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Música

Discos que devias ouvir neste natal

A equipa que convoquei para o Natal.

Faz frio em Dezembro e por isso apetece encontrar algum aconchego nos amigos, família, bebida e música quentinha. Para que não vos faltem opções neste Natal, aqui ficam cinco discos para ouvir durante a temporada (e fora dela também). Sim, existem muitos outros discos associados ao Natal, mas foi esta a equipa que convoquei. Divirtam-se e não metam os dedos em tomadas eléctricas porque isso dói.

THE VANDALS

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Oi to the World!

Kung Fu Records

Não creio que seja muito ampla a oferta de álbuns punk assumidamente conceptuais, mas deve ser ainda mais escassa a quantidade de discos que juntam esse tipo de música à temática natalícia.

Oi to the World!

, originalmente lançado com uma capa horrível e o título de

Christmas with the Vandals

, em 1996, é excepcional a diferentes níveis: começa por ser um disco de Natal enxovalhado por letras estupidamente imberbes e depois ainda tem o descabimento de recorrer a instrumentos que deviam ser a última opção num disco punk (como é o caso de sinos, violinos e pianos). Quem fica a rir na cara de todos, com isto, são os Vandals, que, a par dos Descendents, foram uma daquelas bandas que conseguiu geralmente estar uns pontos à frente dos seus pares, talvez por não se levarem nada a sério.

Num ano em que está prestes a tornar-se maior de idade,

Oi to the World!

soa tão eficaz e hilariante como na primeira escuta. Aqui há canções para todos os gostos: “A Gun for Christmas” reclama o direito ao porte de arma para defender as prendas, “Grandpa’s Last X-Mas” anuncia o pior diagnóstico para o mais velho membro da família e “Christmas Time For My Penis” é tudo o que gostaríamos de ouvir pela voz do Tony Carreira, no Natal dos Hospitais. É por aqui constatável o rasto deixado pelos Pogues mais natalícios (“Fairytale of New York” lá no alto tal qual a estrelinha), mas até isso ajuda a que

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Oi to the World!

seja o disco para ter à mão nesta altura do ano, juntamente com um pack de cervejas ou uma garrafa de Bushmills.

VÁRIOS

Death Might Be Your Santa Claus

Legacy

“Será o inferno o teu Pai Natal? Passaste o dia de Natal na prisão?” São estas as duas questões no autocolante pregado em cada uma das capas de

Death Might Be Your Santa Claus

, compilação limitada a cinco mil cópias numeradas, que foi lançada há dois anos no Record Store Day Black Friday. Independentemente das respostas encontradas, as duas perguntas deixam uma sensação de estranheza que vai aumentando à medida que somos absorvidos pelo objecto: espera lá, uma compilação de Natal que se atreve a ser mórbida e que ainda me pergunta se o meu Natal foi passado na cela (talvez com um travesti magricela mais conhecido por Cinderela)?

É exactamente essa a função de

Death Might Be Your Santa Claus:

levar a cabo uma

digressão profunda pelos vastos arquivos da Sony em busca de

blues

,

gospel

e sermões religiosos de décadas distantes, embora eternamente pertinentes como lições para endireitar o homem. O que esta compilação revela, no fundo, é que existe um significante manancial de canções (aqui estão 18) dedicadas à função de acautelar as pessoas para o facto de também o dia de Natal poder ser um inferno. Trata-se de um tema exigente — este que foi escolhido para um disco temente e carregadíssimo da palavra “Lord” —, mas

Death Might Be Your Santa Claus

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conheceu a mão de alguns dos melhores investigadores da área e é por isso também um deleite para quem gosta de

blues

 ora eufóricos ora totalmente miseráveis (sempre purificadores). Este, apesar de todas as diferenças morais, vai para o lado daquele disco em que o Legendary Tiger Man manda ao alho o Natal para se entregar por completo aos

blues

.

OD VRATOT NADOLU

Mercury

Fuck Yoga / SuperFi / Insulin Addicted

Quem olha para a capa de

Mercury

não encontra essa palavra a menos que saiba falar Macedónio. Encontra sim dois homens a lutar na lama, numa fotografia a preto-e-branco com alguma sugestividade homoerótica. À volta deles verificam-se os nomes da banda e do álbum. Nomes esses que estão escritos num Macedónio que se está basicamente a cagar para quem possa nem sequer saber muito bem onde é que fica essa pequena república que, até 1991, fazia parte da Jugoslávia socialista. Barreiras linguísticas à parte, a formação dos Od Vratot Nadolu consiste (ou consistia) de apenas um baixista e um baterista que berram suficientemente alto para acordar toda a população dos Balcãs. Ainda que a ideia de uma banda de

powerviolence hardcore

da Macedónia pudesse levar a crer que aqui está apenas mais um bichinho exótico (tipo Gremlin), há na agressão dos Od Vratot Nadolu uma consistência que é invejável em bandas bem mais populares no género.

Mercury

 facilmente chegaria ao 8 em 10, na velha escala de avaliação VICE, nem que seja por nos fazer imaginar uns Spazz cegos por um instinto canibal ou uns Converge com a piroca entalada no fecho das calças. Aqui está o disco indicado para espatifar um carro acabado de ser recebido como presente de Natal.

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SONNY SMITH

One Act Plays

Secret Seven

Esta não é a primeira vez que Sonny Smith nos surpreende com um disco em que o conceito funciona como saca-rolhas para uma garrafa onde estavam armazenadas óptimas canções, que provavelmente nem existiriam sem o mote que lhes deu forma. Nos últimos anos o songwriter, que estamos habituados a ouvir num registo mais radiante em Sonny And The Sunsets, havia já descoberto a musa para dezenas de temas no retorno que obteve ao lançar um desafio a diversos artistas. Desafio esse que assentava nas seguintes condições: os artistas criavam

artwork

 para álbuns imaginários que Sonny Smith depois traduziria em canções pertencentes a esses discos que não existem. O que resultou daí está pronto a ser escutado em três volumes da série

100 Records

, que, sem ser particularmente consistente, é tão divertida e cheia de surpresas como seria de esperar (pelo menos para quem gosta de alternar, sem cerimónias, entre folk, new-wave e pop ingénua). Não sem também dar alguns passos em falso,

100 Records

 demonstra sobretudo que Sonny Smith é um tipo especialmente apto a desdobrar-se em personagens distintas entre si. Pode muito bem ter contribuído para isso o facto de Smith ter vindo a explorar a sua faceta de dramaturgo desde jovem.

Interessa-nos por agora pegar no Sonny Smith dramaturgo para chegar ao escritor de canções que tem em

One Act Plays

 um daqueles discos há que não há como resistir.

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One Act Plays

 inclui dez temas (um deles dividido em duas partes), que começaram por ser escritos como peças de teatro de um só acto, e tudo nele é revelador de um cuidado apenas reservado aos discos muito especiais (inclui até uma folha de sala como aquelas que nos são dadas em algumas salas de espectáculo). Esse cuidado estende-se a um conjunto de composições que, em primeiro lugar, asseguraram a solidez da história a contar (duas ou três são autênticas obras) e que só depois ganharam uma armação folk, onde cada peça encaixa com precisão e sem nunca forçar o material. Para dar música a estas micro-peças de teatro, Sonny Smith teve ainda a sorte de poder dirigir um elenco de actores convidados que não aparece num mesmo disco todos os dias. Por aqui andam, entre outros, John Dwyer, dos Oh Sees, Andy “Vetiver” Abic, Neko Case e Mark Eitzel. Nenhum pretende ser mais que o outro e é por isso que

One Act Plays

 tem aquele equilíbrio subtil e mágico dos melhores filmes do Wes Anderson (

The Royal Tenenbaums

,

Rushmore

). Como já disse, está aqui um disco irresistível.

<a href="http://sonnyandthesunsets.bandcamp.com/album/one-act-plays" data-cke-saved-href="http://sonnyandthesunsets.bandcamp.com/album/one-act-plays">One Act Plays by Sonny & The Sunsets</a>

CELER AND HAKOBUNE

Vain Shapes and Intricate Parapets

Chemical Tapes

Tal como a música

ambient

, o Natal, no que tem de mais ligado aos rituais, é feito a partir da repetição: fatia de Bolo de Rei aqui e depois ali, telefonema sentimental um após o outro, licor após licor. Tudo isto num crescendo de

loops

 de comportamento que culmina na chegada do dia 25 de Dezembro. A todos esses hábitos da época tenho tentado de há uns anos para cá acrescentar outros dois: ver pelo menos um episódio de

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Um Mundo Catita

 (clássico absoluto) e escutar um disco de

ambient

 ou

drone

que, durante uma hora de paz, me possa limpar a cabeça de todo o estrilho que estes dias trazem. Em anos anteriores houve

Silent Night

, de William Basinski, e

Oaks

, maravilha de Ethan Rose (protegido de Gus Van Sant), sendo que desta vez a escolha deve recair sobre este

Vain Shapes and Intricate Parapets

, cassete da Chemical Tapes feita em colaboração por Celer e Hakobune (ambos criadores de imparável regularidade na música criada com o recurso a vagas de som circular).

Vain Shapes and Intricate Parapets

 não representa excepção estética no percurso dos seus dois autores, mas é claramente um ponto alto para quem aprecia um método de composição que flui sem parecer encaminhado para qualquer parte (o que faz com que as duas peças na cassete nunca cheguem a um auge natalício). Toda a tranquilidade e envolvência da noite, que é santa por também ser pacifica, estão lá e reflectem bem o facto de este ter sido um disco gravado em Dezembro de 2011.

<a href="http://chemicaltapeslabel.bandcamp.com/album/vain-shapes-and-intricate-parapets" data-cke-saved-href="http://chemicaltapeslabel.bandcamp.com/album/vain-shapes-and-intricate-parapets">Vain Shapes And Intricate Parapets by Celer And Hakobune</a>