Foto retirada do site SOS Policiais.
Os ônibus no Rio de Janeiro passaram 30 dias, de 20 de abril a 20 de maio, estampando charges dos cartunistas Angeli, Laerte, André Dahmer, Arnaldo Branco e Leonardo botando luz numa discussão ainda polêmica: DROGAS. A campanha Da Proibição Nasce o Tráfico foi criada para, segundo eles mesmo, "estimular o debate público sobre os danos que a proibição de determinadas drogas causa à sociedade". A ação rendeu pautas, fomentou a discussão, repercutiu e veio parar em São Paulo na quarta-feira, dia 27 de maio, e azedou o caldo.
O que era para estar em 40 ônibus, de 10 diferentes linhas, também por 30 dias, durou apenas um. Uma nota oficial do Consórcio INTERVIAS, empresa que gerencia e opera todas as linhas intermunicipais do estado de São Paulo, afirma que a campanha descumpre uma cláusula contratual e que as peças publicitárias seriam removidas.Veja aqui a nota:NOTA - Consórcio Intervias
O Consorcio Intervias comunica que a EMTU/SP, gerenciadora do transporte metropolitano na Grande São Paulo, não tinha ciência do conteúdo de cartazes relativos a campanha "Da Proibição Nasce o Tráfico" veiculada em alguns ônibus das linhas metropolitanas, o que configura descumprimento de cláusula contratual.
Por esta razão a Intervias já determinou a remoção das peças publicitárias dos veículos.
A ação foi vista como arbitrária por quem organizou, financiou e produziu a campanha. "Eu soube que alguém da EMTU teria ligado pra empresa e dito que essa campanha estava proibida pelo Governo do Estado (de São Paulo) e que toda essa publicidade teria que ser reirada imediatamente", conta a idealizadora da campanha Julita Lemgruber, socióloga e coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) da Universidade Candido Mendes. Ela completa: "Eles estão dizendo que a campanha é uma campanha de apologia às drogas e a gente diz que em nenhum momento estamos fazendo essa isso. A gente tá justamente chamando a atenção para o fracasso da guerra (contra o tráfico), mas ninguém tá fazendo apologia".Charge do cartunista Angeli.
André Dahmer, um dos cartunistas envolvidos, também subiu o gás. "Achei lamentável e autoritário, ainda mais vindo da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo, uma bosta de empresa, pode escrever aí." E completa. "O mercado da violência agradece. Vão continuar a vender grades, cadeados, alarmes, segurança privada. Essas coisas. Ai deles se as drogas forem vendidas no lugar certo: na DROGARIA, acabaria uma indústria enorme. Seguro de carro, carros blindados… muita coisa".Pedro Abramovay, diretor latino-americano da Open Society Foundations, patrocinadora da campanha, endossa o coro dos descontentes. "A censura é absurda e antidemocrática. O STF já decidiu que defender a mudança da política de drogas não é apologia, representa livre direito de manifestação. A democracia não é o regime da maioria. É o regime que dá os meios para a minoria virar maioria. Se um grupo é impedido de defender suas ideias, o maior atingido é a democracia."Procurada, a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo S.A (EMTU), disse que não se pronunciaria, porque o "erro" teria sido cometido pela Intervias. Até o fechamento desta reportagem o porta-voz da concessionária, Claudio de Freitas, não estava disponível para falar com a imprensa.