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Vimos o jogo do Brasil na baixada do Glicério

Teve bombinha, linguiça, caipirinha, telão, selfie, som alto, Neymar, fumaça, novinha, gol, uísque, energético, ostentação, arrocha, criança, funk. É muito Brasil pra pouca Copa.
Foto: Felipe Larozza/ VICE

Quando você fala pra alguém que vai colar no bairro do Glicério, no centro da cidade de São Paulo, as reações são sempre distintas. Alguns falam "nem a polícia cola no Glicério", "cuidado", "você conhece alguém dali?". A região é conhecida por abrigar cortiços e estrangeiros. Inclusive, estivemos lá há cerca de um mês para conhecer os haitianos recém-chegados na cidade. E ontem, em vez de colar no FIFA Fan Fest ou em alguma balada de coxinha rico, resolvemos assistir o Brasil jogar contra Camarões na Praça Ministro Costa Manso e encher a cara com a galera.

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E a festa tava bonita.

A primeira coisa que fiz foi tentar descobrir quem tinha financiado essa bela ideia que só veio acrescentar à sociedade e unir os seres humanos ainda mais: o telão. A FIFA não foi. Pensei que fosse algum dono de bar da região. Nada. Foram dois caras que moram nos prédios da praça mesmo. O Francisco (de camisa do Curintia na foto acima) conta que ele e seu sócio colaram na Santa Ifigênia e investiram R$ 1.600 no projetor e R$ 1.800 na caixa de som. Embaixo do telão, eles improvisam um bar que vende caipirinhas com vodca por R$ 10 e caipirinha com uísque (!) por R$ 15. Pergunto se a Prefeitura chegou a reclamar da confraternização armada ali e ele responde "Ainda não. É festa, né". Tá tendo muita Copa, graças a Deus.

Existem duas coisas que unem as pessoas: bebida e futebol. Quando o Neymar meteu um gol, eu estava há cinco minutos conversando com um mano do Congo – misturando português, francês e inglês. E mesmo sem nos conhecermos direito, nossa reação foi absolutamente instintiva e brasileira: um grande e caloroso abraço comemorativo. Além de samba e caipirinha, aqui tem contato corporal e calor humano, sim, gringos.

Quando conheci os haitianos, saquei que eles são fanáticos pelo futebol brasileiro e pela seleção. O amor é tanto que homens e mulheres literalmente vestem a camisa, celebram gol e piram. Muito.

Não é manifestação, não tem black bloc nem Tropa de Choque, mas tem esses moleques daora e inconsequentes aí soltando bombinha. Porque a vida é curta. Haja bombinha. E Copa.

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Foto: Felipe Larozza/ VICE

A noite foi caindo, o Brasil foi colocando Camarões na panela e conhecemos o Yan (de camiseta preta) e seus amigos. Aí foi o começo de uma longa e duradoura amizade ostentação.

Eles compraram sinalizadores, Red Label e energético. Muito de tudo. E nós ficamos lá, bebendo, curtindo e vendo a fumaça colorir o céu do Glicério.

Tá pouco de criança e adulto inconsequente, parça? Tá não.

De repente, avistamos uma galera fazendo um churras no meio da praça. O Brasil, amigos, é um país maravilhoso.

Aí eu conheci o Emmy (à esquerda, de chapéu), um cara que tem duas lojas na 25 de março, o paraíso comercial da pechincha em São Paulo, e teve a seguinte ideia: passou no açougue e comprou R$ 126 de carne (sim, ele me deu a nota fiscal). Depois, comprou várias (eu disse várias) garrafas de Red Label, garrafas de energético e caixinhas de água de coco (devidamente congeladas). Então, ele pegou a churrasqueira emprestada dum mano, levou todos os seus funcionários para a praça e pronto, tava armada a festa da firma.

Quando vejo a boquinha da garrafa, num aguento e vou ralar. Quando vejo linguiça é a mesma coisa. Preciso fazer algo a respeito. E fiz. Na real, odeio comer carne, mas como. E eu não podia fazer uma desfeita com meus novos melhores amigos, que me encheram de uísque até sabe-se lá que horas. Eu gostaria de lembrar. Não é o caso.

Tenho uma teoria de vida: se não lembro, não fiz – mesmo que existam fotos ou gifs para provar o acontecido. Vai que era minha sósia. Acontece, caralho. Fala pra eles, Conti.

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Por um minuto achei que deveria compartilhar a foto do banheiro feminino do boteco com vocês, mas acho que agora já estou meio arrependida. Espero que meu editor resgate a fé que eu ainda tenho na humanidade e barre essa loucura. P.S.: não dá pra ver, mas o nível dessa água podre aí era aventureiro.

De repente, eu nem sabia mais o que tava fazendo ali e virei uma dessas pessoas insuportáveis que colam em shows e passam o tempo todo conversando, cagando pra banda e atrapalhando quem quer curtir a música. Nem lembrava mais do futebas, estava entregue às bebidas. Sei que o jogo acabou, o Brasil ganhou, Copa, Neymar, nada acontece, feijoada, e cada canto da praça ecoava um som. Ainda bem que do meu lado era arrocha.

Uma mina corajosa quis me ensinar a sarrar. Sarrei.

O Felipe Larozza, fotógrafo, também entrou na onda, mas depois a mina veio me cochichar que ele conseguia dançar pior que eu. ¯\_(ツ)_/¯

Já completamente bêbados, chamamos um táxi para ir embora. Mas aí ouvi um funk muito pesado vindo dum carro e, mais uma vez, deixei a vida me levar, amigos. O taxista deve ter ficado puto, porque acabamos esquecendo dele. De início, fui meio odiada pelas minas do rolê funkeiro. Além de dançar mal, eu tava de bota, camiseta preta e jeans, no pior naipe roqueiro, e jurando que fazia parte do bonde das n0vinha. Depois, uma delas me pediu um cigarro e viramos melhores amigas. Ficou tudo na paz do deus funkeiro. E o pop hit do Mc Romântico veio abençoar geral. Eu amo meu país.

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Encontramos o Yan de novo e ficamos tirando umas fotos. É isso que amigos bêbados fazem, principalmente durante a Copa do Mundo no Brasil. A foto é minha, por isso está essa bosta imensurável.

De início, eu estava meio puta de ter que trabalhar durante o jogo, mas é nessas horas que eu amo o meu emprego. Desculpa, pessoal. ¯\_(ツ)_/¯

Ah é. Foi quatro a um pro Brasil.

Siga a Débora Lopes no Twitter (@deboralopes) e veja mais fotos e vídeos do Felipe Larozza aqui.

Saque mais fotos abaixo.