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Entrevista

10 Perguntas Que Sempre Quiseste Fazer a uma Médium

"Eu tenho muitas intuições e a maioria são certas. Mas, sou humana".
Foto cortesia Eva Mendonça.

Existem dois tipos de pessoas neste Mundo: os sonhadores e os cépticos. Os sonhadores vivem esperançosos, esperam sempre o melhor das pessoas e chegam a acreditar que os planetas lhes ditam a personalidade, que Deus não só existe como quer o melhor para todos nós e que as forças do Universo estão atentas a todos os nossos comportamentos para poderem castigar os maus. O chamado karma.

Eu faço parte do segundo grupo. O que aguarda pacientemente pela confirmação da ciência, que levanta a sobrancelha em dúvida a qualquer comentário que tenha por base algo sobrenatural e que acha que os humanos são tão capazes do bem como do mal, mas que, grande parte das vezes, acredita que são os maus quem ganham - ou que, pelo menos, são mais bem pagos. No entanto, por muito cepticismo que tenha, a curiosidade é em mim uma constante. A esperança de ter esperança, a vontade de perceber o que move os sonhadores a sonharem tão alto. Onde irão eles buscar tanta fé no invisível? E foi assim, nesta ânsia de conseguir respostas, que conheci Eva Mendonça.

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Eva tem o dom da mediunidade, lança cartas de tarot e dá consultas de ambas as coisas - a minha melhor amiga chegou a ser sua cliente e mostrou-se contente com o resultado. Por isso, achei que seria a pessoa indicada para me tirar estas 10 dúvidas de como será a vida de alguém que conhece (pelo menos) mais uma dimensão do que eu.

VICE: O que significa exactamente ser médium? É como naquela série de televisão "Em Contacto"?

Eva Mendonça: O médium tem a capacidade de, em consciência, sentir e conectar com a dimensão espiritual. Somos o ponto médio, a ligação, entre a consciência humana e a dimensão espiritual.

Vês mortos? Falas com eles?

Já vi, mas o normal é senti-los. Tudo se passa principalmente a um nível psíquico. Eles falam comigo, mas passam-me informação de uma forma não vocal. É como se, de repente, sempre tivesse sabido aquilo sobre eles - apesar de nunca os ter conhecido em vida. É o que se chama de “Inner Knowing”.

Como é que percebeste que eras médium?

Já trabalhava com tarot e, numa dessas consultas a uma cliente habitual, comecei a ouvir uma voz interior que me dizia “Pára e concentra-te”. Apercebi-me de que, ao meu lado, estava uma mulher, toda de negro, com uma criança ao colo e, instintivamente, soube que era a mãe da cliente a quem estava a ler o tarot. Questionei-me como é que era possível saber estas informações sobre essa senhora, que nunca tinha conhecido em vida, informações que ela me passava sem recurso aos cinco sentidos.

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Foi com esta experiência que descobri que tinha uma intuição, esta de sentir a outra dimensão. Comecei a estudar o assunto, percebi que sempre tinha tido este dom, mas que antes não ligava, achava que eram coisas da minha cabeça. Acabei por ir para Inglaterra e estudar no Arthur Findlay Spiritualist College. Surpreendi-me a mim mesma por ser médium, mas hoje sei que é muito mais natural à condição humana do que se pensa.


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Já te apaixonaste por um espírito?

Não, graças a Deus! Mas, sei que pode acontecer. Espero que nunca me aconteça a mim, deve ser complicado! No entanto, a tal senhora da minha primeira experiência como médium voltou a vir ver-me uns anos depois, já estava eu em Inglaterra. Disse-me que podia contar com ela, que tinha estado sempre comigo – provavelmente, por ser eu a quem a sua filha recorria para consultas de tarot – e que, se eu precisasse, ela estava ali para me ajudar. Tenho um grande carinho por ela apesar de nunca a ter conhecido em vida.

Já falaste com alguma celebridade morta?

A minha única experiência com uma celebridade da outra dimensão foi em Inglaterra. Nessa semana, estávamos a treinar a técnica da incorporação – deixar um espírito usar o nosso corpo como veículo para comunicar através de nós – e consegui incorporar até com bastante facilidade, apesar de não ser o caminho que escolhi nem o tipo de médium que sou.

Concentrei-me para separar a minha mente do meu corpo, para que o espírito o pudesse incorporar. Senti a sua presença a entrar em mim, ainda ouvi a sua primeira frase, mas depois disso foi como se eu ali não estivesse - naquele momento, o meu corpo era dele. No fim, a minha tutora contou-me que esse espírito se tinha apresentado como sendo, nem mais nem menos, que Albert Einstein. Através de mim, Einstein fez-lhes um longo discurso, de uns sete ou 10 minutos, que abriu com a frase: “There is a force in electromagnetism that humans call love”.

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Se eu for ver sete mediums na mesma semana, achas que todos me vão dizer/ver em mim a mesma coisa?

Não, não. Quer dizer, pode acontecer, mas o médium é um canal muito próprio. Mesmo as coisas que vemos, ou os caminhos que usamos para lá chegar, são únicos a cada um. A informação a que temos acesso - e até a maneira como a comunicamos - seria diferente, ainda que estivéssemos a ver o mesmo quadro geral.

Quando entras numa loja ou andas na rua, vês ou sentes coisas nas outras pessoas?

Sim, assim do nada vêm-me umas intuições, mas esforço-me para as afastar. Gosto de viver a minha vida com a maior normalidade possível. No entanto, há coisas que já me aconteceram mais do que uma vez, como saber que uma mulher está grávida antes de ela própria o saber.

Consegues ver o teu próprio futuro ou ler-te a ti própria?

Acho que se aplica um pouco o ditado “Em casa de ferreiro, espeto de pau”. Tenho intuições sobre mim, mas não assim tão claras – ou pelos menos não as ponho em prática como com as outras pessoas. Às vezes uso as minhas intuições para fazer certas escolhas, já me aconteceu estar muito indecisa sobre uma viagem, porque iria representar um grande gasto financeiro e lancei cartas para decidir o que deveria fazer. Também me acontece dizer coisas da boca para fora, intuições que me vêm de repente, que acabam por se tornar verdadeiras. Mas, no geral não, não uso o meu dom em mim própria.

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Achas que saber antecipadamente o que nos vai acontecer no futuro é melhor do que esperar para ver?

Aí está a razão pela qual não faço previsões nem lanço cartas para mim própria – é uma faca de dois gumes. Há certas coisas que, se as tivéssemos sabido atempadamente, poderíamos ter evitado; há outras que, pelo facto de as sabermos antes e termos decidido mudar de caminho, perdemos a oportunidade de descobrir por nós mesmos, ficando para sempre na incerteza de se teriam ou não valido a pena. Por exemplo: pessoalmente, não quereria nunca saber se os meus pais irão ter uma doença no futuro; assim como, ao começar uma relação, não gostaria de saber se vai ou não correr bem. São informações que só nos deixariam desgostosos e que mais vale esperar para ver.

Há alguma coisa em que não acredites? Deus, karma, destino, reincarnação, bruxaria, astrologia…?

Não acredito em falsos profetas nem em conceitos demasiado fixos, porque o mundo é mutável e fluído, verdades absolutas só na matemática. Também não acredito em quem tenta impor a sua verdade aos outros, principalmente quando é um médium. Por exemplo: se tenho uma intuição de que a pessoa está doente, aconselho-a a consultar um médico, mas não me atrevo a fazer nenhum tipo de diagnóstico. Há mediums que sim, que lhes dizem “você tem um cancro”. Falsos profetas lá está, porque diagnósticos cabem aos médicos fazer, não a nós.

Não resisto, preciso de te fazer uma pergunta extra. Consegues fazer uma previsão ou ter algum tipo de sensação sobre mim, apesar de estarmos ao telefone?

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Eva: Bem, ao telefone a coisa é muito mais difícil, mas dá-me um momento… Tu tens um irmão?

Eu: Uma irmã.

Eva: Exacto, é isso. Sinto uma distância entre ti e a tua irmã.

Eu: Vivo em Barcelona, ela em Madrid.

Eva: A informação que me chega é que há um denominador comum entre as duas. Como se tivessem vindo a este Mundo como pacote, têm uma ligação muito forte e, apesar da distância, vão caminhar toda a vida juntas, lado a lado. Quanto a ti, sinto que és uma pessoa positiva, que consegue e tende a descomplicar todas as situações. O teu calcanhar de Aquiles são as tuas emoções, és muito sensível e deixas que as emoções falem mais alto. O que não é mau, só dá mais trabalho. Agora fechei os olhos. Vejo um comboio.

Eu: Vou para Madrid daqui a umas semanas e é provável que vá de comboio. Ou… Ah! A minha casa cá em Barcelona é à frente de uma estação de comboios.

Eva: Deve ser isso. Percebes como funciona a clarividência? Peço que me dêem imagens, coisas que tu possas reconhecer.


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