares.

O que é que acham que é realmente único no facto de se crescer em 2016, comparando com quando vocês eram adolescentes?

Tom: O processo é o mesmo. O que se passa é que parece que agora o volume foi posto muito mais alto. Tudo é mais intenso para eles. Em vez de andares apenas com alguns amigos e olhares para o espelho e não teres a certeza se gostas do que vês, agora tens as redes sociais e estás a olhar para ti próprio no Instagram e no Snapchat.

Imagem de "All This Panic". Cortesia Tribeca Film Festival

Tom, como alguém que nunca foi uma rapariga adolescente, o que é que te surpreendeu mais durante as filmagens?

Tom: Para começar, o quão abertas elas eram. O quão destemidas e seguras eram. Sem combinarem nada umas com as outras, todas, individualmente, disseram-nos que estavam dispostas a fazer tudo, menos falar negativamente umas das outras. Elas realizaram essa parte do filme. Não teríamos qualquer hipótese de realizar um filme em que elas estivessem sempre em guerra umas com as outras.

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Como é que foi testemunhar as suas conversas privadas de uma forma tão fisicamente próxima?

Tom: Decidimos filmar neste estilo extremamente íntimo. Não havia lentes de zoom, por isso, se queríamos um plano aproximado tínhamos de estar mesmo a dois palmos da cara delas. Foi algo completamente intencional. Como homem, fui de certeza o único a corar em determinadas alturas. Disso não tenho dúvidas.

Foi, entre outras, uma forma de fazermos mesmo parte do Mundo delas. Nunca tinha visto um filme ser feita da forma como fizemos este e isso também me deixou nervoso e sem saber se chegaríamos ao final dos mais de três anos e conseguir montar tudo.

O que é que mudou na vida das raparigas dede o final das filmagens?

Jenny: A Lena e a Olivia estavam na Universidade quando terminámos as filmagens e ainda estão. A Olivia ainda está com a sua namorada. A Lena está com o rapaz com quem a vemos na última cena, precisamente na faculdade. A Ginger também ainda está com a sua namorada. A Delia e a Dusty ainda não têm namorados! A Ivy acabou com o Gabe, mas está a viver no Lower East Side e a trabalhar. Nas sessões de perguntas e respostas sobre o filme, a Ginger também tem dito sempre que está a trabalhar, o que deixa o pai dela muito satisfeito.