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Politică

Quem é Osmar Serraglio, o novo ministro da Justiça?

O deputado do PMDB disse que prisão de Cunha era ‘a queda da República’. A escolha de Temer acarretou rompimento do vice-presidente da Câmara com o governo.

Foto: Agência Brasil

Depois de muita hesitação, negociações e algum mistério, o governo de Michel Temer finalmente cedeu à pressão da base do PMDB na Câmara e anunciou na tarde desta quinta-feira (23), para o desgosto dos foliões, seu novo ministro da Justiça e Cidadania: Osmar Serraglio (PMDB-PR). Com a confirmação de Serraglio no lugar de Alexandre de Moraes (que acabou de se desfiliar do PSDB para ser ministro do STF), e a saída repentina de José Serra (PSDB-SP) do Ministério das Relações Exteriores, os tucanos perdem espaço no coração da máquina de Temer — resta saber se é uma estratégia clara do partido ou um recuo parcial.

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A questão que paira é: quem é Osmar Serraglio? Advogado de profissão, o deputado paranaense está na quinta legislatura na Câmara. Entre as eleições de 2010 e 2014 seu patrimônio declarado mais que dobrou, saltando para mais de R$ 5 milhões. Seu nome ganhou destaque nacional quando foi relator da CPMI dos Correios, atrelada ao mensalão. Em 2008, chegou a se desentender com Temer, ao tentar disputar a eleição da Câmara contra o ex-interino, mas acabou voltando atrás. Em 2010, sofreu pressão após a denúncia de que um de seus funcionários seria funcionário fantasma na Câmara de Vereadores de Umuarama, sua base eleitoral.

Osmar e Cunha. Foto: Agência Brasil

Membro da bancada evangélica e da bancada ruralista, Serraglio foi denunciado em 2014 pelo Ministério Público do Mato Grosso por ter supostamente recebido R$ 30 mil para relatar um projeto que dificultaria a demarcação de terras indígenas — o STF instruiu a Polícia Federal a seguir com a investigação contra Nilson Leitão (PSDB-MT), mas deixou Serraglio de fora. Outro processo, no qual era acusado de peculato e lavagem de dinheiro em um esquema na prefeitura de Iporã, no Paraná, foi arquivado a pedido do MPF em 2015.

Em 2016, Serraglio foi presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara. Na ocasião, indicou dois aliados do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) como relatores do processo de cassação do então presidente da Câmara — ambos os relatórios, que pediam a permanência de Cunha, fracassaram. Acusado de uma manobra para protelar mais ainda o processo de queda do ex-presidente da Câmara, Serraglio chegou a descolar direito de resposta no Jornal Nacional para explicar a ginástica regimental. Quando Cunha foi preso, Serraglio saiu em sua defesa, afirmando que o episódio marcava a "queda da República".

A indicação de Serraglio ao cargo de ministro da Justiça ligou alertas fortes na oposição. O senador Roberto Requião (PMDB—PR), considerando-se traído pelo deputado, que apoiou Beto Richa (DEM-PR) para o governo do Paraná no lugar do próprio Requião, soltou um vídeo chamando Serraglio de "amigo de Cunha". O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) disse que a escolha de Serraglio é "uma ameaça à Lava Jato". Mas o pior parece vir de dentro do governo. Revoltado com a indicação em detrimento a um nome mineiro, o vice-presidente da Câmara, Fabio Ramalho (PMDB-MG), declarou rompimento oficial com o regime Temer. A banda mineira é a segunda maior na Casa, e Ramalho prometeu desde já guerra contra medidas consideradas essenciais para o Planalto, como a reforma da previdência. Parece que a solução de Temer já está saindo pela culatra.

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