Gatas e Metralhadoras Datadas na Feira Bienal de Armas do Mar Negro

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Gatas e Metralhadoras Datadas na Feira Bienal de Armas do Mar Negro

A Black Sea Defense é uma feira de armamentos que rola em Bucareste onde o exército romeno, a polícia, o corpo de bombeiros e empresas privadas têm a chance de exibir que a indústria de armas tem sido uma das únicas rentáveis durante a crise econômica.

Todas as fotos por Mugur Vărzariu.

A Black Sea Defense é uma feira bianual de armamentos que acontece em Bucareste. Durante três dias, o exército romeno (isso inclui a marinha, a aeronáutica e o serviço secreto), assim como a polícia, o corpo de bombeiros e algumas empresas privadas têm a chance de exibir o fato de que a indústria de armas local tem sido uma das únicas rentáveis durante a crise financeira. Por exemplo, em 2010, o comércio de armas somou €38 milhões ao orçamento nacional, uma quantia que a Romênia simplesmente não pode perder.

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Eu tenho um sentimento meio dúbio sobre esse tipo de evento, principalmente porque não alimento nenhum sonho particularmente patriótico de morrer por meu país, porém, os eventos recentes na Ucrânia me deixaram – e a muitos outros romenos – preocupado o suficiente para estar ciente da absoluta necessidade de um exército territorial competente. Com o intuito de me decidir, visitei a convenção.

Quando cheguei lá, todo mundo estava se preparando para a chegada de Mircea Dușa, o Ministro da Defesa. Pessoas em uniformes camuflados e ternos caros estavam tirando o pó de seus estandes, do mesmo jeito que um soldado arruma a cama antes da inspeção matinal. Falei com Aurel Cazacu (o homem à direita na foto a seguir), gerente-geral da Criabo Defense & Security, que me falou sobre uma arma chamada Gepard GM6 Lynx.

O Ministro da Defesa romeno, Micea Dușa (no meio) admira a Gepard GM6 Lynx.

VICE: O que você pode me dizer sobre essa metralhadora?
Aurel Cazacu: O design é húngaro. Transferimos a tecnologia para a Romênia e estamos fabricando numa fábrica em Cugir. Ela pode disparar tanto balas de 0,5 polegadas da OTAN quanto balas russas. Ela pesa apenas 10 quilos e meio, então é fácil de usar tanto sentado como em pé.

Qualquer pessoa pode ter uma dessas ou só forças especiais?
Forças especiais, os militares, todo mundo! Até caçadores, porque em lugares como os Estados Unidos, balas de 0,5 polegadas também pode ser usadas por civis.

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O exército romeno já usa essa arma?
Vamos terminar de registrá-la este mês. É a primeira arma nova a ser produzida na Romênia em 40 anos. A fábrica de Cugir tem 212 anos e hoje emprega 800 pessoas, mas durante a era soviética eram 24 mil funcionários. A Romênia era o quinto fabricante de armas do mundo antes da Revolução. É por isso que desejo mostrar que ainda fazemos coisas novas por aqui.

E qual é o futuro da indústria de armas romena?
Queremos nos envolver com sistemas personalizados de armamento e armas inteligentes. As primeiras são armas que só disparam depois de reconhecer o dono por impressão digital ou reconhecimento da íris. As armas inteligentes podem ser desativadas à distância. Quando a polícia vem prender você, eles podem desativar sua arma de uma distância segura antes de te abordar, como fazem com celulares.

A maioria dos serviços governamentais levaram suas soldadas, pilotas e espiãs mais lindas. Elas deixavam os jovens cadetes babando, como modelos em feiras de carros.

VICE: Oi, o que você pode me dizer sobre esse avião?
Subtenente e pilota Diaconu Diana: O Spartan C-27J é o mais novo avião da Força Aérea Romena e pode ser usado para tudo, desde evacuações médicas até o transporte de tropas. Ele pode transportar 60 pessoas, mas pode ser adaptado conforme a missão, no caso da necessidade de transportar tropas paraquedistas ou macas.

Quantas dessas belezuras a Força Aérea tem?
São seis, e esse é o mais novo. É um modelo muito bom e acessível.

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E ele pode pousar num local de conflito armado?
Sim, ele esteve no Afeganistão recentemente. Ano passado, participei de uma missão em Montenegro e na Hungria, e este ano transportei feridos da Ucrânia.

É difícil ser pilota na Romênia? Você tem que encarar muitas atitudes sexistas?
Na verdade é OK. Nossos superiores têm a mente muito aberta. É verdade que temos que provar nosso valor muito mais, mas eles parecem felizes em ver tantas garotas na Força Aérea.

E quantas vocês são?
Seis nesse tipo de avião. Éramos nove garotas na minha classe de pilotagem.

O estande do Serviço Secreto Romeno, o SRI.

VICE: Quais são as últimas técnicas de segurança cibernética usadas pelo governo romeno?
Gabriela Matei, funcionária do SRI: Os métodos do Serviço de Informação Romeno são classificados como segredo de estado.

Quais os riscos que nós, pessoas comuns, enfrentamos nesses tempos conturbados?
Os riscos podem vir de múltiplas áreas. De outros países, encaramos ameaças avançadas e persistentes, que podem continuar por um longo tempo. Como você deve saber, o vírus do Outubro Vermelho durou muitos anos. Esses ataques em geral visam instituições públicas e recursos estratégicos. As repercussões desse tipo de ataque não podem ser vistas hoje ou amanhã, mas a longo prazo elas afetam a todos nós.

Como a Romênia tem se saído no departamento de crimes cibernéticos?
Aqui, temos que falar sobre custos. Ano passado, crimes cibernéticos custaram aos governos do mundo cerca de 400 bilhões de euros. É difícil estimar isso num nível nacional, porque há muitos grupos internacionais trabalhando juntos para combater esse tipo de crime. É difícil frear esse tipo de crime, especialmente porque a cooperação internacional nunca esteve muito focada nessas questões.

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O que você acha do Anônimos?
Classificamos o Anônimos como cibernéticos extremistas. Os ataques deles têm um efeito maior na mídia do que em nós. E aprendemos depois de cada ataque, ou não poderíamos evoluir.

Existem outros grupos semelhantes sobre os quais você pode falar?
Não sem um mandado.

Qual é exatamente o seu trabalho?
Não posso dizer. Represento a SRI.

VICE: O que você pode me dizer sobre a sua companhia?
Dragos Deghe, chefe de vendas da Metrom Braşov: Somos uma companhia metalúrgica que faz ligas de cobre e zinco – usadas tanto na indústria civil de radiadores como na indústria militar. Nós preparamos e laminamos as ligas. Para artilharia, fazemos discos largos e grosso; para armas, fazemos pequenas pelotas do tamanho de um dedo, que depois são transformadas em balas.

Vocês trabalham com o Exército Romeno?
Trabalhamos com quem quiser trabalhar conosco, desde que a lei permita, claro.

Quantas dessas pelotas de balas vocês fazem por ano?
Não posso fornecer esse tipo de informação a você, acho que não é o tipo de coisa que a mídia deve saber.

VICE: Esse TAB (amphibious personal carrier – designação militar romena para veículos blindados) está pronto para a batalha?
Sargento de primeira classe Văduva: Sim, ele contém três armas de 12,7 centímetros. É possível transportar nove pessoas nele, cada uma num assento – sem aperto. Por enquanto, temos 24 dessas belezas. É um produto sueco, montado na fábrica de Mizil.

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Achei que a Romênia fosse famosa por fazer TABs.
Sim, fazemos um tanque similar na fábrica de Moreni.

Esse aqui já viu alguma ação?
Sim. Ele foi usado no Afeganistão, mas não por mim. Eu dirijo e, de um ponto de vista mecânico, não poderia ficar mais feliz com ele.

Pensando agora, os militares romenos pareciam descontraídos e animados, não pareciam afetados pela histeria da internet romena com uma possível Terceira Guerra Mundial. Por outro lado, não posso dizer que fiquei particularmente impressionado com as armas. As novas armas à nossa disposição são poucas e parece que não produzimos nada novo há anos. Resumindo, se a Rússia decidir invadir a Romênia, vou me esforçar para aprender a pronunciar Spasiba (obrigado) corretamente.

Veja mais do trabalho de Mugur Vărzariu no site dele e em sua página do Facebook.

Tradução: Marina Schnoor