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O presidente colombiano levou o Prêmio Nobel apesar do acordo de paz fracassado

Juan Manuel Santos passou os últimos quatro anos negociando com as FARC em busca de paz num país que vive em guerra civil há cinco décadas.

O presidente colombiano Juan Manuel Santos (esquerda) e o líder rebelde Rodrigo Londono em Cartagena, na Colômbia, em 26 de setembro de 2016. REUTERS/John Vizcaino

Esta matéria foi originalmente publicada na VICENews.

O presidente colombiano Juan Manuel Santos estava vivendo uma semana safada, até que o Comitê do Nobel ligou. Num anúncio surpresa, Santos foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz de 2016.

E o presidente da Colômbia talvez seja a pessoa mais pega de surpresa nessa história. Ainda se recuperando do resultado chocante do referendo do último domingo (2), que deixou seu acordo de paz com o maior grupo rebelde do país na UTI, Santos não tinha muito o que comemorar.

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Na verdade, ele estava dormindo quando o Comitê do Nobel tentou dar a notícia, como uma jornalista tuitou:

Há! A NRK TV tentou contatar o vencedor do #PrêmioNobeldaPaz presidente Santos, mas seu guarda-noturno se recusou a acordá-lo…

Anunciando o resultado, a presidente do Comitê do Nobel Kaci Kullmann Five explicou que o prêmio foi dado como "um conhecimento de todo o trabalho e da iniciativa muito importante que o presidente Santos teve… e é um encorajamento, esperamos, para que todas as partes nesse processo de negociação façam o máximo para chegar a um resultado aceitável para o povo".

O presidente Santos passou os últimos quatro anos negociando com os guerrilheiros das FARC um acordo que traria paz ao país devastado pela guerra civil há 50 anos. O acordo foi ratificado numa cerimônia com a presença de vários líderes globais em Cartagena, Colômbia, mas depois foi rejeitado por uma pequena margem de votos num referendo, em parte devido a uma campanha liderada pelo ex-presidente colombiano Álvaro Uribe Velez.

Leia: "Os eleitores colombianos rejeitaram o histórico acordo de paz do governo com as FARC"

Mais de 200 mil pessoas foram mortas no conflito com as FARC, e aproximadamente 7 milhões acabaram deslocadas de seus territórios de origem. O acordo foi celebrado no mundo todo — o secretário-geral das Nações Unidas Ban Ki-moon participou da assinatura histórica do acordo e fez um discurso, dizendo que o país estava "dando adeus a décadas de chamas e enviando um clarão de esperança para o mundo".

Apesar de ter seus esforços elogiados internacionalmente, o presidente Santos não conta com um grande apoio em seu próprio país agora, e sua aprovação nos últimos meses vem encolhendo.

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Outras tentativas de paz falharam no passado, mas as negociações mais recentes com os líderes das FARC em Cuba levaram ao referendo nacional sobre o novo acordo. Nele, as FARC se desarmariam e se tornariam um partido político. Mas críticos do acordo, liderados pelo ex-presidente Uribe, diziam que o tratado permitiria que criminosos entrassem na sociedade civil sem a devida punição. No final, e com o número mais baixo de comparecimento em 22 anos, os colombianos votaram "não" para o acordo proposto, com uma maioria apertada de 50,2%.

Apesar desse revés, o presidente Santos prometeu continuar o diálogo de paz em Havana, e os negociadores já voltaram a Cuba. O Prêmio Nobel da Paz será visto como um sinal de encorajamento enquanto os dois lados voltam a conversar, mas as discussões sempre foram tensas, e não está claro que as FARC estão dispostas a fazer mais concessões. O presidente Santos também vai ter que lidar com a oposição ferrenha de Uribe. Mas há sinais de que a maré pode estar mudando a favor do presidente, e o Prêmio Nobel pode acrescentar impulso.

Ao saber que ganhou o Nobel, Santos disse: "Recebo esse prêmio com grande emoção, ele é algo que sempre será importante para o meu país e para as pessoas que vêm sofrendo com essa guerra, especialmente as vítimas. Sou eternamente grato".

Santos divulgou uma mensagem pela manhã de sua residência presidencial em Bogotá, dizendo que seu filho tinha lhe dado a notícia histórica.

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"Esse prêmio é para as vítimas, e para que não haja mais nenhuma vítima, mais nenhuma morte", ele disse. "O prêmio vai nos ajudar a reconciliar e nos unir para terminar esse processo e começar a construção de uma paz estável e duradoura".

Até Uribe tuitou seus parabéns, apesar de espinhosos:

"Parabenizo o presidente Santos pelo Nobel. Espero que isso leve a mudanças em acordos que prejudicam a democracia."

Tradução do inglês por Marina Schnoor.

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