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Alex Cox: A ideia de Rashomon é uma sequência de eventos descritos por quatro pessoas diferentes. Esse é o conceito. É essencialmente uma versão de Sem Lei e Sem Alma, mas à maneira de Rashomon, de Akira Kurosawa, que conta uma história de perspectivas diferentes.E você está fazendo o financiamento coletivo do filme?
É um jeito muito bom de levantar dinheiro. Outro projeto que fiz recentemente era uma ficção científica em que trabalhei com meus alunos da Universidade do Colorado. Conseguimos levantar US$ 114 mil assim, o que provavelmente fez desse um dos filmes universitários de maior orçamento já feitos.
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Foi uma filmagem anárquica até certo ponto – o roteiro mudou um bom tanto. Não estávamos prestando muita atenção. Muita coisa mudou. Novas cenas foram acrescentadas aleatoriamente, como a música "Danny Boy"; então, foi anárquico nesse aspecto. Agora, eu provavelmente faria isso até mais rápido [risos]. Mas filmamos como um filme normal: você só termina uma coisa dessas se tiver disciplina e um cronograma para ter certeza de que filmou tudo o que precisava no final do dia. Entretanto, acho que anarquia pode ser disciplinada à sua própria maneira.Fale sobre como foi trabalhar com Joe Strummer. Ele parece um ator clássico dos anos 50 nesse filme.
Sim! Ele parece um jovem Michael Caine, ou algo assim.Como era sua relação com Joe?
Ele tinha feito a trilha sonora de Sid & Nancy – foi assim que nos conhecemos. Ele era maravilhoso. Muito talentoso, muito generoso. Ele está nos créditos de duas músicas, porém contribuiu com cinco canções de Sid & Nancy, o que aparece em pseudônimos. Ele tinha uma energia tremenda. Ele sempre queria saber o que faríamos em seguida, [queria saber] tudo o que estava acontecendo.
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Era um contrato de seguro padrão de filmes, se me lembro bem [risos]. O perigo era enorme. No entanto, quando a turnê não aconteceu, dissemos "Vamos tentar fazer um filme". Foi Strummer quem sugeriu filmar na Espanha. Ele estava indo a Almeria nas férias e falou: "Por que não vamos para lá fazer um filme? Vamos fazer um faroeste espaguete". Portanto, essa era a missão quando Dick [Rude] e eu escrevemos o roteiro. A Caminho do Inferno foi ideia de Joe.Em que ponto você percebeu que ele conseguia atuar?
O papel de Simms foi escrito para o Joe. Dick tinha escrito o papel de Willie para ele mesmo, aí tínhamos Sy Richardson como Norwood e Courtney Love como, hum, Coutney Love [risos]. Tínhamos essas pessoas em mente enquanto escrevemos o filme, sabe?É legal quando você pode escalar o elenco antes: isso poupa tempo, você pode visualizar tudo melhor, criar um personagem em torno deles. Joe sempre quis ser um tipo de herói amoral dos anos 60. E ele conseguiu, não? Ele fez o papel muito bem. Ele foi ótimo. Ele era uma força da natureza naquele terno preto com seu coldre de ombro. Ele até cochilava usando aquilo quando precisava.
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Bom, eles colocaram as cenas de volta – cenas cortadas. Sempre me arrependi de ter tirado essas cenas, porque eu queria tudo que gravamos no filme, e eu gostava do novo esquema de cores, que dava uma cor de abóbora para as cenas. Havia mais sangue, mais tiros, mais coisas de menino como essas.Você acha que A Caminho do Inferno recebeu a atenção que merecia? É um filme único: algo como A Balada do Pistoleiro seria impensável sem seu filme, reconheço, mas o título continua relativamente obscuro.
Bom, se isso fosse tão obscuro assim, você e eu não estaríamos falando sobre isso depois de todos esses anos [risos]. No entanto, eu também peguei muitas coisas emprestadas de outros cineastas. Pego emprestado de outros diretores, outros atores – acho que essa é a natureza do meio. Isso flui com o tempo.Punk é um tema recorrente no seu trabalho como diretor: estou pensando particularmente em Repo Man e Sid & Nancy. Você pode falar um pouco sobre essas influências?
Eu estava na cena: eu gostava da música, lá nos anos 70 e 80. Eu achava que o punk era muito como o movimento surrealista, os dadaístas. Não era só um estilo de pintura ou um estilo de música. Era uma atitude: era uma coisa rebelde que dava qualidade ao movimento.O trailer de Repo Man.Você realmente entrou na "lista negra" de Hollywood?
Sim. Aconteceu depois de Walker. Essas coisas geralmente são feitas por procuração: o vilão de verdade em Walker era a empresa de crédito que ficou nos incomodando durante as filmagens. Ainda não sei de que crime eles me acusaram. Estávamos filmando cenas de batalha e partes dramáticas de vários ângulos; além disso, se tínhamos uma segunda câmera no caminhão, a usávamos para filmar os cavalos galopando como você faria em qualquer filme. Só que a empresa de crédito tomou isso como uma indicação da minha incompetência como diretor: eles tentaram parar o filme, mas não conseguiram no final das contas.
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Ah, eu não pude mais trabalhar em Hollywood depois disso. Basicamente, entrei para a lista negra. Depois de Walker, nunca mais conseguir emplacar um só filme num estúdio grande de novo; por isso, os filmes que fiz depois são todos independentes. Só que essa é a parte mais incrível dos filmes de financiamento coletivo: não há coisas periféricas. Não há gente guardando os portões, chefes de estúdio, nem nada assim: as pessoas se envolvem porque querem realmente ver um grande filme ser feito.Obrigado, Alex.@HarrySwordTradução: Marina Schnoor.Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.