Feitas com alimentos pré-cozidos e industrializados, algumas das refeições que vemos no Instagram e Facebook do Diário da Merenda, como as citadas no início do texto, vão de encontro às diretrizes previstas no PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), que sugere que esses alimentos devem ser utilizados apenas em casos emergenciais."Sobre as normas na hora da compra de produtos pra merenda, segundo o PNAE pelo menos 70% da verba do governo federal deve ser para compra de alimentos básicos e no máximo 30% deve ser destinado a alimentos restritos (industrializados, prontos e semiprontos para consumo)", explica a nutricionista Daniela Bicalho Alvarez, especialista em nutrição pediátrica e escolar, que faz sua pesquisa de mestrado em Nutrição e Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP)."Segundo o PNAE, pelo menos 70% da verba do governo federal deve ser para compra de alimentos básicos e no máximo 30% deve ser destinado a alimentos industrializados" — Daniela Bicalho
Foi a partir da mobilização dos estudantes que a merenda virou caso de polícia. Depois das ocupações das escolas, inúmeras manifestações nas ruas, com direito a estudante enfrentando o Coronel Telhada na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), o caso das merendas nas escolas estaduais do Estado finalmente se tornou alvo de uma CPI em maio deste ano.Menos de 24 horas depois dos estudantes ocuparem o plenário da Casa, cerca de 70 deputados concordaram com a investigação – mais que o dobro do exigido (32) — liberando assim a formação da Constituição Parlamentar de Inquérito para investigar o desvio de verba em 22 cidades paulistas e no Governo Estadual. Cinco pessoas que trabalhavam na Cooperativa Orgânica Agrícola (Coaf) — a cooperativa acusada de desviar dinheiro público na compra de insumos — e deputados também são alvo da investigação.Assista ao documentário "São Paulo: Educação Ocupada""A CPI investiga o desvio de verba em 22 cidades paulistas e no Governo Estadual, além de cinco pessoas que trabalhavam na Cooperativa Orgânica Agrícola (Coaf) e deputados."
TENTATIVA DE MUDANÇA
"A merenda melhorou, mas o cardápio que a Janaína criou não está sendo seguido como nas duas semanas em que ela esteve lá. Teve semana em que o macarrão com sardinha foi repetido por dois dias seguidos" — L. P. M., estudante
O PREÇO DA MERENDA
Para chegar às receitas do dia-a-dia dentro do projeto Cozinheiros da Educação (também foram desenvolvidas cinco receitas sazonais, como sopas para o inverno, e mais cinco festivas, para comemorações de datas especiais, como o São João), Janaina e a equipe de nutricionistas fizeram testes ao longo do primeiro semestre até chegar ao dez pratos escolhidos: estrogonofe, frango de caçarola, feijoada, macarrão bolonhesa, peixada, ovo pochê e arroz com lentilha (servidos na segunda sem carne), carne de panela, carne moída, cuscuz frango e macarrão com sardinha.Além dos valores nutricionais dos pratos, a chef e as nutricionistas levaram em conta o tempo de preparo e a oferta desses alimentos no Estado. "Tivemos que aguardar as licitações dos produtos processados vencerem, como a carne em pouch [um tipo de embalagem plástica que preserva o alimento pré-cozido], para abrir novas atas de compras. Enquanto isso, pudemos pensar em como desenvolver as novas merendas", explica Giorgia Castilho Russo Tavares, nutricionista das Secretaria de Educação que encabeça o projeto.Para alimentar cerca de 1,8 milhão de estudantes da rede estadual de ensino em São Paulo, as refeições precisam seguir uma variação de preço entre R$ 0,59 a R$ 1,18 por prato.