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Dicas incríveis para sabotar praxes académicas

Não existe nada menos sensual do que a praxe académica.

Praxe: assassina em série de erecções.

Não existe nada menos sensual do que a praxe académica. Tentei rever mentalmente todas as sequelas do

Academia de Polícia

, o penteado do Luís Represas e todo o tempo que passei no Cacém, mas não encontrei nada que me tirasse tanto a tesão como as praxes. Aliás, a única coisa semelhante a esse ritual pateta é um filme do Pasolini chamado

Salò

ou os

120 Dias de Sodoma

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. Se o título revela um filme potencialmente asqueroso,

Salò

é bem pior que isso no retracto que faz de quatro fascistas cujo único gozo na vida é torturar doze jovens, fazendo-os, a certa altura, engolir lâminas e comer merda.

É óbvio que as praxes não costumam chegar aos pontos mais extremos do cinema italiano, mas o princípio de humilhação é o mesmo no cenário que coloca um Dux e os restantes mascarados a ensinar canções idiotas a um grupo de caloiros, com orelhas de papel na cabeça ou algo do género. Tudo isto representa um desperdício de tempo ainda mais grave, quando se sabe que a chegada à universidade é uma excelente oportunidade para conhecer pessoas sem recorrer a anormalidades. Para que os tristes não possam gozar descansados esta época, deixo aqui umas dicas para sabotar praxes académicas.

Nunca foi à praxe.

FLUÍDOS ARRUINAM GINCANAS

A praxe faz-se, muitas vezes, passar por uma daquelas gincanas em que os caloiros são vendados e atados com as mãos atrás das costas. Tudo isto para depois ficarem em fila, a caminho de um enorme balde de água com duas maçãs a boiar. A melhor maneira de alinhar nisso é responder, muito docemente, durante a preparação do jogo e depois, enquanto se tem a cara meio coberta de água, largar do nariz todo o tipo de mucosidade. Acabou-se a gincana. Aprendi isto quando certa vez, em Leiria, comecei a deitar sangue do nariz para dentro de um desses baldes e a rapariga que vinha a seguir só disse: “Que grande nojo! Não vou meter a boca aí.” Senti-me o Steve McQueen das praxes por dez minutos.

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A FILOSOFIA “FAZ O QUE TE APETECER”

Toda a gente sabe que uma boa parte da pica de quem praxa está na sensação de perseguir a presa e ultrapassar a sua resistência. Os Motörhead têm uma canção sobre isso chamada “The Chase is Better Than the Catch”, mas tal tradição não merece sequer ser associada a qualquer coisa minimamente rock n’ roll. O que quero explicar, no fundo, é que não existe praxe sem haver uma parte empolgada por isso. Por isso, é sempre viável alguém adoptar aquela postura do “faz o que te apetecer”. Se alguém com uma capa cheia de brasões foleiros se quiser sentir melhor enquanto vos pinta a cara, assumam a expressão mais desinteressada em relação a isso. Em pouco tempo o praxador vai sentir-se estúpido com a sensação de estar a bater em mortos e vai voltar para o jogo de sueca que mantém com os seus amigos há mais de nove anos.

TUDO O QUE PRECISAS SABER ESTÁ NUMA CAPA DE MINOR THREAT

A capa do

Out of Step

de Minor Threat é, talvez, uma das últimas grandes ilustrações punk sobre como cada um tem direito a uma vontade própria. Além disso, é uma das imagens mais inspiradoras que conheço. Se há um bando de palhaços que te quer baptizar com um penico numa fonte ou meter-te a pedir trocos numa rotunda, caga nisso e pisga-te sem cerimónias para dentro de um café para jogar um pinball ou matraquilhos. Em menos de cinco dias vais arranjar amigos entre quem também gosta disso, em vez de ser cordeirinho.

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Parece mesmo da praxe nesta foto.

O QUE FARIA O ROBIN WILLIAMS?

Além da capa de Minor Threat, o Robin Williams com barba é sempre uma resposta universal para os mais diversos problemas. E o que faz o Robin Williams com barba? Aproxima as mãos da pessoa perturbada, olha-a muito seriamente e repete “a culpa não é tua!”, num tom crescente de voz. Tudo isso culmina num grande abraço e numa união maior que a própria amizade. Uma boa parte do pessoal que alinha em praxes sofre de graves recalcamentos e procura um Robin Williams com barba na sua vida, mesmo que não o saiba. Por isso, caloiros com barba, tratem de treinar a vossa expressão mais séria e ensaiem o “a culpa não é tua!” em frente ao espelho, acompanhado tudo isso com clipes do Robin Williams no YouTube.

O rabo peludo original.

UMA TÁCTICA DE GUERRILHA CHAMADA “OPERAÇÃO: RABO PELUDO”

Este método é mais apropriado para pessoal que já vai no segundo ou terceiro ano de universidade, e já passa insuspeito entre os colegas que deliram com a praxe. Eventualmente, haverá sempre quem goste de levar máquinas fotográficas para registar o momento em que um caloiro come iogurte tutti-frutti espalhado por um objecto qualquer que o Dux tinha numa caixa de sapatos debaixo da cama. As máquinas fotográficas são objectos tão banais como os telemóveis e haverá sempre algumas espalhadas pela sala. Reúnam dois amigos com algum sentido de humor, metam-se na casa de banho dos rapazes e tirem fotos bem focados no rabo daquele que o tiver mais peludo. Isso, sim, tem graça e funciona especialmente bem com quem ainda gosta de usar máquinas com filme.