A PM bombardeou violentamente o final do ato "Fora, Temer" em SP
A Tropa de Choque dispersando o ato "Fora, Temer" do último domingo (4). Foto: Felipe Larozza/ VICE

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A PM bombardeou violentamente o final do ato "Fora, Temer" em SP

Vinte e seis jovens foram presos e, pelo menos, três jornalistas ficaram feridos.

O som do forró risca faca, típico dos bares e botecos na região do Largo da Batata, em São Paulo, foi obstruído pela gritaria e pelo som das bombas de gás lacrimogêneo arremessadas pela Polícia Militar (PM) para dispersar o ato "Fora, Temer" no último domingo (4). Balas de borracha e jatos d'água também foram utilizados pelos policiais, fazendo com que a multidão corresse apavorada.

Mais uma vez, jornalistas foram alvejados pelos PMs: o repórter da BBC, Felipe Souza, foi chamado de "lixo" e recebeu golpes de cassetete (assista ao vídeo). O fotógrafo Maurício Camargo, da Agência Eleven Fotojornalismo, levou um tiro de bala de borracha na perna. O também fotógrafo Weslei Barba teve ferimentos na cabeça após ser atingido por estilhaços de bomba. Vinte e seis jovens que se reuniam no Centro Cultural São Paulo, a dois quilômetros da Av. Paulista, foram detidos antes mesmo de a manifestação começar, sob suspeita de serem black blocs.

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Vinte e seis jovens foram detidos antes mesmo de a manifestação começar.

Manifestantes durante o ato "Fora, Temer" do último domingo (4). Foto: Felipe Larozza/ VICE

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP) justificou que a repressão policial foi motivada por "vândalos" que "quebraram catracas" no metrô.

Leia a nota da Secretaria de Segurança Pública na íntegra:

"A SSP informa que, após os organizadores encerrarem a manifestação, houve um princípio de tumulto na Estação Faria Lima do Metrô, que se transformou em depredação. Vândalos quebraram catracas, colocando em risco funcionários. A Polícia Militar atuou para restabelecer a ordem pública, sendo recebida a pedradas, intervindo com munição química e utilização de jato d'água."

A VICE entrou em contato com a ViaQuatro, empresa responsável pela linha amarela do metrô, que confirmou que uma lixeira, uma catraca e uma luminária foram depredadas, porém não sabem precisar se isto aconteceu antes ou depois da polícia agir.

Manifestantes no ato "Fora, Temer" do último domingo (4). Foto: Felipe Larozza/ VICE

Durou mais de quatro horas o protesto convocado pelas Frente Brasil Popular e organização Povo sem Medo, cuja concentração se deu na Avenida Paulista. Idosos e crianças engrossavam o coro, que todo o tempo clamava: "Fora, Temer". Organizações como a CUT (Central Única dos Trabalhadores), MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), Levante Popular da Juventude e filiados do PT (Partido dos Trabalhadores) também marcaram presença, além de políticos como Eduardo Suplicy, a candidata a prefeitura de São Paulo, Luiza Erundina (PSOL), e seu vice, Ivan Valente, do mesmo partido.

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"Temer golpista / enterrado na Paulista", cantavam manifestantes que carregavam um caixão com um boneco do atual presidente, Michel Temer. No final do ato, o caixão foi queimado.

Manifestantes no ato "Fora, Temer" do último domingo (4). Foto: Felipe Larozza/ VICE

De acordo com a organização, mais de 100 mil pessoas estiveram no protesto. Até a conclusão desta reportagem, a PM não havia respondido a estimativa de presentes.

De acordo com a organização, mais de 100 mil pessoas estiveram no protesto.

O trajeto passou pelas avenidas Rebouças e Faria Lima até chegar no Largo da Batata, região oeste da cidade, por volta das 20h30. Depois de anunciar o final do ato, os organizadores pediram para que todos dispersassem com calma. De repente, um corre-corre prenunciou o que estava porvir: mais uma vez, a Polícia Militar dispersou o ato violentamente, sem que a maioria das pessoas sequer entendesse o que havia acontecido.

A PM dispersando manifestantes no ato "Fora, Temer" com jatos d'água. Foto: Felipe Larozza/ VICE

Entre os manifestantes, crianças e idosos corriam das bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo, balas de borracha e jatos d'água. Os bares da região ficaram abarrotados de gente passando mal. Quem estava por lá bebendo cerveja também se assustou. No desespero, garrafas e copos caíam no chão enquanto algumas pessoas xingavam a polícia. Outras ofereciam vinagre e leite de magnésia para aplacar o mal estar causado pelos efeitos do gás.

Manifestantes, crianças e idosos corriam das bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo, balas de borracha e jatos d'água.

Alguns manifestantes arremessaram garrafas de vidro em direção aos policiais.

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A Tropa de Choque detendo um manifestante. Foto: Felipe Larozza/ VICE

Uma mulher passou mal dentro de um ônibus e teve de ser socorrida pelos passageiros.

"A polícia está atirando na gente, por mais que nos identifiquemos", lamenta o fotógrafo Maurício Camargo.

Usando um capacete azul com os dizeres "Imprensa", crachá de identificação e câmera fotográfica na mão, o fotógrafo Maurício Camargo afirma ter ouvido dos policiais para que saísse de perto. Ele avisou que era da imprensa. Não adiantou. Novamente, os policiais pediram para que ele se afastasse. "Sair pra onde? Vou subir na parede?", indignou-se. Quando correu, tentando se proteger, levou um tiro na parte de trás da perna esquerda. "A polícia está atirando na gente, por mais que nos identifiquemos," lamenta o profissional, que cobre manifestações desde as Jornadas de Junho, em 2013.

A PM dispersou os manifestantes com bombas de gás, balas de borracha e jatos d'água. Foto: Felipe Larozza/ VICE

Segundo relatos, os vinte e seis jovens presos tiveram problemas para se comunicar com advogados e familiares. Eles supostamente foram cercados por policiais, que os acusaram de transportar pedras nas mochilas – informação negada pelos jovens. A Ponte Jornalismo divulgou fotos do momento de abordagem.

Em nota, a SSP afirma que 16 deles foram indiciados por associação criminosa "carregando máscaras, pedras, um celular roubado e diversos objetos utilizados em atos de vandalismo". Os outros 10 são menores de idade. "Eles irão responder por ato infracional versando sobre associação criminosa", afirma o comunicado.

Policiais em ação no ato "Fora, Temer" do último domingo (4). Foto: Felipe Larozza/ VICE

Nas redes sociais, manifestantes demonstraram indignação com a cobertura feita pela grande imprensa, que não teria dado a devida atenção à manifestação – que foi pacífica todo o tempo –, dando destaque apenas ao tumulto no final, e sem responsabilizar a PM.

Na próxima quarta (7), um novo protesto está agendado para acontecer na Praça da Sé, às 14h.

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