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Sexo

Este vibrador é uma forma de activismo para pessoas com deficiência

Como um vibrador, uma vagina falsa e um punho de plástico se tornaram "ferramentas" de activismo.

Este artigo foi originalmente publicado na VICE Suécia.

Passaram cerca de dois anos desde a última vez que ouvimos falar da GIL, Gothenburg Cooperative for Independent Living (Cooperativa para uma Vida Independente de Gotemburgo). Naquela época, o grupo de defesa dos direitos de pessoas com deficiência queria chamar a atenção para as más condições de acessibilidade nos bares, através de uma acção que implicava a produção da sua própria cerveja.

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O que parece ter funcionado bastante bem. "A nossa cerveja ganhou vários prémios desde a nossa última conversa", diz-me Anders Westgard, porta-voz da GIL, ao telefone. Desta vez, a razão pela qual estamos a falar não tem a ver com uma bebida, mas sim, porque, recentemente, ele enviou-me pelo correio um vibrador com uma estranha pega amarela.

O vibrador, tal como a vagina falsa e o "Fist of Adonis" (Punho de Adonis) que completam o conjunto, são adaptados para deficientes motores e vêm com um manual especial (podes vê-lo acima na versão vídeo). Conforme descreve o manual, as ferramentas do sexo, assim denominadas pela GIL, tornam o sexo uma experiência bastante estranha, tanto para a pessoa com deficiência como para o assistente. O processo inclui roupas sanitárias e movimentos mecânicos de masturbação. É, provavelmente, uma das situações menos sexy que alguma vez poderias imaginar.

No entanto, estes brinquedos não vão ser vendidos tão cedo nas lojas especializadas. Esta invenção - do fabricante de brinquedos sexuais Secreta AB - foi a maneira encontrada pela GIL para mostrar que pessoas com deficiência têm as mesmas necessidades que as outras. Tinha, por isso, de falar com Westgard para conseguir perceber como um vibrador, uma vagina e um punho de plástico podem ser considerados uma forma de activismo.

VICE: Olá Anders, muito obrigado pelo vibrador!
Anders Westgerd: De nada. Ainda bem que gostaste. Os vossos brinquedos sexuais, ou melhor, ferramentas, foram desenvolvidas especialmente para a feira Live and Function, uma exposição sobre tecnologia de apoio para deficientes realizada na Suécia, certo?
Sim, exactamente. É a maior feira da Escandinávia a lidar com cuidados e tecnologia de apoio. Está bastante focada na tecnologia, mas não tanto em como realmente vives quando tens uma deficiência. É algo que queremos mudar.

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Esta campanha não é realmente sobre sexo. É somente uma forma de chegar a um público mais amplo. O sexo e a deficiência são considerados tabus por uma grande parte da população. Tudo se resume a tentarmos fugir desta ideia de que são as outras pessoas que decidem como temos de viver as nossas vidas. Nós somos como qualquer outra pessoa e também queremos a oportunidade de viver como qualquer outra pessoa.

Fotografia cedida pela Gothenburg Cooperative for Independent Living (GIL).

Quais são os preconceitos mais comuns sobre a vida sexual das pessoas com deficiências?
O sexo é algo que ocupa muito espaço na nossa cultura, mas nunca ninguém fala sobre o sexo dos indivíduos com deficiência e, se o fizeres, é desde um ponto de vista onde a perversão e a aberração imperam. Não se fala sobre o que é ter relações sexuais sendo uma pessoa com deficiência. Além disso, existem muitas pessoas que pensam que não praticamos sexo.

De que forma é que esta campanha pode mudar essa mentalidade?
Espero que as pessoas compreendam que somos seres humanos normais que sentem luxúria e não objectos assexuados. Isto não é só sobre sexo, é sobre como tudo relacionado com a nossa vida parece ser agendado e ditado por outros.

Anders com uma das ferramentas de sexo da Secreta AB.

E o "Fist of Adonis"? Não é possível que desvie a atenção do vosso verdadeiro objectivo?
As pessoas provavelmente vão interpretá-lo erroneamente, mas às vezes precisamos de as chocar para nos certificarmos do seu envolvimento. Olhando para as nossas campanhas anteriores, como a da cerveja e a da boneca retardada, podemos ver que, na maior parte dos casos, são as pessoas sem deficiência que se sentem ofendidas e nos vêm dizer como devíamos fazer as coisas. Mas, geralmente, quando temos a oportunidade de conversar com elas, começam a reconsiderar uma série de coisas.

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De que forma vão apresentar estas ferramentas na feira?
Vamos ter um expositor bastante aborrecido, onde poderás ter a mesma sensação de autoridade que nós vivemos no nosso dia-a-dia. E vamos estar vestidos como representantes da Secreta AB.

De onde veio essa ideia?
O nosso trabalho sempre foi focado na tentativa de chegar ao grande público e não tanto aos políticos e às outras autoridades. Acredito que democracia começa com o indivíduo. Precisamos de mudar colectivamente este paradigma se queremos ser tratados como qualquer outro cidadão. Campanhas como esta ajudam a GIL a chegar a pessoas que, normalmente, não nos prestariam muita atenção. O sexo é uma forma de abrir as portas.

Boa sorte, Anders!

Encontra mais informações no site da Secreta AB.

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