Os Protestos Violentos em Burgos Chamaram a Atenção do Governo Espanhol

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Os Protestos Violentos em Burgos Chamaram a Atenção do Governo Espanhol

Na cidade de Burgos, no norte da Espanha, um protesto de uma associação de bairro contra a construção de uma nova avenida no coração de Gamonal acabou em um confronto entre manifestantes e tropas de choque!

Fotos por Guillermo Rivas Pacheco e Daniel Rivas Pacheco.

Até cinco dias atrás, a cidade de Burgos, no norte da Espanha, era mais conhecida por um tipo de chouriço feito com arroz.

No entanto, na sexta-feira passada, a cidade virou manchete por algo muito pouco palatável: o protesto de uma associação de bairro contra a construção de uma nova avenida no coração de Gamonal (um dos distritos mais tradicionais da classe trabalhadora), que acabou em violência. Pedaços de asfalto foram arrancados e usados como projéteis, vidraças de bancos foram quebradas e o confronto acalorado entre manifestantes de moletom e a tropa de choque se estendeu nas proximidades de Valladolid.

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O primeiro dia de protestos resultou em 19 prisões e um punhado de histórias na mídia local. O que ninguém esperava é que as manifestações continuassem pelos três dias seguintes, transformando o centro da cidade numa zona proibida e fazendo jornalistas exagerados lançarem as palavras “Homs” e “Alepo” como granadas hiperbólicas.

No decorrer dos protestos, o tom das reportagens mudou. As primeiras notícias se preocupavam em catalogar as prisões e os atos de vandalismo, entretanto, conforme as manifestações continuaram, a incredulidade da mídia quanto à possibilidade de que as pessoas estivessem tão putas só por causa de uma avenida foi gradualmente substituída pelo entendimento de que era exatamente isso o que estava acontecendo. E o jogo de interesses local num palco nacional não é algo para ser desprezado.

No bairro em si, o apoio aos protestos gira mais em torno dessa imagem maior. Enquanto todos condenam a violência, as declarações são rapidamente seguidas de “mas quem sabe agora eles nos escutem”. Raul Salinero, conselheiro da coalizão de centro-esquerda Izquierda Unida, disse ao El País que os protestos são “o resultado do desespero. Estamos há meses tentando conversar com o prefeito sobre isso”.

“Isso” é um investimento de $11 milhões do governo conservador local num projeto de embelezamento não essencial. O trabalho deve ser realizado pela construtora de Antonio Mendez Pozo, um homem que os moradores locais chamam de cacique (o termo para um empresário que comanda tudo na área), que também é presidente da Câmara do Comércio da cidade e dono do jornal local, El Diario de Burgos. Com um contrato tão lucrativo caindo aleatoriamente nas mãos de Pozo, fica fácil entender por que as pessoas da área estão tão inconformadas.

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Embora a violência contínua e coordenada em Burgos seja virtualmente sem precedentes na Espanha, a própria Gamonal não é algo único. Trata-se de um bairro de trabalhadores numa cidade provinciana, onde os moradores se sentem ignorados e não representados pela classe política, que querem se fazer ouvir através de qualquer meio possível. E agora, graças aos protestos, não é só o governo local que está ouvindo, mas o país inteiro.

Na segunda-feira, o governo anunciou que enviará uma unidade extra de 100 policiais da tropa de choque para a cidade com o intuito de restaurar a ordem no bairro e evitar um possível “contágio”. Embora, nesse caso, eles estejam se referindo a outras partes da cidade, algo me diz que o governo está mais preocupado com a imagem maior – a erupção de revoltas similares nas inúmeras cidades similares a Burgos. E com razão.

Reportagem adicional por Guillermo Rivas Pacheco.

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