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Pelo Menos um Suspeito do Massacre no “Charlie Hebdo” Está sob Custódia da Polícia e Dois Outros Estariam sendo Rastreados no Norte da França

Um dos três supostos atiradores está agora sob custódia, e depois de uma enorme caçada aos suspeitos, vários meios de comunicação informaram que os outros suspeitos já foram localizados no norte do país.
Imagem via AFP/Getty

Um dos três supostos atiradores responsáveis pelo pior ataque terrorista na França em décadas está agora sob custódia; além disso, depois de uma enorme caçada aos suspeitos, vários meios de comunicação informaram que os outros suspeitos já foram localizados no norte do país.

Os atiradores assassinaram 12 pessoas e feriram pelo menos 11 na manhã de quarta-feira, na sede de Paris do Charlie Hebdo, uma revista satírica que já tinha sido ameaçada antes por zombar do Islã.

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De acordo com o Le Parisien, dois dos agressores pesadamente armados foram vistos hoje pela manhã em Aisne, perto de Villers-Cotteret, na região de Picardy. Eles teriam assaltado um posto de gasolina atrás de combustível e alimentos.De acordo com o gerente do posto, fugiram em direção a Paris.

Além disso, hoje uma policial foi morta e um funcionário municipal ficou gravemente ferido num segundo tiroteio nas ruas de Paris, mas não se sabe ainda se os ataques estão relacionados.

Na quarta, três homens armados com armas automáticas invadiram a sede do Charlie Hebdo no centro da capital francesa por volta da 11h30 (hora local). Eles mataram 10 funcionários da revista e dois policiais num ataque metódico e impiedoso que durou apenas alguns minutos.

Os homens escaparam num Citroen preto,que, depois, foi abandonado no 19º arrondissement de Paris. Teve início uma caçada nacional liderada pela polícia de Reims, uma cidade a 145 km ao norte da capital francesa. Uma batida teria sido realizada na noite de quarta pelas forças da polícia num ponto da cidade: há relatos de que pelo menos três apartamentos foram vasculhados em dois bairros de Paris.

A polícia identificou os suspeitos como Said Kouachi, 34 anos; Cherif Kouachi, 32; e Hamyd Mourad, de 18.

A procuradoria de Paris confirmou que um dos supostos atiradores do tiroteio se entregou. O mais jovem dos suspeitos, Mourad, entrou numa delegacia na cidade de Charleville-Mézières, cerca 230 km a nordeste de Paris, perto da fronteira com a Bélgica.

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Fontes anônimas disseramàBFM TV News que ele se entregou depois de ver seu nome nas redes sociais.

A polícia na França agora tenta obter informações dos suspeitos restantes (irmãos Kouachi)

– David Clinch (@DavidClinchNews), 8 de janeiro de 2015

A polícia caçou os suspeitos restantes durante toda a noite. Informações indicam que agentes realizaram várias batidas em Paris e Reims. Na manhã de quinta, em entrevista à rádio RTL, o Primeiro-Ministro francês, Manuel Valls, confirmou que "várias prisões" foram feitas durante a noite. O Ministro do Interior francês, Bernard Cazeneuve, acrescentou que "sete pessoas" foram presas nessas batidas policiais até agora.

Também surgiu a informação de que Cherif Kouachi já tinha sido preso por acusações ligadas a terrorismo em 2008, como a de ter ajudado a canalizar combatentes da França para insurgentes no Iraque. Ele foi sentenciado a 18 meses de prisão. Valls afirmou que, "sem dúvida", os irmãos são conhecidos das autoridades e já estiveram sob vigilância no passado.

A AFP informou que o Ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, confirmou que um dos indivíduos já tinha sido preso e um suspeito estava tentando fugir depois do tiroteio. A polícia o descreve como um homem de 1,75 m e com a cabeça raspada, de acordo com a France 24.

Tiros no sul de Paris: dois feridos estão em estado grave (fonte da polícia)

– Agence France-Presse (@afpfr), 8 de janeiro de 2015

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Uma testemunha do ataque da quarta-feira ao Charlie Hebdo, que pediu para permanecer anônima, contou que chegou à área quando o tiroteio havia começado e que os tiros duraram cerca de 10 minutos; além disso, relatou ter ouvido o que parecia ser a explosão de um foguete. A polícia chegou rapidamente à cena e trocou tiros com os agressores.

Logo depois que o tiroteio parou, um homem coberto de sangue saiu do prédio gritando "Os corpos e os feridos estão ali", ela acrescentou. Uma senhora de 70 anos, que brincava com as netas num parque próximo, disse à VICE News que ouviu os tiros e viu os civis escapando da área a pé e de bicicleta.

Oficiais de segurança confirmaram que o ataque foi conduzido por três homens armados. A France 24 citou fontes próximas da investigação corroborando a informação de que os homens estavam armados com kalashnikovs e um lança-foguetes.

Segundo a polícia, os homens gritaram "O Profeta está vingado" enquanto realizavam o ataque. O procurador de Paris, François Molins, contou à imprensa que testemunhas disseram ter ouvido os agressores gritarem "Allahu Akbar!" ("Deus é Grande"). O mesmo grito pode ser ouvido num vídeo ainda não verificado aparentemente filmado por alguém que passava pelo local. Os homens manejavam as armas com proficiência e operaram com precisão militar.

A cartunista do Charlie Hebdo Corrine Rey disse ao semanário francês Humanité que os homens se identificaram como sendo da Al-Qaeda e que falavam francês perfeitamente. Eles entraram no prédio obrigando Rey a abrir a porta.

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Um vídeo da rua em frente ao prédio feito por uma testemunha mostra os homens se aproximando de um policial ferido e disparando contra ele à queima-roupa enquanto ele levanta as mãos em tom de súplica.

O presidente francês, François Hollande,afirmou que o ataque foi, "sem dúvida", um ato terrorista. Falando no local antes de uma reunião de emergência, Hollande, visivelmente emocionado, descreveu-o como um ato de terrorismo "especialmente bárbaro", declarando quinta-feira um dia de luto nacional. Ele acrescentou que vários ataques terroristas tinham sido frustrados nas últimas semanas e que como resultado, o alerta nacional de terrorismo está no nível mais alto. Segurança extra também foi acrescentada a outros escritórios de meios de comunicação e locais de adoração da capital.

A sátira religiosa do Charlie Hebdo já tinha atraído a ira de radicais islâmicos antes. Em 2011, seu escritório foi incendiado por uma bomba depois da publicação de uma caricatura do Profeta Maomé e sua equipe tinha recebido proteção da polícia depois de ameaças. Nesta manhã, a revista publicou um cartum do líder do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi, grupo extremista que opera no Iraque e na Síria, pedindo por ataques de "lobos solitários" ao Ocidente.

A revista já estava sob proteção da polícia como resultado de ameaças anteriores. Inclusive,deacordo com a France 24, um dos dois policiais mortos tinha sido destacado para proteger o editor do jornal, Stephane Charbonnier – morto no ataque –, depois de ameaças. Entre os mortos, também estão os cartunistas Jean Cabut, Georges Wolinski e Bernard Verlhac, além do escritor Bernard Maris.

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O ataque veio num momento em que o extremismo islâmico é uma preocupação-chave na Europa. Legisladores estão particularmente preocupados que indivíduos que se juntaram a grupos extremistas armados lutando na Síria possam retornar e realizar ataques.

Importantes figuras muçulmanas na França imediatamente denunciaram as mortes. A União das Organizações Islâmicas na França (UOIF) se pronunciou com a seguinte declaração: "Charlie Hebdo se tornou o alvo de um ataque chocante. A UIOF condena, nos termos mais fortes possíveis, esse ataque criminoso e esses terríveis assassinatos".

O presidente americano, Barack Obama, se comprometeu a ajudar a trazer à justiça os responsáveis por esse "terrível tiroteio", frisando que a França sempre defendeu "valores universais" e "ofereceu ao mundo um exemplo que vai permanecer muito além da visão odiosa desses assassinos".

O Secretário de Estado americano, John Kerry, destacou que os agressores nunca poderão destruir os valores centrais de liberdade de expressão e da liberdade de imprensa, ressaltando que as mortes só vão fortalecer a resolução de se permanecer na defesa desses valores.

"Os assassinatos de hoje são parte de um confronto muito maior. Não entre civilizações, não, mas entre a própria civilização e aqueles que se opõem ao mundo civilizado", disse Kerry aos repórteres depois de uma reunião em Washington com seu colega polonês. "Os assassinos ousaram proclamar que Charlie Hedbo morreu, mas não se engane: eles estão errados."

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Nas horas seguintes ao ataque, a área cercando a sede da revista estava silenciosa e pesadamente guardada por vários policiais fardados e à paisana, além de ambulâncias e caminhões de bombeiros.

Muitos moradores do local não conseguiram voltar para casa e ficaram perto dos cordões da polícia. "É dramático, é muito estranho que isso tenha acontecido em Paris. Cheguei aqui há uma hora e estou tão chocado que ainda não consegui me mexer", lamentou à VICE News David, 23 anos, um morador cujo caminho para casa foi bloqueado pelo cordão da polícia.

Ele culpou a juventude radicalizada pelo ataque. "Isso acontece por causa da manipulação dos cérebros dos jovens, manipulação dos jovens, especialmente daqueles que estão perdidos de alguma maneira", opinou. Seus amigos concordavam com a cabeça.

A maioria dos moradores da redondeza contou que a revista deve continuar trabalhando como sempre. "É um jornal satírico. Eles fazem piada com todo mundo: judeus, católicos, chineses", disse Francoise, 63 anos, à VICE News. "A crítica, a sátira, é minha cultura. Fui vacinado pela Charlie Hedbo", ele completou, brandindo uma cópia bastante gasta da revista. "Estamos sentidos. Eu não os conhecia pessoalmente, mas estou triste."

Ele acrescentou que a França ainda deve lutar por um multiculturalismo pacífico. "Viver juntos é o que devemos fazer. Diversidade não é uma falha." Assim que anoiteceu, milhares de pessoas começaram a se reunir na Place de la Republique, em Paris, para uma manifestação não oficial de solidariedade com a equipe da revista.

A multidão lotou até as entradas da praça, mas a manifestação foi moderada. Muitos ficaram em silêncio segurando velas e cartazes. Gritos ocasionais de "Liberdade de expressão" e "Je suis Charlie" podiam ser ouvido.

Adrian, 23 anos, segurava um cartaz onde se lia: "Charb[bonnier] morreu livre". Ele contou à VICE News que escreveu a mensagem porque o editor do Charlie Hebdo "sabia que estava sendo ameaçado e continuou a fazer o que achava certo".

"Talvez eu nunca faça um centésimo do que ele fez", ele ponderou. "Mas o mínimo que eu podia fazer era vir para cá."