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Quando os homens nos tratam como um acessório para se masturbarem

Pornografia na vida real: não, obrigada.

"Que queres que faça?", perguntei-lhe. Estávamos na minha cama, ambos sem roupa, a poucos centímetros um do outro, sentados de frente e ele não parava de se masturbar. "Não, deixa-te estar aí." "Só isso? Tipo, sem fazer nada?" "Queres fazer o mesmo?", atirou-me. "Nem por isso, isto não é muito fixe." "Tudo bem, então deixa-me só estar a olhar para ti." Ele continuou a masturbar-se mesmo à minha frente. Franziu o sobrolho, o lábio arqueou-se. Reparei que estava a suar da testa. Imaginei-o no futuro, dali a uns anos, a fazer o mesmo na garagem da casa dos pais, gordo e careca, a bater uma à pala de uma pornada qualquer. E senti-me enojada. "Vais sair hoje? Talvez nos possamos encontrar mais logo e tomar um copo." Já não sabia para onde olhar. Ele estava a fazer aquilo tão furiosamente que a pila parecia que ia começar a deitar fumo e aquela expressão facial estava a tirar-me do sério. E ele não desviava o olhar da minha cara. "Preciso de lavar uma roupa suja. E de fazer o jantar. Não, espera, acho que vou antes encomendar qualquer coisa." Punheta, punheta, punheta. Silêncio. "Não sei, talvez veja uns episódios de Walking Dead." Foi aí que ele me interrompeu: "Kat, por favor, não podes estar calada? Estás a desconcentrar-me…" Mantive-me em silêncio até que ele se veio para cima do meu colchão. Não é como se eu nunca tivesse visto um gajo a bater uma. Porra, já todos nos masturbámos. Toda a gente tem os seus momentos de intimidade. Mas aquilo foi o contrário de intimidade, era só degradante. Depois desse dia, falei com algumas amigas e parece que todas as mulheres passam pelo mesmo. Uma amiga minha contou-me que um ex-namorado gostava de a ajoelhar junto à parede, de costas, para se masturbar a olhar para o cu dela. Que sorte, pelo menos não tinha de lhe ver a cara como eu tive. Este episódio ensinou-me que há por aí homens (e mulheres?) que curtem que as mulheres verdadeiras se comportem como as das revistas. Páginas centrais de carne e osso, portanto. Para o ex-namorado da minha história, a penetração em si não era o ponto alto do sexo, mas apenas um preliminar para uma cena que nem sequer me envolvia. Toda a gente tem as suas taras sexuais (se vos contasse algumas coisas de que eu gosto…), claro, e certamente que há mulheres que até curtem ser objectos passivos do instinto carnal de outro ser humano (um homem), mas estar sentada à frente de uma pessoa que a única coisa que espera de mim é silêncio, não é propriamente uma experiência que queira repetir. Senti-me desrespeitada, como se fosse uma adolescente outra vez — aquela fase da vida em que os rapazes não sabem o que fazer connosco. O acesso à pornografia é mais simples e democrático do que nunca. Serão as nossas relações na vida real prolongamentos dos nossos fetiches online? Qual é o papel da mulher nas relações sexuais heterossexuais já que a pornografia nos trata como acessórios com pele e cabelo? Seremos só o balde de esperma de porcalhões do sexo oposto? Enfim, as coisas que uma gaja pensa quando tem um tipo a esgalhar o pessegueiro mesmo à sua frente.