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o futuro segundo a vice

O Futuro da Cirurgia Plástica Segundo a VICE

A mão da ciência nunca para de remexer na forma humana. O que significa que você pode parecer com a Beyoncé se quiser -por um certo preço claro.

Eu tenho o que meu alfaiate singelamente chama de um "banco grande": uma barriga protuberante que vem do meu amor pelo álcool e bochechas macias e carnudas que me fazem parecer cinco anos mais novo do que eu deveria. Resumindo, sou zoado. Felizmente, a mão da ciência nunca para de remexer na forma humana; então, eu poderia parecer o Jaden Smith se eu quisesse – por um certo preço.

O que antes era uma escolha invasiva, que podia mudar uma vida, lentamente vai se tornando algo mais acessível e menos ameaçador. Mas ainda existe esse pecado social associado a procedimentos cosméticos. Basta ver o furor causado pelo "novo rosto" de Renee Zellweger para sacar que mudanças drásticas de aparência ainda são desaprovadas pelo grande público, que, ao mesmo tempo, exige rostos jovens de suas celebridades favoritas e, cada vez mais, de si mesmo.

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Um relatório de 2013 da American Academy of Facial Plastic and Reconstructive Surgery afirma que "33% dos cirurgiões têm recebido mais pedidos de cirurgia plástica, resultado de uma maior consciência da aparência, graças às redes sociais". Não é de se surpreender que a proliferação de plataformas criadas para propagar a imagem do indivíduo para centenas, milhares ou milhões de pessoas tenha criado uma corrida para que se corrijam supostas falhas. O Brasil, por exemplo, é campeão em ninfoplastia.

E as redes sociais continuam a dominar mais e mais o discurso cultural, o que pode levar a uma demanda ainda maior de melhorias artificiais para o corpo humano. O futuro da beleza pode não ser tão bizarramente sci-fi como previu Tyra Banks em 2014, mas certamente está evoluindo para um acesso mais fácil.

De acordo com a American Society of Plastic Surgery Professionals, foram 15,1 milhões de procedimentos cosméticos realizados nos EUA em 2013. Desses, 6,3 milhões foram injeções de botox. Apenas 1,6 milhão foi de natureza cirúrgica. Essa diferença entre cirurgia e procedimentos não invasivos, como injeções de botox, tem dois lados. Cirurgia é algo caro e geralmente não coberto pelos planos de saúde. A ASPS diz que uma cirurgia de aumento de mama nos EUA custa US$ 3.678, fora anestesia, taxas do hospital e "outros gastos relacionados".

Há também o estigma e os riscos da cirurgia invasiva. Cirurgia plástica exige semanas ou meses de repouso, o que levou à explosão de spas de recuperação para que os ricos possam relaxar e lidar com o estresse de ter a aparência melhorada. As operações também podem dar muito errado, e qualquer pessoa de Los Angeles pode dizer que isso acontece com mais frequência do que você imagina. Histórias como a da Andressa Urach só aumentam o medo de se entrar na faca. E isso tem levado os médicos a buscarem mais e mais métodos não invasivos de melhoramento de aparência para seus pacientes.

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Uma start-up de tecnologia chamada NanoLipo está desenvolvendo um método para queimar gordura indesejada do corpo humano sem a necessidade de todas aquelas incisões imprevisíveis. A NanoLipo é só mais uma competidora na procissão de tratamentos de beleza que garantem poder mudar a vida das pessoas, como a promessa de perder peso sem se levantar um dedo do "Vanquish", que afirma queimar células de gordura através de frequências de rádio. As ondas de rádio supostamente aqueceriam a gordura, a derretendo enquanto você senta e lê uma revista.

A NanoLipo também queima gordura, mas usa uma injeção de nanopartículas de ouro nas células de gordura para atacar melhor as áreas problemáticas. Um laser agita as partículas, derretendo o excesso de gordura. Antes de as nanopartículas de ouro serem usadas para acabar com os pneuzinhos, profissionais de saúde as empregavam num esforço para curar o câncer. Essa pesquisa parecer ter sofrido uma pausa, mas a NanoLipo está funcionando a todo vapor, fazendo propaganda de seu procedimento para o público, enviando comunicados de imprensa para a mídia e se gabando do potencial de seu produto.

Outra nova técnica não invasiva chegando agora é o "facelift vampiro", chamado assim por envolver a extração de sangue do paciente. O sangue é passado por uma centrífuga para extrair o plasma rico em plaquetas. Esse plasma é injetado novamente no rosto do paciente com uma seringa. Por uma taxa extra, o tratamento também inclui uma injeção de um preenchedor facial como o Juvederm, um gel feito de ácido hialurônico, usado para preencher rugas juntamente com o botox ou para preencher lábios. Como o botox, o facelift vampiro é popular com aqueles que procuram uma "rejuvenescida" rápida, sem o alto custo e os riscos que vêm com o bisturi. Mas isso também teria vantagens sobre o botox, já que não vem com o estigma de aplicar botulismo na cara nem de congelar o rosto num sorriso imóvel. Ainda assim, o facelift vampiro também tem seus inconvenientes.

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Em fevereiro de 2014, Sandra Perez Gonzalez, de 45 anos, foi presa em Long Beach por seu envolvimento na morte de Hamilet Suarez. Massagista, Gonzalez realizava facelifts vampiros piratas em seu estúdio nos fundos de um salão de cabeleireiro. O procedimento não exige certificação especial, e as centrífugas podem ser compradas facilmente pela internet. O legista de Long Beach que recebeu o corpo de Suarez me disse que todos os registros da morte dela estão sendo mantidos em sigilo pelas autoridades. O Dr. Marc Darrow, um profissional local que realiza facelifts vampiros, jurou que o procedimento não é perigoso. "Quem vai querer uma coisa invasiva quando pode ter algo simples assim, em que você pode sair pela porta e está seguro?", ele pontuou. Pude acompanhar uma demonstração: além do fator obviamente arrepiante de ver uma agulha enorme ser enfiada perto da pálpebra de alguém, o procedimento parece bastante seguro. A paciente, uma funcionária do Dr. Darrow, falou que se sentia "renovada". "É como ter chiclete na sua bochecha", ela contou.

A polêmica cercando o facelift vampiro vem principalmente de quem deveria lucrar com isso. Dr. Charles Runels, um ex-médico certificado do Alabama, pulou rapidamente sobre o termo e registrou a marca. Agora, ele oferece "cursos de treinamento" e licenças de marca registrada para médicos de todo os EUA por uma taxa de US$ 47 ao mês.

Como acontece com muitos procedimentos médicos eletivos, a marca é tão importante quanto os resultados. Kim Kardashian recebeu um facelift vampiro em seu reality show, o que gerou vários artigos sobre como a técnica era "tendência" entre os ricos e famosos. Estudos realizados nos últimos anos se contradizem quanto à eficiência do plasma rico em plaquetas no rejuvenescimento das células, o que não impede as pessoas de jurarem que as injeções funcionam.

Dr. Runel chega até a acreditar que o plasma pode melhorar a resposta sexual, já que também vende a "O-Shot", uma infusão de plaquetas nos genitais para estimular orgasmos mais intensos. Parece que você só precisa de um nome chamativo, uma marca registrada e a aprovação de uma celebridade num produto relativamente fácil de se fazer – e pronto. A moda do botox começou de maneira similar, indo das elites para as fileiras mais baixas de Los Angeles e de outras grandes cidades.

Se nanolipoaspiração, facelifts vampiros ou outros procedimentos da nova era vieram mesmo para ficar, isso tem menos a ver com os médicos e mais com o pessoal do marketing.

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Tradução: Marina Schnoor