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Música

Discos: Takuya Matsumoto

Sintetizadores como arma secreta.

Side by Side EP
Iero
8/10 No ano em que comemora o seu décimo aniversário, a Iero, label de médio porte sedeada em Niigata (Japão), pode orgulhar-se do elevado padrão de qualidade dos seus oito lançamentos. Quando uma label mantém a média de lançamentos abaixo de um disco por ano, não há certamente regularidade, mas também não existe excesso. Uma viagem pelo Soundcloud mostra que a Iero não quer e nem sequer precisa de ser muito mais que a casa de dois produtores tão seguros e determinados como Kouji Nagahashi (o patrão) e Takuya Matsumoto (o braço-direito). Os dois entendem-se muito bem (tal como prova um mítico doze polegadas na Cosmic Blue) e sem atropelos entre si, porque Nagahashi é muito mais chegado à techno atmosférica, enquanto Matsumoto prefere ensaiar variações da house, como se fosse um avião que vai viajando pelo mundo à procura da musa certa. Foi nesse roteiro que Takuya Matsumoto chegou ao Brasil para de lá trazer a batucada que se vai apoderando aos poucos de “Drifting Under the Stars” e que no final deixa tudo entregue a um carnaval imenso de house e samba. “Drifting Under the Stars” ainda hoje é uma das mais reconhecidas faixas de Matsumoto e funcionaria perfeitamente numa remake do filme Orfeu Negro (que dispensa quaisquer actualizações, mas que era inevitável ser invocado aqui). A maneira como “Drifting…” junta música tropical e house colocou o nome de Matsumoto nas mais respeitáveis playlists e também numa ou noutra compilação chill-out manhosa. Mas o mais importante é que lançou uma figura que merecia essa projecção internacional. Chegados a Side by Side, o mais recente EP de Takuya Matsumoto, percebemos que, em comparação com o passado recente, as referências da música do mundo estão muito mais diluídas nestas três malhas de house. Malhas essas que parecem depender especialmente de uma atracção entre melodias lineares (extraídas ao piano na grandiosa faixa-título) e outras muito mais fracturadas (saídas dos sintetizadores que funcionam muito como arma secreta de Matsumoto). A juntar a tudo isto há também um lado emocional que Side by Side parece empurrar para um pólo mais risonho (quase Takagi Masakatsu), mesmo que isso contrarie toda a tendência mais cinzenta da electrónica actual. Não se sabe até que ponto o isolamento de Takuya Matsumoto e da própria Iero será benéfico mas, seja como for, Side by Side é um disco capaz de marcar o seu lugar.