Se masturbar no chuveiro é a pior coisa quando se tem um pênis

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masturbação

Se masturbar no chuveiro é a pior coisa quando se tem um pênis

O corpo todo se transforma em uma estrutura à beira de um colapso e a qualquer momento você pode cair e quebrar o pescoço. Nenhuma bronha vale tanto assim.
AC
ilustração por Aina Carrillo
Mariana Miyamoto
Traduzido por Mariana Miyamoto

Essa noite, me surpreendi comigo mesmo de pé, na banheira do hotel tentando me masturbar. Não podia fazer no quarto porque minha filha estava dormindo lá e tudo seria muito desconfortável, logo o banheiro era meu único espaço compatível com a punheta.

Estávamos de férias em Berlim e fazia uns dias que não colocava esse assunto em dia e por circunstâncias que agora não vêm ao caso, me vi de repente com essa necessidade. Como disse, naquela noite me surpreendi comigo mesmo porque odeio profundamente bater uma no chuveiro.

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O ódio que sinto é proporcional ao amor que gritam as legiões de fãs dessa prática masturbatória. Porque existe a ideia equivocada de que, se você é um ser vivo com uma rola, a melhor bronha é a que você bate no chuveiro. Me vejo obrigado a centrar este tema nos “seres com rola” porque já é bem conhecida a relação que existe — e que nesse caso é real — entre as vaginas e os chuveirinhos, pois o resultado que se obtém com um esforço mínimo é insano; de fato, essa ideia — máximo prazer/mínimo esforço —, é o material com que se constroem os verdadeiros sonhos humanos.

No caso dos pênis, a coisa muda completamente. No mundo lingâmico imaginário existe a fantasia de que a bronha no chuveiro — o famoso “masturbanho” — é uma experiência quase divina, um prazer digno dos deuses, embora isso seja algo totalmente infundado. É uma questão estética, a galera dispara frases como “Porra, vou bater umazinha no chuveiro essa noite”, como uma tentativa de alcançar novos limites de virilidade — como se isso fosse o ápice das bronhas, o ponto máximo, o clube de Bilderbeg da masturbação masculina — mas a verdade é que a punheta mais desagradável é a que nasce e morre no chuveiro.

Nos vendem a ideia de um momento de tranquilidade e intimidade em que estamos, evidentemente, pelados debaixo d’água, como se estivéssemos atravessando uma cascata nunca vista pela humanidade, rodeados por vapor e com o pinto colidindo contra a parede e bagunçando os vidros de shampoo, coisa que, de certo modo, estimula o membro.

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A água não para de cair, percorre nosso corpo e nos purifica, limpa e exorcisa todos os nossos demônios; logo seguramos o membro com as mãos cheias de um líquido cremoso que a maioria conhece como “sabonete líquido” o que os “masturbanhistas” profissionais chamam de “uma coisa que funciona como um lubrificante mas não é tão caro quanto e que faz parecer que você tá metendo a rola na boca de Deus”. Tudo faz crer que vai ser uma puta festa, não é mesmo? Mas não.

Não sei por quê, mas, se você faz de pé no chuveiro, parece que a força da gravidade dobra, o que gera um cansaço extra

Os males da bronha no chuveiro são vários, espero que sejam suficientes pra derrubar esse mito. Pra começar, é um esforço físico assombroso. Não sei por quê, mas, se você faz de pé no chuveiro parece que a força da gravidade dobra, o que gera um cansaço extra que faz com que ‘essa-coisa-que-os-homens-tem-de-ejacular-rápido’ desapareça por completo; esse pesadelo de tantos homens seria uma bênção no “masturbanho”.

É um efeito dominó: o aumento considerável de tempo da bronha (um segundo normal equivale a 16 segundos “masturbanho”) faz com que você tenha que concentrar todas as energias tentando fazer com que a mão e o braço não fiquem mais tensos do que uma coluna dórica, o que faz que se perca resistência no resto do corpo. Tem que ir gerenciando pausas, momentos em que não aconteça nada, como quando as cozinheiras tiram o bicho da panela.

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As pernas viram fios trêmulos, como as desses fantoches que vendem nas ruas e que supostamente dançam sozinhos. O perigo é real, a qualquer momento você pode cair e quebrar o pescoço. O corpo todo vira uma estrutura em tensão, à beira de um colapso. Continuar, pausar, continuar, pausar, exercícios de alongamento, continuar. Concluir a punheta – algo divertido – envolve toda uma gestão de processos, como se você estivesse a cargo da produção de um novo SEAT, algo que NÃO pode ser divertido.

No final só queremos um resultado técnico, totalmente frio, longe do prazer, um gesto fisiológico vazio

Como pode notar, em momento algum focamos nos genitais e na mente. Não há tempo pra gerar uma excitação, a crua realidade do corpo destrói as fantasias. Estamos cansados e nosso pinto também, o que faz com que fique cada vez menos duro. A perspectiva da derrota paira sobre nós e não queremos aceitar. Dizemos a nós mesmos que se viemos até aqui então vamos até o final.

Ignorando o tremor das pernas tentamos retomar, em vão, agora o problema em questão é que já não queremos mais nos masturbar — passou muito tempo — agora só queremos um resultado técnico, totalmente frio, longe do prazer, um gesto fisiológico vazio. É aí que se perde todo o tesão e o cérebro, em vez de pensar em situações e sensações sexuais maravilhosas, se concentra nos minutos que estamos perdendo com esta merda.

Em uma patética última tentativa, você se senta no chão enquanto vê toda a esperança escorrendo pelo ralo. Você chora. Isso sim, o chuveiro é o melhor lugar para chorar, porque ninguém pode te ver, porque as lágrimas se confundem com a água e parece que você não está chorando.

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E outra coisa: essa prática me parece mais como uma fantasia de perdedor, cuja vida é tão infernal que seu único momento de tranquilidade, alívio e felicidade se encontra na bronha do banho, quando, com a cabeça apoiada no azulejo, tenta gozar pensando no corpo de sua mulher quando era jovem, essa mesma mulher que já não quer mais transar com ele e que disse “se não fosse pelas crianças já teria me dado um tiro porque faz anos que não sinto absolutamente NADA”. Enfim, esse fracasso realizado no chuveiro suponho que será a única experiência prazerosa que este pobre ser terá em seu dia.

Toda a sexualidade terá se evaporado e só restará a batalha de um funcionário que gerencia os problemas de seu corpo e de sua mente.

Lembre-se disso: a bronha do chuveiro deveria só uma alternativa quando, por algum motivo, não pode ser feita em lugares habituais: cama, sofá ou na cadeira de frente pro computador. Dito isso, se o “masturbanho” for feito por outra pessoa, não tem nenhum problema, pois não é você que vai ter que fazer todo o esforço.

Matéria originalmente publicada em VICE Espanha.

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