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Conversamos com Nosso Editor em Kiev

Desde que o presidente Yanukovych se recusou a assinar um acordo que poderia levar o país à União Europeia, as ruas de Kiev se inundaram de manifestantes descontentes. Ligamos para o Henry Langston, editor de Notícias da VICE que está lá.

Manifestantes em Kiev (foto: Konstantin Chernichkin).

Enquanto as temperaturas despencam na Ucrânia, a situação política está cada vez mais quente. Desde que o presidente ucraniano Viktor Yanukovych se recusou a assinar um acordo que poderia levar o país à União Europeia, as ruas de Kiev se inundaram de manifestantes descontentes que querem que o país siga numa direção mais Ocidental. O pano de fundo é uma disputa geopolítica entre a UE e a Rússia de Putin – os dois querem a Ucrânia em sua atmosfera de influência. Yanukovych sobreviveu a um voto de não confiança no Parlamento ontem, o que não acalmou muito as coisas. Henry Langston, editor de Notícias da VICE, está em Kiev, então, ligamos para ele para saber o que está acontecendo por lá.

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VICE: E aí, cara? Como você está?
Henry: Com frio.

Aposto que sim. Como está a atmosfera em Kiev?
Assim que chegamos, pude sentir que há uma possibilidade de revolução no ar – centenas de milhares de pessoas estão nas ruas. Elas se estabeleceram ao redor da Praça Maida (a Praça da Independência) e em áreas vizinhas, então os policiais não estão conseguindo entrar no centro da cidade. Nenhum veículo consegue passar, o que significa que nosso táxi também não passou. Tivemos que arrastar nossas malas por metade da cidade até o centro de Kiev. Na Rua Institutskaya – uma das principais – vários prédios do governo foram ocupados. O lugar onde eles imprimem o dinheiro foi fechado e ocupado pelos trabalhadores. Assim como a prefeitura e o acesso a outros prédios do governo.

Como eles estão conseguindo manter os policiais afastados?
As pessoas estão vigiando as barricadas 24 horas por dia. Os manifestantes molham o chão em frente às barricadas para que fique escorregadio, assim, se os policiais tentarem derrubar as barricadas, eles vão cair. Se eles tentarem atropelar as barricadas com veículos, eles provavelmente vão bater.

Mykola Azarov, primeiro-ministro da Ucrânia, reagindo ao voto (foto: Konstantin Chernichkin).

Qual foi a reação quando Yanukovych conseguiu superar o voto de não confiança?
Assim que ficamos sabendo disso, seguimos os manifestantes da Praça Maidan até o Parlamento, onde tinha ainda mais manifestantes. Estamos falando de milhares e milhares de pessoas. Depois, houve um acordo de que todos iriam até a residência presidencial para bloquear as entradas, mas os policiais já tinham tomado o controle da área e não deixaram ninguém se aproximar, então, as pessoas foram para outro lugar. Há muita conversa sobre revolução e sobre greves.

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O que vai acontecer agora?
Estamos numa espécie de limbo agora. Eles não podem forçar uma nova eleição e as opções legais para derrubar o governo acabaram. Então, resta a dúvida: como eles podem depor o governo? Por meio de uma revolução violenta? Ou com outros meios – como grandes manifestações e ocupações, até que o governo esteja sob tanta pressão que acabe renunciando? O problema é que cada dia que passa a cidade fica mais fria; estamos aqui há dois dias e eles disseram que esse foi o dia mais frio até agora. As pessoas estão preocupadas com a neve, que forçaria as pessoas a sair das ruas. Imagino que o governo está apostando nisso. Se tantas pessoas continuarem nas ruas, o governo vai estar com problemas.

Vitali Klitschko discursa no Parlamento ucraniano (foto: Konstantin Chernichkin).

Então todos os processos legais para derrubar o governo, que não envolvam manifestações em ruas geladas, acabaram?
Algumas pessoas dizem que é possível pedir por um referendo que force uma nova eleição. No entanto, tem advogados analisando essa possibilidade – não é algo que eles podem simplesmente fazer. Não haverá uma eleição amanhã, mas se houvesse, uma pesquisa mostrou que Vitali Klitschko – um ex-boxeador do Partido Udar, a oposição – está na frente de Yanukovych.

(Foto por Henry Langston.)

Que tipo de pessoas estão protestando?
Temos uma grande mistura política aqui. Muitos liberais de classe média e também trabalhadores e pessoas da classe baixa. O que entendemos como direita e esquerda está um pouco confuso. É um país patriótico, todo mundo está hasteando bandeiras da Ucrânia e cantando o hino nacional juntos. Você tem o Svoboda – o partido nacionalista – junto com punks, anarquistas e pensionistas. São principalmente falantes de ucraniano do centro e do oeste do país que estão nas ruas – não falantes de russo do leste. Mas encontramos algumas pessoas pró-Rússia do oeste também.

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Como é a situação na zona ocupada?
Acho que eles ocuparam a prefeitura no domingo. Ela fica a uns 15 minutos da praça e é um grande prédio em estilo soviético.Há uma grande fila de pessoas esperando para entrar. Uma pichação na entrada diz “QG da Revolução” em ucraniano. O interior está completamente ocupado, há pessoas distribuindo comida, bebida e ajuda médica para os feridos ou quem ficou doente acampando lá fora no frio. Há lugares para as pessoas dormirem; se está muito frio para dormir nas barracas, as pessoas podem entrar. Eles também têm barricadas lá dentro, porque esperam um ataque ao prédio. Dentro das barricadas, há cozinhas, onde eles fazem principalmente sopa. É como um Occupy mais útil e menos tosco.

Policiais bloqueiam o caminho até o Parlamento (foto: Konstantin Chernichkin).

E qual é a resposta na Rússia?
Isso é tão embaraçoso para Putin quanto para Yanukovych. Milhares de ucranianos estão dizendo “não” à Rússia. As pessoas nas ruas querem se afastar da influência russa e aceitar a influência europeia. A situação parece ruim para Putin. Ele diz que isso é um massacre, mas um massacre contra quem? Os protestos são pacíficos. A violência do domingo, com tratores e ataques às fileiras policiais, aparentemente, foi provocada por uma minoria. Não vimos nada assim desde então. Dizem que os provocadores estão trabalhando para o governo e há vídeos de um cara atacando os policiais e depois do outro lado das fileiras, junto com a polícia. Mas é difícil afirmar qualquer coisa com certeza por enquanto.

Parece um pouco estranho que as pessoas queiram tanto se juntar à UE. Aqui, as pessoas odeiam a ideia ou não têm tanta confiança nisso.
Muita gente aqui está insatisfeita com as condições de vida, pois não é um país barato para se viver. As pessoas não estão felizes com a maneira como as coisas estão agora e veem a oportunidade de se unir a uma Europa mais ampla como uma possibilidade de melhorar de vida.

Mais alguma coisa que a gente precise saber?
Ninguém sabe muito bem o que vai acontecer agora. Todo mundo meio que dá de ombros quando faço perguntas. Há o medo de que o governo perca a paciência e comece a despejar as ocupações com violência e entrar em confronto com os manifestantes. Há muita pressão internacional sobre o governo depois do que aconteceu no fim de semana, então é pouco provável que eles pesem a mão. O governo pode esperar que as pessoas desistam. Talvez os manifestantes consigam entrar em mais prédios públicos e ultrapassar as fileiras da polícia, como na revolução de 2004. As pessoas estão gritando “revolução”. Elas querem definitivamente uma mudança de governo e não querem esperar até 2015 por uma nova eleição. É imprevisível.

Obrigado, Henry.

Siga o Henry no Twitter para mais atualizações direto de Kiev: @HenryLangston