FYI.

This story is over 5 years old.

Outros

Stoya Fala sobre Como Fazer um Gancho de Açougue

Felizmente, as pessoas que me perguntam como faço as acrobacias aéreas se contentam facilmente com uma breve discussão sobre meus anos de treinamento.
S
Por Stoya

Foto por Nate “Igor” Smith

Vaslav Nijinsky foi um dos maiores bailarinos do século XX. Seus pais eram poloneses, mas ele nasceu em Kiev, capital da Ucrânia. Ele estudou na Escola Imperial de Teatro em São Petersburgo, a mesma escola que produziu Anna Pavlova, Michel Fokine, George Balanchine e Mikhail Baryshnikov. Nijinsky mudou a estética do balé. Ele coreografou novas maneiras de se movimentar que abriram caminho para a dança moderna. E então, quando ele estava chegando aos trinta anos, pirou completamente. Na introdução de Joan Acocella para uma tradução ao inglês dos diários de Nijinsky, publicada em 1999, ela descreve dois dos primeiros relacionamentos dele, que pareciam com o arranjo moderno do teúdo e manteúdo. O primeiro foi com o Príncipe Pavel Lvol e o segundo com Sergei Diaghilev — o homem que faria dele um astro e o apresentaria ao mundo ocidental.

Publicidade

Há uma anedota frequentemente repetida sobre Nijinsky de uma de suas primeiras apresentações em Paris. Alguém perguntou se era difícil realizar um de seus célebres saltos — ficar suspenso no ar de uma maneira que parecia quase sobre-humana. Ele respondeu: “Não! Não é difícil. É só subir e depois parar um pouco lá em cima”. Tenho visto e ouvido essa anedota desde que comecei a dançar, aproximadamente 23 anos atrás. Mais recentemente, isso apareceu num artigo sobre os Balés Russos na Vogue. Talvez Nijinsky estivesse sendo modesto, mas penso nessa citação sempre que alguém me pergunta como faço o que faço na lira, como seguro meu corpo em várias contorções num bambolê giratório suspenso do teto. Se pressionada por algum repórter, posso comentar alguma coisa sobre a física das acrobacias aéreas, mas não estou realmente explicando o processo de realização das acrobacias — estou intelectualizando isso em retrospecto. Só estou desenterrando conhecimento básico de coisas como gravidade e impulso na tentativa de fornecer uma resposta que não seja: “Eu simplesmente faço, simplesmente funciona”. Eu sei que quando viro de um lado para o outro do bambolê para poder dobrar meu corpo ao redor de um dos meus braços numa pose chamada “gancho de açougue” (sério), tenho que girar junto com o movimento, mas não consigo dizer realmente se estou girando para a esquerda ou para a direita. Só sei que a inércia existe e que a maioria dos movimentos seria muito mais difícil se eu lutasse contra isso.

Publicidade

Tento evitar essas perguntas se a entrevista é logo antes da apresentação. Estou convencida de que pensar muito nos detalhes de alguma coisa que meu corpo é treinado para fazer sozinho vai interferir na minha habilidade de fazer isso. Mesmo uma coisa tão simples como caminhar envolve uns 200 músculos. Geralmente não estamos conscientes do processo de dar um passo. Da próxima vez que você se levantar, tente andar pensando sobre isso. Pessoalmente, só consigo pensar em empurrar com o pé de trás e usar a coxa da perna de trás para movimentar isso para a frente. Não é possível separar os movimentos das outras 198 partes. Se eu pudesse, ficaria tão fascinada com a minha nova consciência de um dedinho ou de alguma parte atrás da rótula do joelho, que nunca conseguiria dar o passo seguinte. Felizmente, as pessoas que me perguntam como faço as acrobacias aéreas se contentam facilmente com uma breve discussão sobre meus anos de treinamento ou se divertem quando brinco que são as pedrinhas de strass que me fazem flutuar.

No sábado passado, me apresentei numa premiação da indústria de entretenimento adulto chamada Fannys. Estar no palco de um lugar cheio de outros artistas é diferente de se apresentar para um público de pessoas que estão menos familiarizadas com os processos internos do show business. Ainda é preciso um pouco de extravagância e brilho, mas os colegas atores e atrizes pornôs se distraem menos com isso. Burlesco não é excitante para uma sala cheia de pessoas que fazem ou filmam atos sexuais para viver. Uma plateia de atletas ou ex-bailarinos poderia dizer mais facilmente o que é realmente uma manobra difícil, e todos eles iriam notar se você não dobrasse direito a ponta do pé. Não daria para enganá-los a ponto de pensar que um espacate é uma realização física impressionante. O aplauso deles é o som das pessoas que estiveram te julgando com um olho crítico e te acharam aceitável, ou o som de pessoas que estão meramente sendo educadas com um colega. Não é o som de um amor cego e incondicional de uma plateia que está lá puramente para ser entretida. Por diferentes razões, os dois tipos de plateia são incríveis para se apresentar.

Publicidade

Os Fannys aconteceram durante uma convenção chamada Exxxotica. Na sexta e no sábado, as pessoas vieram tirar fotos, comprar DVDs pornográficos e fazer perguntas. Muitas das perguntas são sobre como nós (os artistas) fazemos o que fazemos (sexo diante das câmeras). Eles querem saber como os atores mantêm a ereção e ejaculam na hora certa. Eu queria saber por que as pessoas me fazem essas perguntas, já que obviamente eu não tenho um pênis. Especialmente quando estamos numa sala com pelo menos dois artistas homens bem conhecidos. Nunca ouvi um ator responder isso de outro jeito que não fosse: “Ele só faz o que eu mando fazer” ou algo parecido. As pessoas também perguntam como nós (as atrizes) fazemos sexo anal. Elas querem saber o segredo de gostar de ter um pinto na sua bunda. Além do conceito básico de relaxar e talvez a recomendação do livro O Guia Definitivo de Sexo Anal para Mulheres, da Tristan Taormino, mais uma vez não tenho respostas. Cada corpo gosta ou não de ser penetrado analmente. Se seu cu gosta de ter coisas enfiadas nele, vá em frente e aproveite. Se ele não gosta, é melhor ouvir seu corpo e deixar seu ânus fazer apenas seu propósito principal de excretar resíduos. Se você está tentando satisfazer um namorado que não para de encher o saco para comer sua bunda, então é ele o cuzão, e sugiro que você mande ele pastar.

Quando estávamos saindo do hotel no domingo, um roadie de uma outra garota perguntou como eu fazia uma acrobacia em que eu fico pendurada de cabeça para baixo pelo peito dos pés. Eu disse que eram os medos combinados de me machucar e de passar vergonha. Nunca cai dessa acrobacia numa apresentação (bate na madeira) porque não há uma maneira graciosa de sair disso no meio e cair na frente do público simplesmente não é uma opção. Eu sei que com certeza há um valor em estudar a ciência por trás das habilidades físicas dos artistas e atletas, mas há também certa magia na ideia de que existe alguma coisa em todas essas luzes e olhos que nos empurra e faz a coisa toda dar certo.

Siga a Stoya no Twitter: @Stoya

Anteriormente:

Stoya Fala sobre as Armadilhas da Heteronormatividade e da Monogamia

Stoya Fala Como as Garotas do Pornô Evitam a Gravidez