FYI.

This story is over 5 years old.

Coluna do Greg Palast

Chateei o Ministro Grego que Chamo de Gordo Canalha

Pangalos é mais conhecido por culpar os trabalhadores da Grécia pelo horror e a fome que pairam sobre os escombros do que um dia foi a economia grega.

O autor com o ministro grego Theodoros Pangalos.

O Greg Palast é um autor de best-sellers lançados pelo New York Times e um destemido repórter investigativo que trabalha para a BBC Television, a Newsnight e o The Guardian. Palast mastiga e cospe os ricos. Veja as matérias e filmes dele em www.GregPalast.com, paraonde você também pode mandar aqueles seus documentos carimbados como “confidenciais”.

Não era muito difícil denotar o Gordo Canalha no meio da multidão de modelos russas, puxa-sacos e especialistas em mídia. Além disso, eu e o Gordo Canalha estávamos ambos desesperados por café e rumamos para a mesma mesa vazia (nós dois tínhamos nos inscrito no Fórum Anual de Mídia da Eurásia no Cazaquistão, uma espécie de festival Burning Man para oligarcas do Oriente e seus bandos de seguidores da mídia).

Publicidade

Agora, minha política é nunca mencionar o peso de um interlocutor, nem questionar a legitimidade de seu nascimento, levando-se em consideração minhas próprias vulnerabilidades (uma pretensa groupie me disse uma vez: “Você podia fazer uns abdominais, sabe”. É, eu sei).

Mas esse Gordo Canalha em particular está pedindo por isso. E olha que tentei tirar a barriga enorme dessa besta dos meus pensamentos, mas ainda tenho uma história do New York Times dobrada no meu bolso que começa assim:

ATENAS – Como diretor de escola fundamental, Leonidas Nikas está acostumado a ver crianças brincando, rindo e sonhando com o futuro. No entanto, recentemente ele tem visto algo muito diferente, algo que ele achava que seria impossível na Grécia: crianças procurando latas de comida no lixo da escola; jovens necessitados pedindo sobras para os colegas; e um garoto de 11 anos, Pantelis Petrakis, se curvando de dor por causa da fome.

O Gordo Canalha — ou Theodoros Pangalos, do Partido Socialista Pan-helênico (PASOK), o equivalente ao Partido Trabalhista grego — acha que as crianças famintas gregas têm mais é que engolir o choro. Pangalos, como você pode ver na foto acima, não está se curvando de dor por causa da fome. Na verdade, parece mais que ele vai e se curvar por causa de dores do parto, se é que ele ainda consegue se curvar.

Pangalos é mais conhecido por culpar os trabalhadores da Grécia pelo horror e a fome que pairam sobre os escombros do que um dia foi a economia grega. No entanto, claro, não é culpa dele; até o ano passado, e por todo o período central da crise, ele era apenas o vice-primeiro-ministro da Grécia — então, por que diabos ele deveria ser responsabilizado por qualquer coisa?

Publicidade

Pangalos reclinado.

O ministro Pangalos é muito amado pelos caciques dos bancos da Europa, por abutres especuladores e pela presidente prussiana Angela Merkel, isso porque em Pangalos eles têm um gigantesco grego para repetir seu mantra: que o colapso repentino da nação grega só pode ser culpa dos gregos preguiçosos cuspidores de caroço de azeitona, que não trabalham mais do que três horas por semana e que se aposentam ainda adolescentes para ficar bebendo uzo subsidiado pelo Estado.

Pangalos lidera a Quinta Coluna de Gregos pedindo pela aceitação dos termos alemães de rendição econômica: a austeridade, o que significa cortes nos subsídios em alimentação, pensões e empregos. No momento, mais de um em quatro gregos (27%) estão desempregados.

Enquanto caçávamos cafeína, o Gordo Canalha me disse que qualquer um que reclama do ditame de austeridade “é um fascista, comunista ou teorista da conspiração”. Ele não me disse em qual dessas três categorias se enquadravamas crianças de 11 anos famintas de Atenas.

Só para constar, gregos que conseguem arranjar um emprego trabalham 619 horas a mais por ano (veja tabela) que o alemão comum (e muito, muito mais do que britânicos e norte-americanos).

Porém, no mundo de acordo com Pangalos, Merkel e os chefões da mídia, a Grécia foi direto para o inferno porque a nação inteira virou, de repente, um bando de malandros que só sabem se esquivar do trabalho.

Publicidade

No entanto, há outra explicação para toda essa desgraça: a Grécia é uma cena de crime. E se os trabalhadores não são os perpetradores desse crime, eles são as vítimas: enganados, defraudados, com suas indústrias nacionais saqueadas e seu tesouro drenado por uma fraude absurda.

Em 2001, a Grécia largou a dracma pelo euro. A dracma era boa o suficiente para Aristóteles e muito boa para o turismo, a principal indústria da Grécia. No entanto, quando a diversão e o sol foram remarcados em euros, os turistas cruzaram o Adriático para comer o kebab kofte a um preço muito mais baixo em lira turca. As visitas turísticas pré-euro na Grécia superavam as da Turquia em milhões; mas, no ano passado, foi exatamente o oposto e dois terços dos turistas foramse bronzear na Turquia.

Com o Tesouro sangrando moeda forte, o governo do PASOK do ministro Pangalos se juntou à oposição em uma complexa operação com moeda internacional para esconder essas perdas do público e, mais importante, do Banco Central Europeu.

A chanceler alemã Angela Merkel com o primeiro-ministro grego Antonis Samaris (Imagem via).

Mas por que encobrir o déficit? A resposta é que o euro é mais do que uma moeda: é uma camisa de força, uma série de regras constritivas que, por exemplo, proíbem qualquer nação de ter um déficit de mais de 3% do PIB.

Isso é impossível em uma recessão – sem falar que é simplesmente loucura – já que requer cortar gastos públicos quando eles são mais necessários. Os Estados Unidos, a China, o Brasil, a Índia — as nações que puxaram o mundo da beira da depressão — todas têm déficits bem maiores do que 3%. Pedi à maga das finanças Nomi Prins para calcular a taxa de débito para o PIB dos Estados Unidos usando as regras do euro e ela estima que o déficit de Obama esteja agora, bem abaixo do pico da recessão, em 10,2% do PIB.

Publicidade

A Grécia, temendo a expulsão do hospício do euro, voltou-se para a Goldman Sachs. Por meros $400 milhões (cerca de R$857 milhões) em honorários, além de sacos de ouro em ganhos de negociações ilícitas, o banco de investimentos estava disposto a cozinhar os livros da nação por meio de um conjunto complexo de transações derivativas. [Para obter mais informações sobre o engodo derivativo, leia “How Goldman Sacked Greece”.]

Quando o engodo foi revelado, em 2009, o povo grego teve que pagar aos detentores de títulos enganados um prêmio para assegurar contra o incumprimento dos débitos da nação. O seguro de incumprimento de créditos custou uma média de US$14 mil (R$30 mil) por família por ano.

Quando eu era investigador de estelionato para o Departamento de Justiça norte-americano, nos dias em que a gente ainda fingia que existia justiça nos Estados Unidos, teríamos chamado o truque dos derivativos de “fraude de mercado”. Teríamos algemados os perpetradores, jogado eles na cadeia e depois feito com que eles tossissem seus lucros escusos.

Assim, Goldman deve pagar, certo? Não de acordo com Pangalos, porque — na visão dos governantes do nosso mundo — as vítimas do golpe são tão culpadas quanto os golpistas. Pangalos até colocou isso como o famoso (ou infame) lema: mazi-ta-fagame, cuja tradução é: “Comemos isso todos juntos” (o trecho foi até usado em uma música do Plastic Flowers).

Mas evidências visíveis sugerem que Pangalos, não Pantelis — o garoto da dor de estômago — comeu tudo sozinho.

Publicidade

As privatizações em massa de propriedades públicas a preço de wierne schnitzel contou com grandes garfadas de vários especuladores alemães, mesmo com as indústrias da Federação Alemã reclamando sobre os “príncipes” da Grécia engolindo os ativos.

Eu ia convidar o ministro Pangalos para o almoço para testar minhas teorias, mas ele foi embora com uma bufada paquidérmica quando perguntei sobre Geir Haarde. Haarde, o ex-primeiro-ministro da Islândia, foi considerado culpado de esconder, de maneira criminosa, seu conhecimento sobre o truque usado pelos bancos islandeses antes de derreterem as finanças nacionais.

Perguntei ao Gordo Canalha: “Você acha que deveria estar na cadeia” por causa da sua conduta similar no governo grego?

Talvez tenha sido por isso que o ministro Pangalos não quis almoçar comigo.

Primeiras duas imagens cortesia de Anthony DiMieri/Fundo Investigativo Palast.

O livro de Greg Palast Vultures' Picnic, que inclui capítulos sobre a Grécia e Goldman, será publicado na Grécia no começo do outono pela Livani. Baixe o primeiro capítulo, Goldfinger (em inglês), e vídeos no www.VulturesPicnic.org.

Siga o Greg no Twitter: @Greg_Palast

Anteriormente - Uma Ideia Inovadora: Perguntar aos Afegãos Sobre o Futuro do Afeganistão