​O rolimã virou esporte olímpico no Paraná
Em Ponta Grossa, carrinho de rolamento é coisa séria. Crédito: José Tramontin

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​O rolimã virou esporte olímpico no Paraná

Em Ponta Grossa, carrinho de rolamento é coisa séria.

Na manhã do domingo de 11 de setembro, o céu já dava sinais de que o dia ia ser quente na avenida Visconde de Taunay, no município de Ponta Grossa, no Paraná. Começavam a chegar kombis, picapes, carros e até um caminhão para o grande evento do dia. Mauro Fernandes, de 48 anos, um dos primeiros comparecer, era quem liderava a equipe de 15 pessoas, entre eles sua esposa e filhos, que montava rampas, barracas, ponto de observação, recuos, som e o que mais uma corrida de rolimã de verdade precisa.

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Organizador dos eventos de carrinhos de rolamento da cidade, Fernandes se orgulha de ser um dos principais responsáveis por ter tornado Ponta Grossa, lugar com pouco mais de 300 mil habitantes, o pólo nacional do rolimã competitivo. É, segundo ele, o único lugar do Brasil em que existe um campeonato da modalidade todo mês.

Crédito: José Tramontin

Naquele dia, Fernandes, ansioso, preparava a competição que seria uma das mais bonitas da cidade e que, já pelo nome, mostrava toda sua importância: "1ª Olimpíada dos Rolimãs". O evento, na verdade, era apenas mais uma fase do torneio anual promovido no município, mas, como é ano de Olimpíadas, pegou carona no momento. Ajudou a motivar os competidores e, claro, trouxe mais interesse do público. (Pois é, o marketing também move as engrenagens do rolimã, amigão.)

O início da cena do rolimã em Ponta Grossa, diz Fernandes, foi meio por acaso – por causa de uma discussão conjugal, a bem dizer. Na época, Fernandes tinha 6 carrinhos encostados em casa. Sua esposa, que não aguentava mais o entulho, pedia para que os jogasse fora. Ele, apaixonado pelos veículos, se recusava. Cansada das negativas, a esposa então perguntou por que não organizar uma corrida com aqueles carrinhos. "Foi esse o estalo que fez a ideia surgir", diz Fernandes ao VICE Sports. "Desde então a família toda tem ajudado."

Crédito: José Tramontin

Nas Olimpíadas foram 70 pilotos competindo em 8 categorias. Durante o dia, além das descidas semi-suicidas tradicionais, teve espaço para disputas de street sled – em que o piloto desce deitado de barriga para baixo –, descidas de longboard e de patins inline. A novidade, contou Fernandes, ficou com as categorias "olímpicas" de Revezamento de Carrinho e Passagem de Bastão, que, para os participantes, foram muito mais engraçadas do que competitivas.

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O clima era de domingo no parque. Teve churrasqueira e cerveja, música alta e crianças correndo próximas às tendas de manutenção dos carrinhos. Os próprios competidores se sacaneavam na brincadeira, mas isso ficava reservado ao lado de fora da corrida. Por mais que o clima fosse descontraído, aquilo ainda era uma competição. A estimativa de público ficou em torno de 600 pessoas, número que, segundo a organização, seria ainda maior se não fosse o calor.

Maioria no evento, os quarentões tratam a modalidade como se fosse um esporte radical. Ao longo do 1,2 km de descida, os carrinhos atingem velocidades acima de 80 km/h. "Cada descida é adrenalina. Você chega lá em cima tremendo e desce do carrinho tremendo também", comentou o mecânico eletricista Luciano Damico, de 41 anos. Orgulhoso, ele reivindica para si o recorde de velocidade na categoria "Força Livre", em que não existe limitação quanto ao tipo do carrinho ou rolamentos. "Atingi 97 km/h em 2015. Como estava chovendo nesse dia, acho que ajudou na descida", comentou.

Crédito: José Tramontin

Os números também são altos quando o assunto é preço. Embora não esconda a satisfação de competir no rolimã, Damico revela que a brincadeira pode atingir valores bastante altos. "No Caiaque (nome do seu carrinho) já gastei mais de 5 mil reais", diz. Depois de pensar um pouco, não contendo o riso, completa: "Para falar a verdade, já passou de 30 mil o que eu gastei com rolimã."

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Damico não é o único corredor de Ponta Grossa que se destaca fora de sua cidade. O empresário João Fidelis, de 42 anos, foi o vencedor do GP de carrinhos de rolimã da Poli-USP em junho deste ano. Os louros da vitória não vieram sem dificuldades. Acostumados com pistas retas, os pilotos de Ponta Grossa não estavam preparados para o trajeto do GP paulistano. "Em São Paulo você tem três curvas e três lombadas, então eu batia e não conseguia virar", contou.

Crédito: José Tramontin

O empresário também é dono do maior carrinho de rolimã de Ponta Grossa, o V8. "Ele acabou ganhando credibilidade pela velocidade, já chegou a atingir 100 km/h", conta, orgulhoso de sua criação de cinco metros e meio de comprimento e espaço para oito passageiros. "Ele era de uma categoria que deixou de existir, a de alegoria", completa.

Depois de 12 horas e aproximadamente 150 baterias de corrida, as Olimpíadas do Rolimã chegaram a seu fim. Os corredores ajudaram a guardar os equipamentos e a desmontar a festa. No fim do evento, Fernandes, o organizador, veio desabafar. "No começo me chamaram de velho, falaram para mim: 'você não tem idade para fazer isso'. Pois é, eu provei ao contrário, nós provamos ao contrário."

Uma vez tudo resolvido, Fernandes foi curtir uma pizza com a família e aproveitar um descanso que sempre dura pouco, afinal, no mês seguinte, tem mais descida competitiva.

Crédito: José Tramontin

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