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Conversei com os manifestantes anti-casamento gay em Paris

Só malta porreira.

Segundo um estudo recente, realizado pelo Instituto Francês de Opinião Pública, 61 por cento da população francesa apoia o casamento gay. Dito isto, não menos do que que 350 mil manifestantes — 800 mil, de acordo com dados dos organizadores — de toda a França reuniram-se nas ruas de Paris no início da semana passada para expressar a sua relutância contra os planos do governo de legalizar o casamento gay. Como não estava muito ocupado, decidi juntar-me aos manifestantes para gritar coisas altamente ofensivas sobre pessoas normais que só querem a oportunidade de celebrar o seu amor de uma maneira convencional. Porque o casamento gay é "errado", é "do demónio", algo que vai fazer a sociedade actual transformar-se num poço sujo e devasso. O suposto resultado: todas as crianças tornar-se-ão gays, ou assim. A marcha iniciou-se na Place d'Italie e terminou, quatro horas depois, no Champ de Mars, junto à Torre Eiffel. As pessoas gritavam coisas como "não confundam as nossas barrigas com carrinhos de compras!” ou “a posteridade não é ficção!”, mas, no fim de contas, a coisa foi toda extremamente calma. Tão calma, na verdade, que os organizadores tiveram de tentar umas quatro vezes até conseguirem envolver as pessoas no maior flashmob da história feito com o “Gangnam Style”. Sim, quando pensava que o dia não poderia ficar mais chato e enjoativo, foi isso mesmo que aconteceu. No entanto, o mais interessante é que a multidão não era formada somente por católicos e religiosos conservadores. Estavam lá pessoas de ambos os lados do espectro político, representantes de todas as grandes religiões e até mesmo alguns homossexuais. Parecia que toda a gente tinha as suas próprias preocupações que, obviamente, eram as opiniões certas (para eles). Sendo assim, fui falar com algumas pessoas sobre essas mesmas opiniões e sobre o porquê deste maralhal de gente ter escolhido passar um domingo normal a protestar contra uma lei que não vai ter qualquer impacto nas suas vidas. Sim: de NENHUMA forma. VICE: Olá Thibault. O que raio é que estás a fazer aqui?
Thibault: Estou aqui para preservar os valores da nossa nação. Desde a génesa da humanidade, a vida foi sempre entre o homem e a mulher, entre pais e mães. Nunca vimos um homem dar à luz uma criança. O casamento só deve ser permitido a casais heterossexuais. Os gays deviam contentar-se com o PaCS [Pacte Civil de Solidarité]. Entendo. Então, tenho a certeza de que és a favor da adopção de crianças por casais gay, certo?
Não. Uma criança precisa de um pai e de uma mãe. Se o governo legalizar o casamento gay, o próximo passo será a adopção. Isso é inaceitável. Não acho que pais não-biológicos devam ter os mesmos direitos sobre uma criança. O que estás a fazer hoje na rua?
Mireille: Bem, casamento gay? E depois o quê? Diz-me! Casamentos entre irmãos e irmãs? Gatos e cães? Esta lei é um erro terrível. E o que achas de reconhecer o direito dos casais gays poderem adoptar filhos?
Tenho um amigo que está à esperar para adoptar uma criança há muitos anos. Ou seja, acho que as pessoas normais deveriam ter prioridade. Pensamos nos casais gays depois. E uma criança não consegue desenvolver-se de maneira saudável com pais homossexuais. Tens razão. Toda a gente que conheço que tem dois pais é um assassino psicopata. Marie, 6 anos, e Romane, 7. O que achas sobre a legalização do casamento gay, Marie?
Marie: Não é uma boa idei, porque uma criança não pode ter uma boa educação com dois pais ou duas mães. Obrigada. E tu, Romane?
Romane: Acho que é terrível para a educação das crianças. E acho que se o pai é mais rigoroso do que a mãe, isso não é bom para a criança. Quer dizer, é bom para a criança, mas se a criança tem duas mães rigorosas, isso não é bom para ela. O que é que os vossos pais vos andaram a dizer?! :( O que há de errado nesta lei?
Gersande: Em primeiro lugar, quero dizer que ninguém aqui é homofóbico. Não temos nenhum problema com dois homens ou duas mulheres que se amam. Mas a questão-chave do casamento é proteger os filhos e, se o casamento gay for legalizado, vamos acabar por legalizar a adopção por casais homossexuais. E depois a tecnologia de reprodução assistida e a fertilização in vitro. Céus. Tens razão: ajudar as pessoas a terem filhos é mau. Mas muitos países da Europa já aprovaram essa lei. Não achas que estamos um pouco atrasados e que deveríamos tentar acompanhá-los?
Não acho que estejamos atrasados, não. Não deveríamos pensar sequer em alterar a estrutura fundamental do casamento. Ok. E se um dos teus filhos se tornar homossexual? O que vais fazer?
Hmm. Vou dizer-lhe que é livre para fazer o que quiser, mas que nunca vai casar ou ter filhos. É assim que a natureza funciona. De qualquer forma, os meus filhos vão ser educados de maneira a nunca serem homossexuais. Ah pois. Esqueci-me que isso é uma escolha. Ups! És contra o casamento gay?
Yoro: Olha, o futuro da humanidade está em jogo aqui. Pessoalmente, acredito que legalizar o casamento gay é o primeiro passo para a legalização da adopção por casais homossexuais. E isso é perigoso para as crianças. As crianças vão tornar-se como eles: homossexuais. Apenas a mulher pode gerar uma criança. É assim que a natureza funciona. Não dá para gerar uma criança quimicamente e isso significa que ela não é um ser humano. Espera! Estás a insinuar que crianças geradas por fertilização in vitro são imaginárias?
Não, claro que não. Elas só não contam como humanos verdadeiros. Não sei o que dizer… Importavas-te de ter um filho gay?
Ele seria sempre livre para ser o que quiser. Não o impediria de ser homossexual. No entanto, deixaria claro que não ficaria feliz e faria qualquer coisa para que ele se tornasse heterossexual de novo. Por que estás a protestar hoje?
Marion: O casamento gay não é um casamento. Na verdade, é o fim do casamento. É normal um homem casar com uma mulher. Hoje em dia, as pessoas querem normalizar tudo, todas as culturas. A nível político, estamos a rumar para o fim da nossa nação. Todos os países serão reduzidos a um único país e vamos tornar-nos consumidores ingénuos. A nível social, fazer sexo vai tornar-se algo tão comum quanto comer, ou fazer xixi. A evolução dos costumes vai levar à desumanização inevitável da sociedade. É horrível. Considerando a actual situação social e económica, achas que chegou a altura de debatermos questões como esta? Será que isto realmente importa?
As pessoas que querem arruinar o nosso país encaram isso como uma questão importante e sabem que agora é o momento certo para aprovar esta lei. Aliás, eu também não encaro isso como uma questão secundária. Legalizar o casamento gay significa destruir o conceito de família. Essa questão está no coração da destruição da nossa sociedade. Porque saíste à rua?
Christian: Tenho seis filhos e oito netos. Estou aqui para proteger o conceito de família, que é a base da sociedade. Todos os teus filhos são heterossexuais?
Daquilo que sei, sim. E se um deles fosse gay? Como reagirias?
Ficaria triste por ele, porque é difícil ser homossexual na nossa sociedade. Protestos como este não tornam isso ainda mais difícil?
Não. Não estamos a protestar contra os homossexuais, estamos aqui para manter as legislações de casamento do país. Não queremos culpabilizar as pessoas pelas suas tendências homossexuais. A culpa não é delas. Tive amigos homossexuais que sofreram muito. É um verdadeiro fardo ser-se gay. No entanto, não acho que seja uma boa ideia alterar os princípios fundadores da nossa sociedade com a legalização do casamento gay. Por que é que vocês escolheram protestar hoje, ao invés de sairem para aproveitar os saldos?
Véronique: Acabei de voltar da Martinica, onde as autoridades me retiraram o meu filho. É por isso que estou aqui a protestar. Não quero que os gays adoptem o meu filho. O que têm contra eles?
Não tenho nada contra eles, sou muito tolerante com pessoas assim. Mas eles continuam a pedir mais e mais. Não reclamamos quando eles se beijam em público, ou quando andam de mãos dadas. Não lhes batemos quando fazem isso. Agora querem-se casar e manchar a religião? Eles já colocaram a esposa do Dutroux num convento e isso é uma desgraça. Não vamos tolerar mais isso.
Ahmed: Com pais gays, as crianças vão crescer e tornarem-se gays também. É automático. Estamos a caminhar em direcção ao fim da humanidade, ao reconhecermos pessoas destas como “normais”. Dessa forma, eles vão multiplicar-se e os heterossexuais ficarão em desvantagem. Católicos, muçulmanos, somos todos contra o casamento gay. Vocês parecem uns gajos altamente.

Fotografia por Elsa Toporkoff