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Tecnologia

'Top Gun' dos Insetos: A Cauda Dessas Mariposas Enganam o Sonar dos Morcegos

Uma mariposa tem mais em comum com caças militares do que a maioria de nós imagina.

Uma mariposa tem mais em comum com caças militares do que a maioria de nós imagina: o longo e agitado rabo da mariposa-luna age como um dispositivo anti-radar, refletindo as ondas do sonar de ecolocalização de morcegos e eficientemente direcionando esses mamíferos voadores para partes mais dispensáveis de seus pequenos corpos. Essa cena caberia melhor em Top Gun do que no céu noturno da América do Norte — mas, no fim das contas, o reino animal também é cheio de batalhas.

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Quando se é um inseto voador, ter um morcego no seu percalço é bem mais assustador do que ser seguido por um caça. Os morcegos desenvolveram sua habilidade de ecolocalização ao longo de milhares de anos, e são hoje incrivelmente eficazes na arte de localizar e perseguir suas presas — como, por exemplo, uma pequena e barulhenta mariposa.

No entanto, as mariposas não são tão indefesas. Muitas delas, como as mariposas da família Noctuidae, possuem ouvidos rudimentares que captam as frequências de sonar dos morcegos predadores. Porém quase metade das espécies de mariposas noturnas não possuem essas orelhas pega-morcego. De acordo com uma pesquisa recente, a mariposa-luna (Actias luna, da família Saturniidae) desenvolveu um tipo de defesa completamente diferente: seu rabo, parecido com uma andorinha, gira e treme enquanto ela voa, criando uma distração que atrai os morcegos, de forma semelhante a um míssil termo-guiado sendo desviado por um sinalizador aéreo.

Nesse vídeo podemos ouvir claramente os sons de ecolocalização dos morcegos, e ver um pobre morceguinho perdendo sua presa e atacando o rabo da mariposa. Crédito: Barber e equipe

"Morcegos e mariposas lutam uma guerra acústica há mais de 60 milhões de anos", escrevem os autores, o principal deles sendo Jesse Barber, da Boise State, na revista Proceedings of the National Academy of Sciences. "Mas quase metade das espécies de mariposas não possuem os ouvidos anti-morcego, e ainda sofrem uma intensa predação. Nós trabalhamos com a hipótese de que o longo rabo de um grupo de mariposas aparentemente indefesas, as saturniids, é na verdade uma genial estratégia utilizada para evitar ataques de morcegos."

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Esse tipo de combate acústico não é um conceito exatamente novo; alguns morcegos fazem algo parecido uns com os outros. Mas as mariposas-luna não usam seus rabos para refletir as ondas de sonar para outras direções como os ângulos bizarros do F-117 Nighthawk, que foram desenvolvidos para alterar a rota dos sinais de radares. Ao invés disso, a equipe de Barber conseguiu, utilizando uma técnica de filmagem em infravermelho, mostrar que o movimento do rabo serve como uma isca, desviando os morcegos de seu alvo original.

A equipe prendeu mariposas-luna, algumas com o rabo removido e outras com a retaguarda intacta, junto de morcegos-marrons (Eptesicus fuscus), uma espécie que não costuma caçar mariposas e que portanto não possui uma estratégia para evitar a distração. O resultado foi impressionante, com a equipe registrando "a sobrevivência de ∼47% das mariposas com rabos preservados, quando comparadas às mariposas que tiveram seus rabos removidos", o que é "equivalente à vantagem de preservação das mariposas com ouvidos anti-morcegos."

Outro golpe frustrado. Eu sei que o vídeo é escuro, mas estamos assistindo a uma cena capturada em infravermelho e em alta velocidade. Não é algo muito fácil de se filmar. Crédito: Barber e equipe

Apenas 34,5% das mariposas com rabos foram capturadas pelos morcegos, enquanto 81,3% das mariposas sem rabos foram predadas. Isso se deve ao fato de que, nas mariposas com rabos, a maioria dos ataques se limitavam à sua parte traseira — mais da metade deles, na verdade. E como um rabo delicado de mariposa não é um alvo muito fácil de se atingir, apenas 4,2% desses ataques eram bem sucedidos.

O resultado foi bem claro. "Nossos dados claramente confirmam a função anti-morcego dos rabos das mariposas-luna", concluem os autores. "Nossos dados sugerem que diferentes formas de defesa podem ser tão eficazes quanto as estratégias acústicas na luta pela sobrevivência."

É claro que os pesquisadores fizeram uma descoberta fascinante, mas o fato das mariposas-luna terem desenvolvido formas de se defender dos morcegos não é muito surpreendente. Afinal, estamos falando sobre a diferença entre viver e virar jantar, e nem as mariposas estão dispostas a entregar o jogo.

Tradução: Ananda Pieratti