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O TED não Está Tornando Minha Geração mais Inteligente. Está nos Tornando Idiotas

O fato do TED te entreter não significa que isso não seja um tremendo esquema de pirâmide, projetado para sugar seu ego enquanto finge inseminar sua mente com conceitos que vão mudar o mundo.

Matéria original da VICE UK.

Ultimamente, tenho pensado muito sobre o ato de pensar em pensar.

Nas últimas semanas, por exemplo, tenho me esforçado para assistir a pelo menos uma palestra do TED por dia. Não sei se isso tem a ver com a minha geração exatamente, mas notei uma tendência estranha a se assistir ou se ouvir palestras "informativas" para adultos em vez de realmente pensar. Parece ser um ponto de referência cultural pensar sobre a ideia de pensar em vez de realmente usar a cuca.

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É por isso que eu, basicamente, passo por todas as coisas como um sonâmbulo. Não tenho um pensamento independente há anos. Às vezes, esqueço até meu próprio nome.

Talvez eu seja um membro de carteirinha da sociedade do chapéu de papel de alumínio para os irritantemente presunçosos, mas acho que há algo inerentemente errado na passividade. E, ainda assim, estou escrevendo isso na minha cama. A resposta que mais ouvi quando contava que estava trabalhando neste texto era: "O quê? Você nunca gostou de nenhuma das palestras?". Mas é isso que eu quero dizer: quando pensar sobre pensar vira entretenimento em vez de desafio, alguma coisa deu muito errado.

Parece até falta de educação falar mal de algo tão esmagadoramente positivo. Mas foda-se… só porque o Justin Lee Collins fez uma galera rir, não quer dizer que ele não seja um cara muito horrível; então, o TED te entreter não significa que isso não seja um tremendo esquema de pirâmide, projetado para sugar seu ego enquanto finge inseminar sua mente com conceitos que vão mudar o mundo.

Do meu ponto de vista privilegiado, aqui das regiões inferiores da sociedade, o TED, assim como todas as outras "usinas de ideias", são o caminho mais fácil para o pensamento, servindo profundidade de um pires para aqueles que, como eu, têm uma habilidade cognitiva situada entre a de uma tartaruga e a de uma fatia de pão.

Já assisti, acredito, a uns 50 vídeos pelo menos, porque: a) tenho muito tempo livre; e b) eu queria saber do que todo mundo estava falando. E concluí que isso é, basicamente, como ter o Alain de Botton na sua casa, pixando "AdB esteve aqui" atrás da porta do banheiro com uma caneta esferográfica e sendo aplaudido pelo esforço.

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Como sou uma pessoa razoável, comecei a assistir de novo aos clássicos. Não aprendi nada.

Ouvi dizer que pornografia estava me tornando um homem nervoso e violento, mas continuo salvando meus sites favoritos no navegador. Fui informado de que o segredo da felicidade é um bolo bem gostoso, mas continuo recusando a sobremesa. Até me disseram, como se eu fosse um idiota, que eu estava amarrando o sapato do jeito errado todos esses anos, mas ainda faço do mesmo jeito, porque claramente sou um caso perdido.

Os ingressos para uma palestra do TED custam milhares de dólares. Nenhum evento deles paga seus palestrantes, porque a coisa toda é uma honra. Um privilégio, tanto para eles quanto para nós. Mas eles te arranjam um hotel bem legal.

Acho que minha insatisfação com esse tipo de aprendizado tem algo a ver com o seguinte: estar supersatisfeito consigo mesmo geralmente não é um bom presságio para uma discussão ou debate rigoroso. Em todos os vídeos a que assisti, cada palestrante e cada membro do público parecem tão felizes que é como se eles estivessem recebendo um boquete de um fantasma invisível.

Muita gente que conheço assiste às palestras do TED. Muita gente que você conhece as assiste também. Na verdade, isso é um mecanismo de prazer. Não sei você, mas, logo depois que me toco, tenho zero vontade de fazer qualquer coisa que não seja fingir que meu autodesprezo não é uma reação lógica ao que acabei de assistir. Eu realmente preciso sair da cama.

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"Você não realiza nada sendo um babaca satisfeito consigo mesmo cercado por seus coroinhas e parceiros fantasmas. Acredite em mim."

Mas nem tudo é péssimo. Gosto muito do sistema de classificação dos vídeos do TED. É um negócio incrível. Você pode escolher todo tipo de adjetivo exagerado, de "genial" e "engraçado" a "de cair o queixo". A opção mais próxima de "que porra é essa?" é "desagradável", que é como eu classifico os vídeos que não entendo (todos). Para aquele de amarrar os sapatos, eu dei "inspirador", pois, porra, detesto esses sapatos com velcro.

O que chamou minha atenção nisso (e no TED todão, na verdade) é como tudo é tão parecido com a música tema do Uma Aventura Lego: uma coleção totalmente aleatória de coisas que são "incríveis"; só de ouvir isso, você literalmente não consegue pensar de outro jeito.

É algo tão tediosamente positivo que, da próxima vez em que alguém pisar num palco do TED, todo mundo tem de cantar essa música e refletir sobre o que deu errado na sua vida, porque, apesar do que o Sean Connery te fez acreditar, são os fracassados que traçam a rainha do baile. Eu vou dizer isso agora: ninguém envolvido no TED transou sequer uma vez na vida.

Você não realiza nada sendo um babaca satisfeito consigo mesmo, cercado por seus coroinhas e parceiros fantasmas. Acredite em mim. Uma ideia bem melhor seria uma turnê internacional com os maiores rabugentos do mundo jorrando comentários sarcásticos velhos pensados para inspirar o ego. Só para mostrar que eles estão errados. Que perdedor não estaria motivado para vencer depois de um ano de Duncan Bannatyne te chamando de manhã para dizer que ele está fora?

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A razão (se ainda não for óbvio) de eu ter falado do filme do Lego é que o conceito por trás dele é que tudo não é incrível. Apesar do que a Octan Corporation te diz, as pessoas estão atravessando sonâmbulas suas existências desinspiradas e sem calças, porque acham que aquele pensamento e comportamento comum e sistematizado são INCRÍVEIS.

E não é. Todas as suas ideias não são incríveis. Nem tudo que pensamos é épico. Somos capazes de ser comuns, de mijar nas calças e derrubar o recheio todo de um sanduíche Subway em cima da nossa mesa inteira. E tudo bem.

Temos um problema geracional: estamos tão preocupados em ser incríveis que não queremos reconhecer que somos comuns. E é tudo culpa da porra do TED. E do Paul McKenna. E do Gok Wan.

É uma vergonha que um filme com o Will Ferrell diga mais sobre o pensar que Jane Fonda, Chris Anderson e Ken Robinson. Um filme infantil sobre bloquinhos de plástico, para mim, é inexplicavelmente mais profundo sobre o estado das ideias e do pensamento independente do que uma companhia real, que diz servir porçõezinhas de inteligência como uma garçonete excepcionalmente erudita.

Esse entretenimento sobre o pensar é tão intelectualmente rigoroso ou desafiante quanto um programa infantil que passa no meio da tarde. Mas são divertidos exatamente para que o público continue vendo e se sentindo bem. Não tem nada de errado com um fantasma te chupando – desde que você saiba qual a motivação dele.

Descobri que existem palestras do TED para tudo, menos para o que as pessoas realmente precisam: tipo, como usar o metrô sem parar no caminho de todo mundo ou como comer uma pizza na cama e não engordurar a porra toda. Mas talvez eu faça essas coisas, porque já vi tantas palestras desafiadoras que estou literalmente congelado no momento: empacado numa ideia de tamanha profundidade que continuar sendo funcional seria uma afronta à epifania mítica.

Ou talvez eu seja só idiota mesmo.

@MrDavidWhelan

Tradução: Marina Schnoor