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Trump recebe uma pasta cheia de notícias positivas sobre ele duas vezes por dia

Alguns oficiais da Casa Branca se referem à pasta como “o documento de propaganda”.

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE News.

Duas vezes por dia desde o começo da administração Trump, uma pasta especial é feita e entregue para o presidente dos EUA. O primeiro documento é preparado por volta das 9h30 e o segundo por volta das 16h30. O ex-chefe de equipe Reince Priebus e o ex-secretário de impressa Sean Spicer queriam o privilégio de entregar as 20 a 25 páginas para o presidente Trump pessoalmente, segundo fontes na Casa Branca.

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Esses documentos importantes, descritos por três atuais e ex-oficias da Casa Branca à VICE, não contêm informações secretas de inteligência ou atualizações das iniciativas legais. A pasta é cheia de screenshots de legendas de noticiários de TV a cabo, tuítes de admiradores, transcrições de entrevistas puxa-saco, notícias com elogios e às vezes apenas fotos de Trump na TV parecendo poderoso.

Um oficial da Casa Branca disse que o único feedback que a equipe que prepara a pasta recebeu em todos esses meses foi: "As notícias precisam ser mais positivas". Por isso alguns membros da Casa Branca se referem tristemente à pasta como "o documento de propaganda".

O processo de montar a pasta começa na chamada "sala de guerra" do Comitê Nacional Republicano. O setor teve uma expansão de funcionários — de 4 para 10 pessoas desde que o partido entrou na Casa Branca. Uma sala de guerra — os dois partidos possuem uma independentemente de quem está na Casa Branca — geralmente fica com a tarefa de monitorar notícias locais e nacionais, TV a cabo, redes sociais, mídia digital e mídia imprensa para ver como os partidos, seus candidatos e oponentes são retratados.

Os trabalhos começam às 6h nos dias de semana — é uma tradição das salas de guerra começar suas atividades bem cedo —, com três membros da equipe monitorando os primeiros programas matinais em canais como a CNN, MSNBC e Fox News, enquanto analisam a internet e jornais. A cada 30 minutos, a equipe manda para o Gabinete de Comunicações da Casa Branca um e-mail com screenshots, tuítes, novas matérias e transcrições de entrevistas.

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Os funcionários na Casa Branca, por sua vez, escolhem as informações, mandam para outros oficiais e empurram manchetes favoráveis para uma lista de jornalistas. Mas também escolhem os trechos mais positivos para entregar ao presidente. Nos dias em que não há notícias positivas o suficiente, os funcionários de comunicação pedem ao CNR fotos lisonjeiras do presidente.

"Talvez seja bom para o país que o presidente esteja de bom humor pela manhã", disse um funcionário do CNR.

Contatado pela VICE, Spicer contestou a natureza da pasta. "Embora eu não vá comentar os materiais que compartilhamos com o presidente, isso não é correto em vários níveis", disse ele num e-mail. Quando perguntamos o que exatamente estava incorreto nessa história, Spicer não respondeu.

Claro, toda administração monitora a cobertura da mídia para ver o que está sendo abordado, e o CNR pode ter decidido que precisava de mais funcionários depois que o partido ganhou a presidência. Com o ambiente da mídia política se tornando cada vez mais rápido e frenético, os esforços para acompanhá-lo também precisariam se tornar mais robustos. A Casa Branca de Obama tinha pelo menos um funcionário altamente cafeinado e dois outros dedicados a acompanhar o Twitter, publicações online, mídia impressa e notícias da TV a cabo, depois compilar notícias relevantes e os mandar para assessores da Casa Branca.

Mas a produção de uma pasta com apenas notícias positivas — e usar o CNR para ajudar a produzi-la — parece anormal para ex-oficias da Casa Branca. "Se preparássemos algo assim para Obama, ele rolaria no chão de tanto rir", disse David Axelrod, ex-assessor sênior de Obama durante seus primeiros dois anos na Casa Branca. "Ele tinha uma presidência baseada na realidade."

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"O CNR sempre vai trabalhar para defender a Casa Branca, a administração e seus membros no Congresso, e os esforços na nossa sala de guerra ajudam a capturar e dirigir como nossa equipe pode ecoar essa defesa", disse a porta-voz do CNR Lindsay Jancek.

Outro oficial atual da Casa Branca disse que a ideia dessa massagem de ego diária veio de Priebus e Spicer, que competiam para entregar a pasta e ser o portador de boas notícias ao presidente. "Priebus e Spicer não estavam numa boa posição, e queriam mostrar que podiam fornecer cobertura positiva", disse o oficial. "Era uma questão autopreservação."

Um pouco mais de duas semanas depois da partida de Spicer e Priebus, segundo oficiais da Casa Branca, o documento vem sendo produzido com menos frequência e geralmente depois de eventos públicos, como o discurso recente de Trump para os Escoteiros Nacionais Jamboree na Virgínia Ocidental. Não está claro o que vai mudar, se é que algo vai mudar, quando um novo diretor de comunicação da Casa Branca for indicado para substituir a passagem rápida de Anthony Scaramucci.

"As notícias precisam ser mais positivas."

Esse não é o primeiro caso registrado sobre a necessidade de Trump de receber elogios exagerados.

Ele frequentemente cita e agradece apresentadores de TV a cabo como Sean Hannity, Lou Dobbs e os apresentadores do programa "Fox & Friends", que cobrem a presidência de maneira mais favorável possível.

E numa reunião de gabinete transmitida em junho, Trump ouviu contente enquanto o vice-presidente, o chefe de equipe e quase todos os 15 secretários de gabinete o elogiavam. Priebus aproveitou a oportunidade para dizer a Trump: "Em nome de toda a equipe sênior aqui, Sr. Presidente, agradeço a oportunidade e a benção que nos foi dada de servir sua agenda e o povo norte-americano."

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