Chutes nas vitrines, pixações, agressões verbais. Em seu cotidiano, os funcionários do Museu da Diversidade Sexual precisam lidar com situações de tensão. Localizada na estação do Metrô República, em São Paulo, a instituição promove exposições e eventos com o intuito de preservar e divulgar a memória LGBT. Para o diretor do museu, Franco Reinaudo, o que acontece no espaço é reflexo do preconceito que ainda impera no Brasil. Basta lembrar do encerramento da exposição "Queermuseum", no Santander Cultural, em Porto Alegre ou o cancelamento da peça "O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu", protagonizada por uma artista trans, no Sesc Jundiaí.
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O panorama desanimador não intimida Francos, para quem o museu serve como "um espaço de diálogo". A instituição foi fundada em 2012, a partir de uma parceria do movimento LGBT com a Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo.
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O espaço de 100 m², onde o museu está instalado, foi cedido pelo Estado em parceria com o Metrô. Franco conta que, nas negociações, também se decidiu pelo local devido à sua ligação com a comunidade. "Muitos LGBTS moram por aqui."Foi nessa região também que, em 2000, o adestrador de cães Edson Néris da Silva foi assassinado por um grupo de skinheads, enquanto caminhava com o seu namorado. "Esse foi o primeiro caso que a Justiça brasileira identificou como um crime de ódio. Foi um marco na história da luta LGBT e é por isso que o museu está aqui", afirma.
Por estar dentro do metrô, a instituição recebe um público diversificado. "Aqui há um pouco de tudo", brinca o diretor. Ele conta que, não raro, indivíduos aparecem com a Bíblia para excomungar o local. Por sua vez, há os que recorrem ao museu em busca de abrigo. "São pessoas que, muitas vezes, foram expulsas de casa, por conta da discriminação, e não têm para onde ir. Já temos um processo padrão para esses casos, trabalhando com instituições parceiras que podem acolhê-las".Com entrada gratuita, a instituição está sempre com as janelas abertas, sendo possível, para quem anda pela estação do metrô, ver as obras pelo lado de fora. Ele reforça que uma das principais missões do museu é a educação. "Não vamos mudar o mundo se falarmos apenas para nós mesmos".
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Em busca da memória
Abertura Todos Podem Ser Frida - fachada do museu. Foto: Renata Beltrão/Divulgação
Esse processo de apagamento da memória LGBT não é exclusividade do Brasil. Segundo o diretor, além do de São Paulo, só existem, no mundo, mais dois museus que tratam especificamente da história do movimento: o Schwules Museum em Berlim e o GLBT History Museum na cidade de São Francisco. O primeiro foi fundado em 1984 por uma iniciativa da própria comunidade gay da capital alemã. Já a instituição norte-americana foi inaugurada em 2011, no famoso bairro do Castro.
Ao falar sobre acervo LGBTQ, Franco cita como exemplo, o Acervo Bajubá, fundado em 2010 pelos pesquisadores Felipe Areda e Remon Bortolozzi. Os dois reuniram um acervo de cerca de três mil documentos, que incluem livros de escritores vinculados a luta LGBT, como Hebert Daniel e Caio Fernando Abreu, periódicos – há exemplares do famoso jornal de temática gay Lampião da Esquina – e obras de artes de Darcy Penteado, Dimas Esquitino, entre outros produtores. Bortolozzi conta que o projeto nasceu para suprir "um vazio enorme de informações sobre a organização de indivíduos LGBT no percurso histórico brasileiro". E lembra: "Nós mesmos nos responsabilizamos pela nossa memória porque sabemos que o Estado não fará isso"
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