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cinema

Filmes: Ninfomaníaca - Vol.2

O lado animal e obscuro do sexo.

Filmes: Ninfomaníaca - Vol. 2

Lars von Trier

Uma ninfomaníaca sem orgasmos é como um lago sem água. Nesta segunda parte da epopeia sexual narrada por Joe, o amor de Jerôme que não conseguiu saciar-lhe a sede. Pelo contrário. Matou-lhe a sexualidade e Joe está mais vazia que nunca. Por isso implora-lhe: "preenche todos os meus buracos". A monogamia e o nascimento do filho que repudia e abandona (no dia de Natal) apenas servem para adensar o negrume da personagem. E perante esta apatia sexual, que a enlouquece, procura o lado mais animal e obscuro do sexo.

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A sua reabilitação lasciva começa quando tenta trocar dois dedos (não só de conversa) com um africano que só sabe falar a sua língua. Ainda assim, a comunicação gestual não parece ser suficiente porque nem mesmo com a língua se entendem.

A frustração crescente obriga Joe a procurar a via dolorosa para atingir o prazer, entregando a alma e o corpo às chapadas e chibatadas de Mr. K. Aqui sim. Finalmente reencontra no papel de mártir e na submissão o seu novo caminho.

Mas mais violento que os espancamentos, é o lado sombrio do vício que Lars von Trier nos expõe, ao mostrar o labirinto interno que Joe percorre e aquilo de que é capaz de abdicar para concretizar "os seus desejos imundos". As novas memórias de Joe já não se tratam da sua descoberta mas do seu reencontro: "Where you goin' to run to now, where you, where you gonna go?" pergunta Jimmi Hendrix a certa altura. Ela também não sabe, por isso decide tentar escapar e renunciar ao sexo.

No entanto, cansada de remar contra a maré, e de revirar os cantos à casa (literalmente) para se libertar do vício, aceita que a ressaca de pele é mais forte, deixando-se levar pela corrente dos instintos, amarrada em nós de Prusik, que estrangulam tudo o que a rodeia.

E no final, sem sentido como a vida de Joe, após derrotas e vitórias de guerras frias e quentes, ouve-se o tiro da bala certeira da salvação. Num desfecho que apesar de surpreendente, se acobarda e veste de preto a tela, em jeito de demissão de todo o resto da história. Além de sadomasoquismo, cenas lésbicas e religião, esta segunda parte, pouco acrescenta a uma primeira tão poética e promissora. É caso para dizer que Lars cometeu o pecado da gula e nos trouxe o prazer cedo demais. Devia ter dado mais ouvidos aos pais da Charlotte, que cantam, entre gemidos e suspiros: "L'amour physique est sans issue" (o amor físico é impotente).