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Os doze passos para deixarem de ser desempregados anónimos

Calmex, descansem lá a meloa, que este texto não vai ser mais uma feijoada de frases sobre o desemprego e a falta de oportunidades desta juventude.

Crescer é tipo andar de tractor pela primeira vez: pouco recomendável e propício a quedas. Isso (ou algo do género) era o que me dizia a minha avó, essa mulher que eu respeito cegamente, a citar o bendito povo — entidade que não me diz nada em particular, mas que, sendo amiga da minha avó, minha amiga é também. Voltando ao que interessa, dizia eu que crescer não é fácil, principalmente no tempo em que as palavras “jovem” e “emprego” parecem um casal recém-divorciado, a trepar andaimes com falta de sexo. No entanto, ele há coisas sem volta a dar e, como tal, mais cedo ou mais tarde, temos de dar esse salto para a vida adulta. Calmex, descansem lá a meloa, que este texto não vai ser mais uma feijoada de frases sobre o desemprego e a falta de oportunidades desta juventude que tem mais apelidos do que os filhos dos Duques de Bragança. Seguindo o empurrão do programa Impulso Jovem lançado pelo governo, decidi comprometer-me com a causa e explicar a cena como se vocês fossem meio burrinhos, não vá aí alguém andar à procura de um estrado que não esteja já ocupado por uma contorcionista russa. Somos jovens enquanto o Governo achar
Se andavam um bocado atrasados na conclusão dos estudos e já nem dormiam de noite a pensar que não poderiam ter acesso a essa grande rampa de lançamento para a vida precária que são os estágios profissionais, sosseguem lá a passarinha. Ao que parece, o novo programa de Governo vai permitir que 90 mil alminhas deixem de perder tempo a olhar para sites de emprego no estrangeiro. São vários programas nos quais se podem enquadrar e que abrangem áreas fixes como as artes, o desporto, a investigação e até aquelas que, embora “soneiras” (diz quem sabe), são importantes para a economia do país, como o sector exportador e a administração pública. Candidatarem-se a isto até nem dá assim muito trabalho. Basta que tenham entre 18 e 30 anos (fácil), estarem desempregados há mais de quatro meses (só?) e terem um mínimo de qualificações de grau 2 (isto não tem a ver com o número de minis que bebes em meia-hora, a tabela pode ser vista aqui). O vosso grande argumento na abordagem à empresa onde querem trabalhar é os benefícios fiscais que vocês lhes vão dar, pela forma de reembolso de parte das contribuições para a segurança social. A contratação é a termo, para que não saiam aí pela porta a pensar que já sabem assobiar, mas isto até é jeitoso porque, de hoje para amanhã, até podem encontrar um(a) gajo(a) que vos ponha a fazer as malas para a Polónia. Idiota não é sinónimo de se ser empreendedor
Jovem que se preze, hoje em dia, já traz no seu currículo, pelo menos, um curso de empreendedorismo, uma participação num qualquer concurso de ideias inovadoras e está, ou já esteve nem que seja uma vez, envolvido em projectos. Se este não é o vosso tipo, meus amigos, está na hora de pintarem os lábios e fazerem-se à vidinha. Para tal, só precisam de pedir o vosso Passaporte para o Empreendedorismo. Não fiquem alarmados que este documento é dos legais, não tem sotaque brasileiro e não é para trabalho no sector das carnes. A bem dizer, o que eles vos dão ferramentas para que possam pôr essas ideias que vos tiram o sono no terreno. Formação, apoio técnico, acesso a conhecimento universitário e a microcrédito são algumas das medidas que o senhor Passos Coelho desenhou para vos ajudar a abrir empresas ao desvario, de maneira mais torta que as ruelas da Mouraria. Isto só é acessível para um jovem com formação superior (não fica claro se por meio de equivalência ou presencial). Rezo ao empreendedorismo 24 vezes ao dia
Os nossos governantes também e é por isso que a próxima medida do pacote Impulso Jovem tem um título quase aglutinador e profético: Portugal Empreendedor. Se vocês são gajos que têm alucinações com coisas que gostavam de fazer ou ver acontecer e que fazem parte dessa nova religião nacional que é o empreendedorismo (e isto não é um plágio do texto do Ricardo Araújo Pereira), peguem nos vossos telemóveis e usem o híper-incrível-super-califraligístico-tarifário-à-borla e toca a ligar para esta gente que diz que está mortinha para vos ajudar. A CIP, a CAP e a ANJE são os tipos encarregues de aturar os vossos devaneios e de perceber se vos podem gerar “cachim”: a vocês e a essa senhora que manda na nossa vida, a Economia Nacional (repare-se na vénia que o texto faz aqui). Se eles gostarem de vos ouvir, até são capazes de vos ajudar a redigir um plano de negócios e a assinar um empréstimo a 40 anos para que possam criar o vosso próprio emprego. Isto do emprego é mais giro em grupo
Andam por aí com dificuldades em conhecer povo interessante e ainda por cima não têm um empregozinho para vos distrair? Esqueçam lá as agências de encontros e o Facebook, a nova cena são as cooperativas, essas entidades que, a bem dizer, ninguém sabe muito bem o que são. Em miúdos, diz-se que juntam pessoas e grupos para que estes possam trabalhar em rede —reduzindo os custos fixos —e ganhar estrutura para combater os adversários mais possantes do mercado. É quase como se fosse uma maçonaria, mas sem os aventais e os rituais maricas. Por isso, se têm entre 18 e 30 anos e mais do que três amigos, pensem em fazer uma cena destas através da CoopJovem. e, já sou adulto! Acabei de contrair um empréstimo
Sim, juventude, depois de três chumbos e de alguns achados embaraçosos na carteira, ainda há esperanças para deixarem a vossa mãe orgulhosa e de vocês terem uma cena vossa. Para isso, é só aproveitarem uma das idas ao Centro de Emprego e surpreenderem o segurança que está a tirar senhas com um pedido sobre informações para o programa MicroInvest (que, diga-se, já tem filas de espera menores). Do outro lado, hão-de encontrar um simpático funcionário que vos vai explicar o que têm de fazer para submeterem o vosso plano de negócios a financiamento. Convém que já levem tudo escrito em papel, desde a ideia de negócio, até aos passos que dariam para implementá-la no terreno — com especial destaque sobre as contas, os custos de arranque e de implementação do negócio. Não sabem fazer? Não tem mal, eles têm lá uns vouchers para descontarem em ajuda técnica junto de um desses Dalai Lama do empreendedorismo nacional. Atenção que isto não é para ser aproveitado para comprar um iPhone, para isso podem usar o vosso cartão de descontos na loja dos chineses ao lado de casa.