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Sexo

Ereções e Vampiros nas Montanhas San Gabriel

Nunca transei com uma vampira, então, digo que achei ela bonita e ela me diz que nunca transou com um cara bronzeado. Ela conta que é de São Francisco e me dá seu telefone, deixando claro que pode atender ou não meus telefonemas.

Fotos por Scot Sothern.

Estou em algum lugar numa montanha na Floresta Nacional Angeles e parece que alguém abriu os portões do manicômio. Isso é uma festa de três dias para religiões alternativas: bruxas, feiticeiros, satanistas, cristãos apocalípticos, unarianos de outro planeta, fantasmas, duendes, noias psicodélicos, magos e elfos, jovens malucos procurando por algo além da chatice da Santa Trindade. Estou aqui com meu amigo Stephen, que está fazendo uma entrevista. Estou tirando fotos e acabei de tomar um pouco de mescalina que arranjei com um cara loiro de dreads tocando címbalos de dedo.

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Passeando pela área, cruzo com um cara pelado que não tem as pernas e anda com as mãos. Seu pinto e escroto empoeirados se arrastam pelo chão, como um saco de areia que deixa um rastro na terra. Não tirei foto dele e me arrependi disso pelo o resto da vida. Está fazendo uns 32 graus aqui e as pessoas estão correndo nuas por toda parte. Por um caminho largo, onde os mercadores se instalaram para vender poções mágicas, loções, perfumes e artesanato, encontro uma ruiva meio assustadora de olhos azuis claros vendendo joias feitas por ela mesma. Não sinto o vento, mas os cabelos dela se mexem como ondas de calor em volta do rosto. Estou começando a sentir a mescalina e minha percepção está meio alvoroçada. Ela sorri e arreganha os dentes como um tigre rosnando. Os caninos foram cobertos de forma permanente com próteses de acrílico. Ela é uma vampira praticante. “Não é só uma coisa de Dia das Bruxas”, ela explica. “Somos muitos, e levamos nossa crença a sério. Bebemos sangue humano de verdade.”

Nunca transei com uma vampira, então, digo que achei ela bonita e ela me diz que nunca transou com um cara bronzeado. Ela conta que é de São Francisco e me dá seu telefone, deixando claro que pode atender ou não meus telefonemas.

Vou atrás do Stephen, que precisa de mim para fotografar uma cerimônia envolvendo uma garota com os seios de fora brandindo um machado em um sacrifício humano falso.

Quando conto ao Stephen sobre minha namorada vampira, ele me lembra que estamos em 1985, que ela mora em São Francisco e bebe sangue, e que talvez eu devesse pensar melhor nisso. A mescalina está correndo em meu organismo e me sinto como se estivessem dando descarga em minhas tripas. Sinto uma vontade louca de sair saltitando e colhendo flores, deixando de lado qualquer coisa parecida com o senso comum. Para todo lugar que olho, as pessoas estão peladas.

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Depois da cerimônia, vou para o carro do Stephen, que é onde vou dormir esta noite, e tiro minhas roupas, ficando só de relógio, sapatos e com a câmera. Eu curto ficar pelado e chapado na floresta. Tenho malhado e estou em minha melhor forma, então, sigo balançando meu pinto pela trilha de terra.

Em uma clareira, no centro da atividade, uma amazona wicca gostosa, vestindo somente uma tanga de couro com franjas, está em perfeita harmonia com o cosmo: sentada de pernas cruzadas na porta de uma tipi laranja e branca de náilon. Flexiono meus músculos e a bunda e pergunto: “Ei, como vão as coisas? Tudo bem se eu tirar uma foto sua? Tenho que tirar fotos de pessoas diferentes aqui, apesar de estar mais inclinado pelas mulheres bonitas. Qual seu nome? O meu é Scot”

Ela tem dentes muito brancos e a pele caramelo. Ela deve ter uns vinte e poucos anos e tem o corpo de uma deusa surfista. “Meu nome é Sappho”, ela diz. “Pode tirar minha foto. Eu devo olhar para a câmera?”

“E se a gente entrasse na tipi? O sol está muito forte aqui e a luz aí dentro deve ser bem legal.”

“Achei que você só queria tirar uma foto. A gente não está fazendo um pôster central, cara.”

“Mas a gente podia, sabe, fazer um pôster.”

“Não, não podemos. Vamos logo com isso.”

Ela entra na tenda e eu a sigo, ela não me conta nada pessoal; ela não confia em mim e não quer que eu passe da porta da tenda. Eu digo que compreendo e fico onde estou, de joelhos, na porta e com as costas para fora no sol. Ela posa de lado como Cleópatra numa chaise longue. Estou ficando excitado e entro no padrão automático, dizendo: “Isso mesmo”, “Assim está ótimo”, “Olhe para mim”, “Lamba os lábios”. Ela para de se mover e se senta, cobrindo os seios com os braços. “Seu porco”, ela diz. “Chega de fotos.”

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Não a culpo. Estou com uma ereção apontada para a mesma direção que a câmera e ela não é nenhuma namorada, esposa, modelo ou prostituta. Estou tentando pensar em coisas brochantes e digo a ela: “Ah, OK, desculpe, eu não queria ser lascivo. Obrigado pelas fotos, e se você me der seu endereço, eu mando algumas pelo correio.”

“Não, obrigada. Não quero nenhuma foto.”

A mescalina agora está no pico. A tenda parece estar respirando e vejo luzes fantasmagóricas roxas pela visão periférica. Saio engatinhando pela abertura da tipi e alguns metros mais à frente encontro o cara sem pernas, ele não está mais nu – ele está vestindo uma camiseta e de mochila. Ele está ali parado, olhando para mim. Eu me levanto e ainda estou com a barraca armada. Um grupo cerimonial se reuniu ali perto, do qual várias garotas plus-size fazem parte. Ninguém está pelado, só eu. Estou dentro de meu próprio pesadelo recorrente, nu e duro como uma pinha numa floresta justamente onde as mulheres não vieram para louvar os homens. Meu cérebro chapado me diz que eles nunca estiveram pelados, que eu imaginei tudo. Agora estou louco para dar o fora daqui. Então, começo a andar pela trilha de volta para o carro.

Dobrando uma curva, vejo uma mulher enrolada num cobertor preto, como se fosse um caixão ambulante. Ela me dá medo, mas tiro a foto mesmo assim e depois corro o resto do caminho até o carro. Chegando lá, acendo um Kool King e confiro a câmera. Só tenho mais uma foto sobrando, então, fotografo meu pau, rebobino o filme e coloco outro.

Lowlife, oprimeiro livro do Scot, foi lançado no ano passado e seu livro de memórias, Curb Service, já está disponível. Veja mais informações no site dele.