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Feminisme

A heroica universitária que perguntou a Richard Spencer sobre aquele soco na cara

Falamos com Eman Elshahawy, que confrontou o supremacista branco durante seu discurso na Universidade da Flórida, nos EUA.
MS
Traduzido por Marina Schnoor

Matéria originalmente publicada no Broadly .

No último dia 12 de outubro, o supremacista branco Richard Spencer teve permissão para fazer um discurso na Universidade da Flórida em Gainsville, nos EUA. Os estudantes da instituição deixaram claro que não estavam interessados em ouvir sua ideologia tóxica; gritos de "Nazis não são bem-vindos aqui!" receberam Spencer quando ele subiu ao palco, segundo o USA Today. O número de contramanifestantes era muito maior que o de simpatizantes de Spencer no evento.

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Uma estudante, Eman Elshahawy, foi cobrir o evento para o The Tab (EUA). A matéria resultante, que tem a manchete "Perguntamos ao supremacista branco Richard Spencer se dói muito levar um soco na cara", resume bem como foi o resto da noite para Spencer.

Quando Spencer começou a responder as perguntas do público, Elshahawy pegou o microfone. "Meu nome é Eman. Minha etnia é egípcia e porto-riquenha. Sou uma bela mulher morena aqui hoje", ela disse, com aplausos fervorosos dos colegas. "Minha pergunta para você é como você se sentiu levando um soco na cara diante das câmeras?"

"Dói", respondeu Spencer. "Dói quando alguém te soca na cara."

Como a gente obviamente precisava saber mais sobre essa bela mulher que fez um neonazi relembrar o momento em que um punho encontrou seu maxilar, a VICE falou, por telefone, com Elshahawy, uma estudante de jornalismo e ciência política de 20 anos da UF, sobre seu encontro com Spencer.

A entrevista foi editada para melhor compreensão.

VICE: Por que você queria assistir o discurso de Richard Spencer?
Eman Elshahawy: Recebemos muitos e-mails sobre o evento da reitoria. Especialmente da reitora da Faculdade de Jornalismo; ela queria que os alunos ficassem seguros, mas enfatizou que era um evento importante. O presidente da nossa escola deixou claro que era contra comparecer [ao discurso de Richard Spencer], mas a reitora sugeriu que poderia ser uma boa experiência de aprendizado sobre jornalismo.

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Como você se sentiu com a notícia de um supremacista branco discursando na sua faculdade?
Me senti desconfortável indo ao evento por causa da cor da minha pele. E eu também não sabia quanta gente estaria do lado dele lá. A ambiguidade de ir até esse evento, em termos do que podia acontecer, me fez me sentir insegura. Mas me senti protegida pela quantidade de segurança lá. A escola gastou US$500 mil em segurança.

Quando você decidiu que perguntaria a Spencer sobre o soco?
Eu não tinha planejado nenhuma pergunta. Eu estava lá só para cobrir o evento mesmo.

Durante o discurso de Richard Spencer, ele não conseguiu dizer nada. O público ficava gritando e não deu chance de ele dizer alguma coisa. Acho que ele abriu para perguntas antes para ter uma chance de falar. Mas a primeira pergunta foi "Por que você continua aqui?"

O público, coletivamente, queria impedir que ele passasse suas ideias. Quando minha editora do The Tab percebeu isso — ela estava assistindo a transmissão —, me encorajou a fazer uma pergunta que o impedisse de repetir palavras de ódio.

Como ele reagiu à pergunta?
Ele ficou muito mais calmo do que eu esperava. Ele realmente respondeu a pergunta [risos]. Mas depois ele disse: "Por que você está me perguntando isso? Você está dizendo que apoia a violência?" Ele continuou com isso, depois disse que não responderia mais perguntas.

"No jornalismo tradicional eles dizem que você tem que ser imparcial. Mas eu diria que, pela minha integridade jornalística, tento me manter imparcial exceto quando se trata de direitos civis e justiça."

Hilário. Fico feliz que você tenha conseguido tornar o dia dele um pouco pior e o impedir de continuar falando. Você acha que jornalistas têm uma responsabilidade de antagonizar figuras supremacistas brancas?
No jornalismo tradicional eles dizem que você tem que ser imparcial. Mas eu diria que, pela minha integridade jornalística, tento me manter imparcial exceto quando se trata de direitos civis e justiça. Esse é meu limite. Você tem que escolher um lado quando se trata de direitos civis e justiça. E não escolher um lado já é escolher um lado, na minha opinião.

Também adorei que você disse "Sou uma bela mulher morena aqui hoje" para um supremacista branco antes de fazer sua pergunta. Você pode falar um pouco sobre por que achou que era importante dizer isso?
Quando eu disse isso, os simpatizantes de Spencer do público viraram as cabeças. Sou morena, mas ainda sou linda. E eu quis deixar isso claro. Eles não discordaram, então…

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