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O Novo Vídeo de Skate da LRG, ‘1947’, Compõe um Retrato da Elite do Street Skate Atual

Conversei com o diretor Kyle Camarillo sobre o vídeo, que conta com alguns dos mais camicases e imaginativos skatistas do panorama competitivo.

Colei na cabine do segundo vídeo da LRG, o 1947, que rolou no Studio Dama, em Pinheiros, São Paulo, na maior expectativa. Passei o ano inteiro vendo esse filme ser propagandeado em tudo quanto é revista e site de skate, do Brasil e da gringa, e à medida em que o tempo passava, mais eu pensava que, com tanto investimento promocional, o que vinha pela frente só podia ser algo impactante. E, é! Em termos de ritmo de edição e estética, a produção está entre a pegada crua e agressiva dos vídeos da escola 411VM lá dos anos 1990, e a leveza, fluência e plasticidade dos títulos mais recentes, na onda do Mind Field e do Pretty Sweet. Tome por base tais referências, e você já terá uma noção da vibe do negócio.

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No fim, um vídeo de skate é essencialmente apenas mais um vídeo de skate. Mas isso só para os leigos. O que torna um ou outro título relevante é o nível do time retratado e a perspectiva do diretor na hora de definir a fotografia e os cortes da montagem. As cenas foram rodadas nos EUA, Brasil, Espanha, Portugal, Tailândia, Taiwan, Chipre, Coreia, México, Japão, Nicarágua, Canadá, Alemanha e Inglaterra, e, a direção, conta com a assinatura do Kyle Camarillo. O Kyle tem um currículo de presença no rolê do skate. Suas fotos estampam capas e miolos das mais importantes publicações dedicadas ao esporte no mundo, como a Thrasher, Transworld, Concrete, Skateboarder e Slap. Sobre a performance dos atletas, está bem mais afiada do que no primeiro título da marca, Give Me My Money Chico, de 2010. A começar pela parte do Carlos Ribeiro. Apavorando na técnica e no switch, ele arrancou gritos da plateia durante a projeção com a cena em que vara duas mesas de piquenique na sequência. Se liga:

Outro mano que chega destruindo é o Trent McClung, que, com sua base firme, faz parecer tão natural a conclusão de linhas super complexas. Jack Curtin também se destaca, não só pela engenhosidade das manobras, mas por se mostrar um dos mais imaginativos atletas do time. Um exemplo é o belíssimo fake ollie que ele manda pra aterrissar de fifty num corrimão. Cada nome perfilado tem um estilo bem singular, o que torna a produção empolgante do começo ao fim. O Felipe Gustavo, por exemplo, domina todas as manhas de sequências que envolvem variações de flips em 360º, entrando e saindo dos obstáculos, e essa desenvoltura ficou bem registrada no vídeo. Aí temos o mestre Chico Brenes, sempre bom de ver, com uma pegada mais clássica que dá um equilíbrio legal em relação ao style mais moderno de andar dos demais.

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O Rodrigo TX, por sua vez, impressiona, porque já faz mais de uma década que ele não deixa o nível cair, desde os tempos do Can't Stop. Total respeito pra esse cara, dono uma linha sempre atual. O Tom Asta é o maluco dos combos. Ele pega manobras embaçadas por si só e conjuga três ou mais num único obstáculo. Temos também o bruxo Tommy Sandoval, provando ao mundo mais uma vez que não existe pico proibido ou não skatável. Ele manda manobras em qualquer lugar, dos spots mais comuns aos improváveis, num style que não mede consequências. Quem coroa a session antes da subida dos créditos é o Miles Silvas, com aquele switch backside smithgrind que ficou tão falado na comunidade skater pela capa da Thrasher deste mês.

Rodrigo TX mandando um kickflip perfeito, alto e no gás, pelas vielas da Coreia.

Antes de passar para a conversa que tive com o diretor do vídeo, vale contar aos que não estão ligados o porquê do nome "1947". É um tributo ao ano de nascimento da mãe do fundador da LRG, o Jonas Bevaqua, que morreu em 2011. O Jonas sempre usava a simbologia desse numeral, argumentando que, sem o apoio de sua família, e particularmente de sua mãe, a LRG jamais teria se tornado realidade. Criada em 1999, de lá pra cá a marca cresceu e o "1947" continua sendo usado como lema, para deixar claro que, acima de tudo, para eles, skate é família.

VICE: Kyle, como o skate virou um lance profissional pra você?
Kyle Camarillo: A história de como eu me envolvi com o universo do skate não tem nada de especial. Fui apresentado à prática por um vizinho, daí descolei um skate pra mim e esta cultura me absorveu completamente desde então. Tudo aconteceu do mesmo jeito de quando comecei a filmar e a fotografar skate. Um lance completamente orgânico. Era algo que eu achava divertido. Até o fim do colegial, nunca fiz um planejamento para que isso virasse profissão. O skate ocupa hoje provavelmente 85% do meu tempo de trabalho. E não falo do ato de andar de skate, mas de sua cultura. Leva-se muito tempo para finalizar um vídeo de skate como este, com padrão de cinema, hoje em dia?
1947 demorou o período de tempo normal que qualquer outro grande vídeo de skate leva para ficar pronto. A média costuma ser de três a cinco anos. E nós levamos cerca de três anos e meio. Então até dá pra dizer que foi mais rápido do que o comum. O que geralmente consome muito tempo é conseguir o registro da linha perfeita. O nível do skate é tão avançado hoje em dia, as manobras relevantes para um vídeo nesse contexto são difíceis de encaixar e é preciso muito talento para conceber um vídeo inteiro com nove diferentes skatistas. No passado, usar um dia inteiro tentando captar uma manobra era algo normal. Hoje, o normal é pegar seis dias até conseguir a captação perfeita da manobra. Não sei se posso afirmar que existe uma rotina para definir o ritmo e o visual do vídeo. É necessária uma visão de arte geral no material e na estética. Um vídeo nunca tem forma certa até o seu ano final de produção.

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Rola uma tendência de uns vídeos super produzidos agora, o povo usando várias câmeras, drones, tratamentos. Isso veio sobrepor a essência crua dos vídeos que fizeram história?
Acho que as pessoas consideram ambos os estilos importantes. É claro que tem aquela galera que só quer saber das manobras e não está nem aí para os outros elementos do vídeo. Mas tem também aquele pessoal que sente o oposto. É difícil agradar a gregos e troianos. Eu desencanei de querer agradar todo mundo anos atrás e sigo apenas tentando fazer aquilo que penso ser o melhor. Existe espaço para tudo e todos no skate. Sem regras. Você pode fazer um negócio super produzido, como We Are Blood, e algo bem lo-fi e cru, tipo os vídeos da Gx1000. Tudo acrescenta! Quando o skate é embaçado, é o que vale. Se é uma super produção ou algo de baixo orçamento, isso pouco importa.

Qual foi o atleta que mais te impressionou ao longo das filmagens?
Esta é uma pergunta difícil de responder. Cada um deles me impressionou. Do contrário, não seriam os exímios skatistas que são! Trabalhamos em parceria para imaginar as sequências das manobras e como poderíamos registrá-las de um jeito bonito. Gosto dessa parte. Amo trabalhar em conjunto com o time e dar uns toques pra eles. Como os atletas da LRG estão posicionados no cenário atual do skate?
Eu diria que o time é formado por atletas que estão entre os mais relevantes do cenário atual. Cada um deles domina diferentes estilos. Mas isso é difícil de julgar. No skate não existe essa coisa de quem é "o melhor". Não existe primeiro lugar. Cada skatista tem suas próprias habilidades, e é por isso que eles foram selecionados para compor o time.

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Jack Curtin varando de ollie.

Pelo fato de você ser fotógrafo, é inevitável enquadrar cada cena como se fosse o retrato de uma paisagem urbana, não é? Dá pra sacar essa sua preocupação.
Com certeza. Há ocasiões em que o ambiente não vale muito a pena ser retratado, mas, na maioria das vezes, sim. Eu tento proporcionar ao telespectador algo mais do que apenas o registro da manobra. O objetivo é conseguir combinar uma manobra incrível e uma paisagem bonita na mesma cena. Quem são os caras que te influenciam no jeito de filmar?
Eu me sinto francamente inspirado por tudo que é criado por skatistas. Eu compro todos os vídeos que são lançados. Todos me inspiram. Mas alguns nomes que me inspiram são French Fred, Russell Houghten, Ty Evans, Jason Hernandez… E a lista continua. Esses caras estão sempre me surpreendendo e inspirando não só a criar mais, mas na vontade de andar de skate também! Já com relação aos vídeos clássicos, sempre vou amar o Menikmati e o The Reason. Mas aqui eu também poderia listar uma centena. Vendo o filme pronto, você se sente orgulhoso e totalmente satisfeito com o resultado? Ou ainda permanece um resquício de preciosismo?
Eu não sei se algum dia ficarei 100% satisfeito com qualquer um de meus trampos. Sempre me parece que pode ficar melhor. Mas chega uma hora que você tem que simplesmente desapegar e lançar logo. Tem alguns clipes que eu gostaria de ter filmado melhor. Em algumas ocasiões, consegui filmar perfeitamente centenas de tentativas, mas bem naquela em que o skatista encaixava a manobra, eu zoei o bagulho. Esse tipo de coisa me deixa puto.

Tom Asta dizendo a que veio com um estiloso switch front heelflip.

Você faz trampos para a LRG desde quando?
Tenho feito tudo relacionado a skate para a LRG já há seis anos. Até já fiz algumas coisas nada a ver com skate, tipo uns look books e uns catálogos. Então, sim, eu me sinto muito íntimo da marca. Sinto a confiança de saber o que eles querem e acredito que nessa reciprocidade. Especialmente no caso de 1947, eles me deram completa liberdade criativa. O relacionamento é ótimo e espero que se estenda pelos próximos anos. Como tem sido a repercussão do filme nos eventos de lançamento pelo mundo?
O filme tem tido uma repercussão incrível, e eu não poderia estar mais satisfeito. Foi um trabalho exaustivo, mas o impacto vem sendo tão positivo que me deu empolgação para fazer outros.

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1947 está disponível no iTunes, na Amazon, e no Google Play