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Música

Estes tipos adoram festivais

Então organizaram um festival sobre festivais.

Esta pose foi ideia deles. Nós gostamos de festivais, mas há malta que adoraaaaaa festivais e que não se importa de debater a temática até à morte. O Ricardo e o Pedro são esse tipo de gente. Organizaram o Talkfest, um fórum sobre o futuro dos festivais e não só. Fomos lá falar com eles para saber qual será o futuro dos "festivaleiros".

VICE: Como é que está a correr este Talkfest?

Ricardo: Acho que está a correr bem. Sobretudo se verificarmos que, ao contrário do ano passado, tivemos key speakers internacionais. Se tivermos em conta que muitas das temáticas, como por exemplo a do Álvaro Covões, estiveram cheias, podemos ver que houve aqui sucesso. Na parte dos concertos, hoje [sexta-feira] é a nossa noite. Consideramos que vai estar forte. Portanto, é aí que apostamos.

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Como é que se lembraram de criar o Talkfest?

Lancei o desafio ao Pedro e à Joana e eles aceitaram. Nós também somos colegas de trabalho e temos projectos em comum e somos, acima de tudo, festivaleiros. Nós notámos que havia aqui uma falha. As pessoas não se juntavam num local para falar sobre festivais. Ou seja, os promotores, os jornalistas, os media partners, os directores de marca, etc. Não havia ninguém que conseguisse juntar estas pessoas e achámos que era uma falha e queríamos fazer isso. Claro que tivemos dificuldades, tivemos de fazer uma marca, criar uma imagem e um nome de forma a criar aqui um buzz. Conseguimos um excelente cartaz na primeira edição, com algum showcase e actividades, e pensámos que isto poderia ser potenciado, que foi o que aconteceu este ano, já com concertos aqui na aula Magna.

Mas de que forma é que o Talkfest pode beneficiar os festivais?

Podem ser discutidas ideias ou encontradas soluções que possam ser implementadas nos festivais. Eu posso ser uma pessoa com ambições, com uma ideia e estar em contacto com estas pessoas e colocar questões. Posso ter outras ideias. No fundo, pretendemos juntar quem está e quem pretende estar na área. A nós já nos chegaram propostas e, no fundo, é isso que nós queremos. Queremos que todos possam estar juntos em harmonia.

As receitas relativas aos festivais têm aumentado nos últimos anos. A que se deve?

Sim. Mas 2012 já foi um ano de excepção. Ou seja, já não aconteceu de uma forma tão intensa. Em 2012, alguns festivais para conseguirem manter a receita tiveram que se esforçar muito mais e já houve festivais com algum decréscimo no número de público.

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A que se deveu esta evolução?

Aconteceu porque havia um nicho que devia ser potenciado. As pessoas começaram a fazer férias e a programar as suas férias perante os festivais. É um acontecimento no fundo. Também em momentos de crise, verificamos que os festivais de música são dos poucos sítios em que as pessoas socialmente estão felizes e divertidas. Podemos ver pelos nossos concertos. Em Capitão Fausto, estava tudo em pé. É essa intensidade que os concertos e os festivais dão. Talvez seja por isso que os festivais continuam a crescer mesmo em momentos de austeridade.

Pedro: Por exemplo, a uma família inglesa de quatro, cinco pessoas de classe média sai mais barato vir a Portugal e vir a um festival de música do que comprar as entradas para um festival do Reino Unido, por exemplo.

Ricardo: Mas ao mesmo temos também o acentuar da crise e isto começar a complicar. E também temos uma terceira variável. Neste momento, o público está mais exigente. Ou seja, algum público já não vai porque os artistas vêm cá mais vezes, há companhias low cost e é mais fácil deslocarmo-nos. É mais fácil ir hoje a um festival a Espanha do que há dez anos.

E daqui para frente? O que falta fazer?

Pedro: Calha bem. Isso foi conversado hoje de manhã. No fundo, é melhorar a experiência que as pessoas têm num festival de música. Aqui acabam por haver duas vias. Ou se aposta num nicho e na “especialização” da música. Em Portugal já temos bons festivais de nicho que estão a dar cartas. Depois temos também festivais grandes em que o objectivo é agradar ao maior número de pessoas possível. É por isso que vemos festivais com 50, 60, 70 mil pessoas a esgotar os dias e temos outros festivais mais pequenos com 10, 15 mil pessoas. Curiosamente, se nós perguntarmos, a experiência das pessoas que vêm a este festival de nicho é muito mais intensa e mais positiva.

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Acham que a cultura dos festivais se distingue nesta diferenciação?

Depende da mística que existe à volta do festival. No Sudoeste, por exemplo, eles próprios usaram essa ideia com o “vens ver ou vens viver?”. E é verdade. Há pessoas que vão ao Sudoeste e que passam o dia no camping, vão à praia e que vêem um ou duas bandas…

Tu, Ricardo, também fazes essa referência no site do Talkfest.

Ricardo: É essa questão pessoal. Tu vais aos festivais para estares com amigos e esqueceres o stress do dia-a-dia. Na nossa equipa somos, acima de tudo, festivaleiros. Nós vamos com este entusiasmo de viver os festivais de forma diferente. Nós vamos ver um concerto mas reparamos no que está bem e no que está mal. Um exemplo não adaptável à realidade, pões Kings of Leon no Alive ou pões Kings of Leon no Sudoeste e não vais ter o mesmo número de pessoas a ver. Há aqui condicionantes como a questão dos acessos, tribos, conceitos. Há aqui muitas variáveis que te fazem ir a um festival. Não vais apenas pelo cartaz. Isto gera fenómenos…

Como são vistos os nossos festivais lá fora? Não pelo público, mas pelos opinion makers.

A impressão com que nós ficámos é que há uma opinião extremamente positiva em relação aos festivaleiros portugueses. E isso é um factor atractivo para as bandas porque todas as bandas querem tocar para um público que responde, que dá feedback. Nós, inclusive, tentamos esclarecer um pouco isso e quando as bandas dizem que nós somos a melhor audiência de sempre é verdade. Lá fora não se ouve isso. Nós hoje tentámos tirar as teimas com o Chris McCormick e o James Drury e eles confirmaram que as bandas não dizem isso a todas as audiências. Portugal é um caso específico. Isso faz com que, por exemplo, os Green Day depois de dez anos sem cá vir, tenham dito “desculpem por termos estado tanto tempo sem cá vir”.

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E em termos de organização?

Nós sofremos daquele estereótipo de abandalhados mas é mentira. A impressão que nós temos é que temos das melhores organizações. Às vezes falta um pouco de planeamento e por isso assistimos a filas intermináveis, falta de espaço, pouca capacidade na recolha de resíduos e a diversidade na restauração ainda pode melhorar. Lá fora há lama, chuva e frio e cá temos pó, calor e mosquitos, às vezes.

Como vai ser 2013? Vamos ter mais receitas? 

É difícil dizer pelo seguinte. As promotoras e os artistas, as marcas que vivem os festivais de música estão atentas, caso contrário não sobrevivem. Provavelmente, esta não será a melhor altura para mudar de estratégia. Se houver mudanças terão que ser para melhor. Melhorar a comunicação, tornar evidente como queremos interagir com o nosso público e o que o público procura. Esta é uma questão. Mas 2013 depende sobretudo dos próprios festivaleiros. Se têm disponibilidade para ir a mais festivais e se o público de fora intensifica a adesão.

Ricardo: Eu acho que não vai ser melhor. Nitidamente. Pelo que podemos ver, há festivais que ainda não lançaram nomes, há festivais que ainda não sabemos se se vão realizar ou não. Está tudo aqui a tentar perceber se há sponsors ou apoios dos municípios. Tudo reduziu, portanto é cada vez mais difícil fazer festivais.

Como sabes a VICE tem um palco no Milhões de Festa…

Ainda não tive o prazer de estar no festival, por não estar cá, com muita pena minha. Gostava de experimentar. No Milhões a questão é conhecer bandas, não é? E esse prazer de estar lá e poder dizer “eu estive lá, eu presenciei os primeiros momentos daquela banda”, para mim é uma satisfação. Tem ali diversas mecânicas que fazem o festival atraente.