Muitos médicos brasileiros estão apanhando feio de seus pacientes

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Muitos médicos brasileiros estão apanhando feio de seus pacientes

Nem só de exames, diagnósticos e altos salários é feita a vida dos profissionais da saúde. A rotina hospitalar inclui insultos, agressões físicas e xingamentos.

"Temos que dar um basta em tanta covardia!". O desabafo foi postado pela médica Maria Cristina Bueno Porto, de 58 anos, no dia 25 de maio de 2015 em seu perfil no Facebook. Plantonista do Pronto-Socorro do Hospital Geral de Itapevi, município de São Paulo, ela relata que, no "plantão mais intenso de sua vida", foi agredida depois de discutir com a filha de uma paciente. A confusão teria começado quando a acompanhante pediu que, além de medicar sua mãe contra dores abdominais, Maria Cristina prescrevesse também um remédio para hipertensão. A médica explicou que esse tipo de procedimento não era feito na Emergência e, sim, no Posto de Saúde, mas não adiantou. Revoltada, a acompanhante teria elevado o tom de voz e dito, de maneira hostil, que a médica "tinha mais que fazer mesmo". Os ânimos se exaltaram e, dali a pouco, as duas começaram a trocar insultos e agressões. O caso foi parar na Delegacia de Polícia Dr. João Roberto Costa da cidade.

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De exceção, a violência contra médicos virou regra. Em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, outro episódio de agressão foi registrado na Santa Casa da Misericórdia. Passava da meia-noite de 21 de novembro de 2016 quando o médico Daniel Morelli Bufarah, de 32 anos, começou a atender uma jovem de 25 que deu entrada na unidade com entorse no pé. Irritada com a aparente demora na realização de um exame de raios-x, a paciente e seus dois amigos, todos visivelmente embriagados, começaram a desacatar o médico. Daniel ainda tentou explicar que, antes de fazer a radiografia, a jovem teria que tomar um remédio. Em vão. Os três começaram a agredi-lo física e verbalmente. A certa altura da confusão, o médico chegou a receber uma "gravata" de um dos agressores. O porteiro e o diretor da unidade tentaram apartar a briga, mas também foram agredidos. O caso está sendo apurado pela 5ª Delegacia de Polícia (DP) de São José do Rio Preto.

Consultas e atendimentos médicos que terminam em socos, arranhões e pontapés viraram rotina em São Paulo. Um levantamento recente, feito com 5.658 médicos, enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem, revela que 60% deles já sofreram violência física, verbal ou psicológica no ambiente de trabalho. Segundo pesquisa realizada pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) em parceria com Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP), 81,4% das agressões partem dos próprios pacientes e seus familiares, 59% delas acontecem em unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) e 43% são praticadas durante o atendimento médico.

"As precárias condições de trabalho a que são submetidos, diariamente, médicos e pacientes afetam uma relação que deveria ser de confiança e respeito mútuo. De um lado, temos os pacientes, que são obrigados a lidar com o número insuficiente de médicos e a demora no atendimento. De outro, os profissionais da saúde, que são obrigados a conviver com a falta de remédios, insumos e equipamentos que, entre outros fatores, impede que exerçam plenamente sua profissão", diz Mauro Aranha, presidente do Cremesp.

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