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Conversei sobre Bolsonaro, Dilma, MPL e HQs com o Batman de Marechal Hermes

Eu sou Brasil.

Eron, o Batman de Marechal Hermes, ou Batman dos Protestos, em ato na Lapa no dia da abertura da Copa do Mundo. Todas as fotos são do Matias Maxx.

Apesar de entender perfeitamente aonde ele quis chegar e o que queria provocar, sempre achei o John Lennon muito equivocado naquela frase "os Beatles são mais populares do que Jesus". Se tem alguém que, já naquela época, era mais popular do que Cristo, pelo menos no "mundo ocidental", esse cara é o Batman. Introduzida em 1939, a história do menino traumatizado pela morte dos pais que se torna um vigilante foi contada diversas vezes em diversos formatos. Décadas após décadas, cada novo quadrinho, filme ou série do Batman trouxe novas personalidades e roupagem ao personagem, que não mede esforços para promover a justiça, desmantelando tretas intergalácticas com a ajuda da Liga da Justiça ou simplesmente espancando e pendurando de cabeça pra baixo uns trombadinhas nos becos de Gotham City.

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Tamanha popularidade do personagem já influenciou muita coisa esquisita no Rio de Janeiro, desde uma escultura com sua logomarca num túnel da estação de metrô Cardeal Arcoverde, em Copacabana, até a adoção de sua marca por uma milícia formada por ex-policiais militares que controla parte da Zona Oeste carioca. Nada mais natural que surjam também uns caras vestidos de Batman por aí, num esquema similar ao imaginado pelo Frank Miller em O Cavaleiro das Trevas. No meio das Jornadas de Junho, no Rio de Janeiro, surgiu o "Batman das Manifestações", apelido adotado por Eron Morais de Melo, protético, 33 anos e morador de Marechal Hermes. Sempre atento às câmeras, Eron teve fotos publicadas em jornais de todo o mundo, e ele mesmo foi notícia em 2013 ao ser preso por estar mascarado num ato contra a proibição das máscaras. Mais recentemente, ele voltou aos noticiários e blogs ao ser expulso dum ato contra o aumento das tarifas deste ano. Geral ficou enfurecida, pois, no final de 2014, ele participou de um ato "Fora Dilma" e tirou foto com ninguém menos do que o polêmico Jair Bolsonaro.

Resolvi encontrar com ele e conversar sobre essas tretas – além de histórias em quadrinhos, claro.

VICE: Me explica como começou esse fascínio pelo Batman.
Eron Morais de Melo: Bem, eu sou nerd mesmo, gosto de quadrinhos e desenhos animados. Meu fascínio pelos heróis sempre foi um hobby. Parei de contar quantos gibis tenho em casa quando cheguei aos dois mil, mas continuei comprando: coleciono umas miniaturas. É um hobby saudável, nada fanático. Chegava carnaval, eu botava fantasia de herói por zoação; inclusive, eu já participei de vários eventos de anime como cosplay. Antes do Batman, já fui Wolverine, Capitão América, Homem de Ferro. Então, pra mim, era tecnicamente um hobby, nada mais que isso, uma diversão mesmo. A questão dos protestos foi outra coisa. Quando começaram as manifestações em junho de 2013, uma das que mais me chamou a atenção foi aquela na Quinta da Boa Vista, na época da Copa das Confederações. Houve truculência da polícia, que começou a jogar bomba. Depois, houve a invasão da Alerj, e vi que a população estava se revoltando contra aquilo que estava acontecendo no país, ainda acontece e está acontecendo agora em escala pior.

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No dia 20 de junho, eu queria mostrar minha revolta contra essa corrupção toda e todo esse desgoverno e má administração pública. Aí decidi: "Vou pra lá, mas não quero simplesmente ser mais um na multidão e simplesmente segurar uma plaquinha ou um cartaz. Quero poder lançar uma mensagem, quero poder contribuir com algo mais. Mas como é que eu vou fazer para ser ouvido ou percebido?". O que me deu a ideia do Batman foi justamente a capa do evento do Facebook, que chamava para a manifestação, que tinha uma imagem do prefeito Eduardo Paes caricaturado como o Coringa. Pensei: "Porra. Se ele é o Coringa, eu sou o Batman, acabou". O Batman é um herói que é humano, não tem poderes: qualquer um pode ser o Batman. A ideia do Batman é justamente inspirar as pessoas a lutar contra o que acontece em Gotham City, que é uma cidade corrupta e violenta, tudo a ver com o Brasil e o Rio de Janeiro. As pessoas, quando veem o Batman, pensam na luta contra a corrupção, a luta pela justiça – é um personagem que já está no nosso imaginário cultural. Então, é o personagem perfeito para utilizar nisso, mas nada tem a ver com infância reprimida. Tem a ver com uma estratégia para chamar atenção – e chamou, né? Deu certo.

Como bom fã de quadrinhos, o Eron tem a manha de posar para fotos estilo "Gotham City tropical".

Você mesmo é quem faz as fantasias?
É. Tenho várias, porque sua, rasga. Tudo eu que faço mesmo. Tem vários tipos de máscara. As que eu uso no protesto são umas de látex que comprei na internet. São mais fáceis de transportar. Tenho outras que eu mesmo confeccionei que até são mais resistentes. Se bem que, se você for reparar, no dia que eu fui preso lá no camburão era uma máscara dessas, diferenciada, mais rígida; inclusive, até doei ela pro pessoal da Batmania Rio, porque ficou pra história, né? "A máscara que o Batman usou quando foi preso."

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Quando vi aquela foto, eu me lembrei na hora do Batman Ano Um, em que a polícia de Gotham fica tentando prender o Batman. Eles não conseguiram, mas a PMERJ, sim!
Foi bem emblemático, serviu bem para ridicularizar aquela lei estúpida de que não podia usar máscara nas manifestações. Não lembro se foi no dia 24 de setembro… fui detido, né? Quarenta e cinco minutos depois, eu voltei.

O processo foi arquivado?
Foi arquivado. É um crime ser o Batman? Nem compareci depois, seria perda de tempo pra mim e pros policiais.

Qual seu filme favorito do Batman?
Você está falando em filme ou vale também animação?

Tem muitos Batmans. Um tem uma linha mais educacional; outro tem uma linha um pouco mais diferenciada de vigilante; o outro, de cuidar das crianças, dos enfermos. A minha é ir aos protestos e incentivar as pessoas a lutarem pelos seus direitos.

Vale tudo!
Pra mim, a melhor animação do Batman, que é um clássico, é o Cavaleiro das Trevas parte um e dois, que é inspirado na HQ do Frank Miller. Embora eu tenha gostado de vários outros desenhos do Batman, pra mim é esse. O Batman velho… ele retorna, tem de enfrentar o Coringa e o acaba matando; depois, ele enfrenta o Super-Homem, enfrenta o governo; ele é perseguido pela polícia, cassado pelo governo. A história foi escrita na época em que ainda havia aquela visão da Guerra Fria [Nota do editor: na verdade, a HQ foi lançada em 1986]; então, os americanos tinham aquela coisa bem expansionista e consideravam o Batman subversivo, contra a lei e a ordem. Achei aquilo fantástico. Agora, de filme, tirando animação, é a triologia do Nolan mesmo. Pô, The Dark Knight é o melhor Batman mesmo.

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No dia 17, lá na Alerj, em vários momentos eu tinha uma sensação de que estava nas páginas de O Cavaleiro das Trevas ou mesmo nas do Watchmen
Pô, quando começou a cassação das máscaras, me lembrei muito de Guerra Civil, da Marvel: esse lance de o governo não aceitar mais os mascarados. Lembra muito. E esse foi um dos quadrinhos que eu mais gostei, e eu ficava do lado do Capitão América, pois justamente, por incrível que pareça, ele foi contra o governo. Pô! Caraca, justamente o cara que eu achei que ia ser a favor, foi contra: ficou aquele racha entre Capitão América e o Homem de Ferro. E, aqui, a prisão do Batman me lembrou muito essa série.

Lembro que você compartilhou o vídeo daquele Batman do Capão Redondo. Você já teve contato com ele?
Aquele Batman é um estilo diferente, né? Não conheço ele não, nem sei. Adiciono tanta gente no Facebook que pode ser até que eu tenha ele. O estilo do Batman dele é um pouco diferenciado; se não me engano, ele faz parte de um grupo chamado "Loucos pela Paz". Aí ele faz uns protestos e tal, age meio como um vigilante, mas não tem muito a mesma linha que eu uso. Até porque tem muitos Batmans. Se você for pesquisar, tem o Batman de Taubaté, que eu conheço: é o Andy Trevisan. Ele faz muitos trabalhos sociais como Batman em Taubaté. O pessoal da polícia chama ele pra fazer palestras com as crianças, incentivando os bons costumes, tentando evitar que as crianças vão para um caminho obscuro. Tem esse Batman de São Paulo aí também que prendeu o cara que roubou ele mesmo; aí foi tranquilo, né? E tem um Batman em Santa Catarina também que trabalha indo em hospitais de câncer, inspirando as crianças, num trabalho que eu acho fantástico. Gostaria um dia de poder realizar também. Então, um tem uma linha mais educacional; outro tem uma linha um pouco mais diferenciada de vigilante; o outro, de cuidar das crianças, dos enfermos. A minha é ir aos protestos e incentivar as pessoas a lutarem pelos seus direitos.

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E você está assistindo à série Gotham?
Cara, não estou assistindo, apesar de que está todo mundo falando muito bem. Até comecei a assistir ao Arrow, do Arqueiro Verde, mas aí minha vida tá muito corrida; então, tô perdendo Flash, tô perdendo Arqueiro, Gotham: quase não tô vendo nada. Mas dizem que a série é muito ótima. Eu pego muito do Batman dos longas-metragens de animação: O filho do Batman, eu gostei muito; o Batman contra o Capuz Vermelho; vários outros, mas série é mais complicado acompanhar.

E de graphic novel? Qual a sua favorita? O Cavaleiro das Trevas mesmo?
Cara, tem várias… tem uma do X-Men que eu gostei muito, achei muito show de bola: se chama Crise de uma Raça, que inspirou o filme X-Men 2, e é sobre um fanático religioso, o William Stryker, que dizia que os mutantes eram do demônio. Sempre fui muito fã de quadrinhos. Gosto muito do Wolverine, tenho todas as revistas dele. Acho que é o herói da Marvel que eu mais gosto. E gosto muito das sagas também: atualmente, tenho acompanhado muito a Injustice, que é do Batman contra o Super-Homem, que tá rolando e é muito show de bola. Vale a pena ver, é inspirado no game que saiu pra Playstation chamado Injustice: recomendo, tanto a história quanto o jogo.

Se você pudesse escolher ser um herói, qual você seria? Batman? Wolverine ou Super-homem?
(risos) É complicado essa parada…

Batman mostra seus passinhos de funk em ato de professores grevistas.

O poder do Super-Homem ou a conta bancária do Batman?
Vamos lá… vamos nerdiar… gosto do Batman, porque ele não tem poderes: ele ser humano é o que faz a diferença. Vou até fazer uma ressalva, só saindo aqui e dando uma pulada pro mundo real. Tenho muitos heróis que gosto na ficção, mas tem um herói que eu gosto do mundo real. Me inspirei nele, que tem muitas frases e palestras fortíssimas, que é o Martin Luther King. Considero ele um herói de exemplo: quem conhecer a história dele, de lutar pelos direitos civis dos negros, por manifestações pacíficas, mas que botou milhões de pessoas nas ruas… ele tem vários discursos que… "Nós não devemos ficar calados contra o mal, temos que protestar": foi fantástico isso. Agora, de poderes, tem um poder que eu gosto muito, que eu acho muito show de bola, que é da regeneração e do não envelhecimento do Wolverine. Se tivesse um poder que eu pudesse ter… sei lá, esse lance de ser indestrutível e voar, o caralho a quatro, é muita viagem na maionese, mas se pudesse ter o poder de tomar um tiro e regenerar, aquele lance meio Highlander… caraca, Highlander foi da antiga! Tô ficando velho! Mas esse poder eu gostaria… ah, e a conta bancária do Bruce Wayne, porque tá foda!

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Uma vez, eu estava trocando uma ideia com o Carlos D, que faz a performance do Batman Pobre, e ele disse algo muito interessante: que o único poder do Batman é ser rico e que, se você tirar a grana dele, ele se fode.
Pô! Eu discordo! Desculpa, Carlos, vou discordar radicalmente de você: se você estiver falando do Tony Stark, eu posso concordar. Porque ele, sem a armadura do Homem de Ferro, é um bosta, é um merda; ele, sem dinheiro e, por consequência, sem a armadura, é um merda; agora, o Batman, não. A grande vantagem é que não é o dinheiro ou a roupa que faz o Batman. O cara tem treinamento, é inteligente pra caralho, luta pra cacete; se você for ver, ele não tem uma pica de uma armadura que voa, nem arma de fogo ele usa. Ele é basicamente um ninja, tem treinamento ninja, domina trocentas artes marciais; então, se você pegar o Bruce Wayne e jogar na selva, ele se vira; se você jogar o Tony Stark, ele tá fudido. Então, se você falar assim do Homem de Ferro, eu concordo; mas o Batman, não: ele é muito além do dinheiro. Tanto que, uma vez, eu tava com uns colegas nerds discutindo "Qualquer outra pessoa pode ser o Batman", e eu digo "Mas justamente o que faz o Batman é o Bruce Wayne; a roupa sozinha, não. Se você botar a roupa do Batman, você vai ser o Batman? Porra nenhuma, vai tomar um coro ali bonito; então, ele, o Bruce Wayne por si só, ele já é foda: o Batman é só uniforme mesmo pra ele poder agir".

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Eu sou Brasil, acabou.

No filme mesmo, mostra uns caras se vestindo de Batman, dando tiro e levando um coro.
Tomam bola até do Batman mesmo… não é a roupa que faz o herói, é o conteúdo dele. Por isso, eu sacaneio o Homem de Ferro. Gosto muito dele, mas ele é um merda: Tony Stark leva porrada, não luta nada. Inclusive nerdiando mais, tem uns quadrinhos, um crossover DC vs. Marvel, em que o Batman dá um coro no Capitão América. Gosto disso demais, e olha que eu gosto do Capitão América. Mas o Batman, ele é foda demais.

Você tem também um canal no YouTube. O que você posta nele?
Em determinados momentos, fiz alguns vídeos; agora, tenho feito eles um pouco mais regularmente. Esses últimos agora foram vídeos um pouco mais incisivos, tentando direcionar um foco mais específico onde a gente tem de se concentrar, que é Brasília, Distrito Federal, esse desgoverno absurdo de Dilma Rousseff. Acho que 2015 é um ano em que a gente tem de se focar no governo do Brasil mesmo, que tá terrível.

O segundo ato contra o aumento das passagens, foi na mesma semana do atentado em Paris e o Batman JeSuischarlieou…

Antes de você ser expulso do ato das passagens, já tinham rolado umas discussões pelo Facebook, né?
Sempre fui coerente nas minhas posições. Quando fui pras ruas foi para protestar contra tudo que estava errado, tá? Sou apartidário, não tenho partido político preferencial; não sou filiado a nenhum, não tenho ligação politica com ninguém, sou um cidadão comum. Tanto que, nos atos de junho, em que o foco seria o aumento das passagens, no final das contas, a esmagadora maioria das placas que você via não tinha tanto a ver apenas com os vinte centavos: era muita coisa, as pessoas estavam revoltadas. Quando aquele um milhão foi pras ruas, eram pessoas comuns, que já estavam cansadas. Aí teve protestos contra PEC 37, contra a cura gay [sic], contra a corrupção, contra um monte de coisa; então, você reduzir a determinado ato contra a passagem, reduzir apenas a isso, é uma forma de perder o foco real do problema. Então, comecei a protestar, protestar, protestar, estar lá sempre quando eu via que a causa era justa. Apoiei a greve dos professores, apoiei a Aldeia Maracanã, estive em vários atos. Chegou nas eleições, é que começou a haver um racha entre alguns, pois eu sou contra o governo que tá aí. Ponto.

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No meu ponto de vista, porra, se todo mundo foi pra rua protestar contra o que estava aí, é ilógico você reeleger o que tá aí de novo. Pô, você foi contra a Copa do Mundo: quem foi que colocou a copa do mundo lá? Não foi o Governo Federal, PT e Dilma Rousseff? Tá reclamando e vai votar nos caras de novo? Porra, não tem lógica. Você tá contra a corrupção; olha aí, é Mensalão, é Petrolão, é o cacete a quatro. Vai colocar os mesmos caras no poder? Porra, você tá de sacanagem… tá reclamando de Cabral, você bota Pezão? Qual a lógica da coisa? Não tem lógica… primeiro turno: como eu não acreditava em ninguém, eu anulei. Nenhum deles me inspirava confiança, mas, no segundo turno, porra, não tem jeito: alguém vai entrar. Aí eu acho que a pessoa tem de parar pra pensar: do jeito que tá, tá uma merda; então, temos de mudar isso aí. A hora de mudar é essa, o jeito de mudar é esse. Não votei no Aécio Neves, eu votei contra a Dilma. Não gosto do cara, não me inspira confiança, mas, entre um grupo que já está aparelhado no poder e está aparelhando toda a máquina pública, já praticamente se perpetuando no poder, porra, troca essa merda. Não quero mais Dilma, não quero mais PT. Votei na primeira vez no Lula lá. Beleza. Na segunda vez, já não votei mais, e em Dilma eu nunca votei. Entendeu? Acho que tem de ter rotatividade de poder, rotatividade de autoridade. Porra, por mais que eu não goste do Aécio… não me interesso se ele é cheirador ou não. Nem sei se é; o pessoal que fala, né? Mas essa é a melhor arma pra eu tirar essa mulher do poder; depois, eu tiro ele, porra!! Em junho, teve aquela multidão, pessoas que visivelmente eram uma multidão, tinham várias filosofias políticas no meio: era o povo. Tanto que me lembro: em dia 20 de junho, nem bandeira de partido político foi aceita naquela porra. A bandeira que você via lá era a bandeira do Brasil. A luta é pelo Brasil; então, mais que justo a bandeira brasileira. Vinha pessoal com bandeirinha vermelhinha, o pessoal quebrava: aquilo ali era manifestação genuína. Sou cidadão brasileiro, ponto final: não sou direita nem esquerda. Eu sou Brasil, acabou. Vou concordar com o que é certo, e não com uma legenda de uma filosofia política. Aí hoje eu pergunto: quem é o verdadeiro traidor? Sou eu, que sempre fui contra a Dilma Rousseff, ou foi ela, que cortou seis milhões da educação?

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Então, alguns começaram a estranhar minha atitude. O que eu já fui ofendido e achincalhado pelo Facebook não tá no gibi; assim como chega elogio, chega crítica. Sou um cara muito educado: evito. Até com o velhinho do Leblon que me xingou eu fui educado. Dodô Brandão, o cara lá gritando, e em nenhum momento desrespeitei ele.

…acabando dando ruim pra ele, e ele foi expulso do ato por conta de ter tirado uma foto com o Bolsonaro num ato "Fora Dilma".

Nesse vídeo, achei engraçada a hora em que ele fala que o Batman é um símbolo do imperialismo americano e você fala "Porra! Quer discutir Batman comigo?"
O cara viajando na maionese… tinha uma outra tia lá meio pancada, mas o que acontece… então, um dia fui num ato contra a Dilma Roussef – sempre fui contra o Governo Federal. Porra, não traí ninguém –, estava lá o Bolsonaro, porque ele também é contra a Dilma. Não tenho nada contra o Bolsonaro: não concordo com tudo que ele fala, mas concordo com muita coisa. Ele pode falar eventualmente alguma bobagem, mas qual o político que nunca falou bobagem? Então, não demonizo ninguém, não idolatro. O cara tava lá contra a Dilma, eu tava também – e, porra, toda ajuda contra a Dilma é bem-vinda. Aí deram uma camisa com uma imagem do Capitão América com a cabeça dele, e eu achei legal o Batman com o Capitão América; então, tiramos uma foto, saiu até no jornal, mas o que temos em comum? Estamos contra a Dilma Rousseff. Depois, eu fui pro ato dos policiais mortos. Outra coisa: não vou generalizar, eu tenho de ser razoável: tem policial bandido, FDP? Tem. Tem policial corrupto? Tem. Mas tem policial bom também. Você vai dizer que todo mundo na corporação policial merece morrer de bala perdida? Acho uma sacanagem, porque o cara que mete o pau na polícia, na hora que o bandido bota uma arma na cara dele ou invade sua casa, o estúpido vai ligar pra um 190 ou ir à delegacia. Então, vamos parar de hipocrisia: sou contra abuso de autoridade, sou contra desvio de conduta, sou contra o mau policial. Mas os bons policiais que existem devem ser considerados sim e são importantes na sociedade. Realmente, o Rio de Janeiro vive uma crise de segurança pública por conta de corrupção policial, por culpa de lei frouxa. Sou a favor da redução da maioridade penal sim, acho que justiça tem de ser pra todos. Um garoto com 15, 16 anos sabe exatamente o que está fazendo. Não vem me dizer que não sabe, nada justifica esse cara roubar ou matar.

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Já que você tá falando nisso, e a pena de morte? Qual a sua opinião?
O Brasil tem muita coisa pra resolver, e acho que pena de morte não vai resolver o problema do país. Pena de morte como no caso do Sailson: o cara psicopata lá; pô, a gente até pensa, na indignação da gente, "Mata esse FDP!". Concordo: se pego um cara desses, não vou nem ter pena, mas acho que não é a solução. A pena de morte não vai resolver o caos. No Brasil, o que resolve são, em primeiro lugar, leis firmes, parar de regalia pra marginal. O cara rouba, mata, estupra e depois sai pra cometer o mesmo crime. Lógico que se precisa de uma reforma no sistema carcerário: tem que prender, mas apenas prender não resolve. Temos que investir em mais presídios, em sistemas de reabilitação pro cara ter o direito de sair daquela vida, cumprir a pena integralmente sim, mas ter a chance de sair daquela vida. E, se voltar a fazer de novo, vai pegar outra pena. Bonitinho. Mas não sou um cara radical, não acho que matar vai resolver. Agora, acho inadmissível um cara que mata várias pessoas pegar só trinta anos de cadeia… quero justiça, nem a mais nem a menos.

Poxa, o que que tem a ver o pobre do Bolsonaro com essa merda?

Voltando aos protestos. Você chegou a sofrer agressão da polícia em algum protesto desses?
Agressão mesmo eu tive foi ajudando os professores lá na Prefeitura. Veio o Batalhão de Choque, os caras foram truculentos mesmo. Sou contra isso, foi uma coisa totalmente desnecessária. Teve um que me empurrou com um escudo, aí eu me defendi, e o outro traiçoeiramente me acertou a cabeça por trás. Prestei queixa na época, pois abriu a cabeça, levei cinco pontos. Mas, sinceramente, não me estremeceu nem um pouco: fui sozinho ao Hospital Souza Aguiar, levei os pontos, voltei ao protesto e continuei indo firme e forte, sem medo nenhum.

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Batman em ato dos professores em greve, durante a Copa do Mundo.

E na vez em que você foi expulso? Você chegou a ficar machucado? Eu estava mais ou menos perto, mas não vi direito, pois muita gente entrou na frente: uns pra bater, outros pra ajudar, outros pra clicar.
Vamos lá: o que que levou os caras a quererem me agredir? Comecei a questionar o ato no próprio Facebook do ato. Botei lá: "Peraí, é manifestação popular? Qualquer pessoa pode ir, ou é manifestação partidária de esquerda?". Aí muita gente já começou a falar contra e a ofender, mas fui lá. Já sabia que teria algum problema, mas não imaginei que seria naquela proporção. Serviu pra essa máscara desse movimento cair: Passe Livre, esses que tão organizando, tô metendo o pau mesmo, porque o povo não pode ser manipulado. Eu mesmo acreditei em certo momento nesses movimentos.

Quando cheguei lá, começam a falar "Cadê o Bolsonaro?". Poxa, o que que tem a ver o pobre do Bolsonaro com essa merda? Pô, eles falam mais do Bolsonaro do que eu. Enche até o saco. Encontrei o cara duas vezes, não é meu amigo, sequer votei no cara. Aí começaram a me encher o saco e me chamar de fascista, querendo me expulsar do ato – aí a incoerência. Eu sou fascista, e eles me expulsam do ato? Cadê a democracia nesse negócio?Alguns começaram a me jogar garrafas d'água; outros, a querer me agredir; outros, querendo me atacar por trás. Aí eu fui, briguei; fui pra cima mesmo, porque eu não vou arregar de jeito nenhum. Sou contra a violência, mas sou macho o suficiente para me defender. Não vou aceitar nego botar a mão em mim; se botar, o pau canta: sou macho pra isso. Respeito todo mundo, mas exijo respeito. Se a rua é publica, se o ato é público, eu tenho direito. Aquilo demonstrou que o ato não é público, entendeu? Me chamaram de fascista, tentaram me agredir. Tenho de agradecer a muitos amigos de mídia alternativa que me defenderam, que evitaram o pior, pois estavam querendo me juntar na covardia. No final, a polícia ainda teve de fazer um cordão de isolamento na rua onde eu estava, pois eles poderiam tentar me agredir na hora de ir embora, ocorrer até um linchamento – ou seja, são pessoas que são radicais, fundamentalistas, antidemocráticos. Então, pra mim, aquilo ali só serviu para mostrar a verdadeira natureza desse movimento, que não é um movimento popular: até o Batman Pobre fez uma nota lá me defendendo, dizendo "Olha, não concordo com o Eron, mas ele tem direito de se manifestar".

É, foi lamentável mesmo.
Outra coisa muito tiro no pé é atacar a mídia: o repórter chega, tá lá… pô, é uma burrice: tem de usar pro teu lado. A mídia quer notícia, ponto. Então, se você quer se fazer ouvir… dei entrevista pra tudo que era mídia – e dava mesmo, não interessa se era Globo, SBT, se era o cara do YouTube, o cara que tem um bloguinho ali. Você tem que usar a mídia pra ser ouvido. Se você começa a atacar a mídia… numa reunião do IFCS que fui, da organização do segundo ato das passagens, expulsaram o rapaz que era do sindicato dos jornalistas e expulsaram uma menina da CBN. Por quê? Se você é movimento popular, se você tá lutando pelos direitos do povo, se você não tá fazendo nada de errado, por que você não pode deixar a mídia estar lá? Alguma coisa tem: eu nunca tive nada para esconder. Meu telefone foi grampeado pela polícia: eu fui investigado em inquérito, esse inquérito que prendeu a Sininho.

Você chegou a ser intimado para depor?
Não precisei depor, pois, graças a Deus, na minha conduta nunca tive problema. Fui preso, levei porrada, mas não fiz nada de errado nunca: era só um cidadão lutando por seus direitos; por isso, nunca tive problema com esse lance de grampear ou não grampear. Tô aqui pra dar a cara a tapa; então, atacar a mídia é a maior burrice. Que nem numa época: "Ato contra a imprensa terrorista e fascista". Tava até, na época, Sininho no meio; cara, é uma imbecilidade isso acontecer: antes do ato começar, já tava na Record, os caras metendo o pau. A mídia, ela pode te jogar no alto ou te derrubar; então, você se tornar inimigo da mídia é a maior imbecilidade. Eu me pergunto: quem ganhava com isso? Essa é minha questão, essa é minha pergunta. Se você for fazer uma releitura, sempre teve partidos políticos por trás. Partidos políticos não conseguiram controlar quando era aquela multidão, mas, quando essa multidão começa a sair por causa dos atos que começaram a ter repercussão violentas, aí, mermão, pra manipular é fácil. E eu me pergunto: quem ganha com isso tudo? O povo é que não é. Aí eu me pergunto: pelo que eles lutam? Pela democracia é que não é…

A Mulher Gato deu as caras no protesto em frente ao Fifa Fan Fest, no dia do jogo de abertura da Copa do Mundo.

Você está acompanhando o julgamento dos 23 ativistas presos às vésperas da Copa do Mundo?
Não. Nunca participei de grupo, só em Facebook mesmo. O inquérito em que fui citado, eu soube por um colega meu, que também foi citado. Com ele, também não deu em nada, pois, como eu, ele não tinha nada a ver. O pau cantou pra cima de algumas pessoas; algumas delas, inclusive, estão foragidas, e aí não cabe a mim julgar.

Qual seu objetivo como Batman hoje em dia?
Meu ponto de vista, sinceramente, é inspirar as pessoas a lutarem pelos seus direitos. É lutar contra tudo aquilo que está errado. O que me preocupa não é o grito dos corruptos, mas o silêncio dos bons. E assim como eu não posso aceitar manipulações, não posso aceitar ficar calado: eu convido as pessoas a repensarem e irem às ruas sim, mas com o foco certo, que é esse Governo Federal, que tá simplesmente bagunçando o Brasil. Crise hídrica, crise energética, aumento de tudo, inflação, impostos. Por que, em vez de aumentar os impostos, não diminui as regalias dos políticos? Não começam a tirar a aposentadoria vitalícia, não reduz ministérios? Eu acho que o povo tem de ir pras ruas, mas pra cima do governo PT, Dilma Roussef: esse é o foco, esse é o maior mal, ok? Temos muita coisa errada, mas PT, Dilma e PMDB são os maiores males atuais. Não tô dizendo que os outros são santos, não… mas quem está causando mais prejuízos… por isso, vou participar de protestos em Brasília sim. Temos de fazer barulho.

E aqui no Rio? Você pretende voltar para algum protesto?

Protesto organizado pelo movimento Passe Livre, não! Esses têm ligação com PSOL, com PT, eu já vi isso… esses movimentos que só se focam no aumento das passagens, eu me pergunto: será que isso é manifestação ou manipulação para perder o foco? Então, sinceramente, tô fora. Não participo mais.