Casos de polícia: merendas escandalosas, pão com mortadela, Coronel Telhada e secundaristas
Crédito da imagem: Diário da Merenda/ Reprodução/ Facebook

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Casos de polícia: merendas escandalosas, pão com mortadela, Coronel Telhada e secundaristas

Como a pressão pela instauração da CPI das merendas virou caso de polícia envolvendo dois estudantes e o deputado Coronel Telhada (PSDB).

Seria cômico se não fosse trágico ver o segundo deputado estadual mais votado de São Paulo, Coronel Telhada (PSDB), metido em um pastelão com os estudantes secundaristas que têm frequentado as sessões plenárias da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo). Os jovens cobram a instauração de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investigue a fundo o caso de corrupção na merenda escolar no Estado de São Paulo. E, aparentemente, escolheram azucrinar Telhada, que, por duas vezes, questionou se eles estavam ali por conta de um "pão com mortadela". A novela com ares político-gastronômicos, que ainda não acabou, virou caso de polícia, com direito a confusão, gritaria e estudantes encaminhados para a 36ª DP.

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No início do pequeno expediente (quando cada deputado tem cinco minutos livres para falar sobre o que quiser) da última terça-feira (1º de março), Telhada discursava sobre a lei do Pancadão – cuja autoria do texto pertence a ele e ao deputado Coronel Camilo (PSD) – que proíbe a aglomeração de pessoas nos fluxos de funk. No primeiro minuto, ele foi interrompido por gritos. No vídeo obtido pela VICE, é possível ouvir alguém falando que ele "não representa o povo". E foi aí que Telhada pediu, com o aval da deputada Analice Fernandes (PSDB), presidente da sessão, que a Polícia Militar retirasse a jovem que teria o xingado. De acordo com a assessoria de imprensa de Telhada, ele foi chamado de "fascista" e "assassino".

Policiais Militares retiram estudantes da sessão plenária. Foto: Rogério Padula

Nesse momento, a confusão se instaurou nas galerias. De acordo com a polícia, dois jovens que "passaram a proferir palavras impróprias" resistiram e acabaram recebendo voz de prisão. A VICE localizou uma das estudantes, mas ela não havia respondido ao pedido de entrevista até a publicação desta matéria.

De acordo com Pedro*, secundarista que estava presente no dia, a estudante teria questionado "quem foi o ladrão de merendas?". Ele relata também que "ela não ofereceu resistência, só ficou sentada. Os policiais a tiraram à força".

Policiais Militares retiram estudantes da sessão plenária. Foto: Rogério Padula

Para o estudante, o deputado ofendeu os jovens ali presentes. "Ele falou que não sabia por que a gente estava ali. Se era por partido, por deputados que estavam pagando a gente ou se era pra ganhar um pão com mortadela."

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A provocação não é nova. Durante o discurso de Telhada na sessão do dia 26 de fevereiro, quando também foi interpelado pelos jovens, ele afrontou: "Você, que está recebendo um sanduíche de mortadela pra ficar assim [ele coloca o polegar pra baixo] pra mim, não quer dizer nada". Sob as vaias do público e rindo com ironia, prosseguiu: "Pessoal, eu prometo. Se vocês ficarem quietinhos, eu pago um presunto com queijo pra vocês. Melhor que a mortadela." O vídeo, postado pelo próprio deputado, exibe os dois momentos.

O deputado estadual Coronel Telhada (PSDB). Foto: Rogério Padula

Desde janeiro, a Operação Alba Branca, da Polícia Civil e do Ministério Público Estadual, investiga compras suspeitas e superfaturadas realizadas em 22 municípios do Estado de São Paulo. Presidente da Alesp, o deputado Fernando Capez (PSDB), foi citado por um dos funcionários da Coaf (Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar), uma das empresas suspeitas. Ele teria sido uma das pessoas a receber propina; portanto, por conta disso, recentemente ele foi o alvo de protesto realizado pela Gaviões da Fiel. Tem sido investigado também o ex-chefe da Casa Civil, Luiz Roberto dos Santos, conhecido como "Moita", acusado de ter orientado funcionários da Coaf sobre como reajustar preços de contratos.

Em reportagem publicada pela Folha de S.Paulo, alunos da escola estadual Valério Strang, de Mogi Mirim, revelaram que, desde que voltaram às aulas, há duas semanas, a merenda composta por arroz, feijão, estrogonofe e salada tem sido substituída por bolacha com achocolatado ou suco de caixinha.

Crédito da imagem: Diário da Merenda/ Reprodução/ Facebook

Enquanto mais um escândalo é desvelado durante o governo de Geraldo Alckmin (PSDB), a página no Facebook Diário da Merenda mostra, com fotos, o que os estudantes da rede pública estadual de São Paulo e Goiás têm comido diariamente. A reportagem da VICE não encontrou nenhum pão com mortadela entre as publicações.

*O nome do estudante foi trocado para preservar sua identidade

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