FYI.

This story is over 5 years old.

Politică

Quem é Aloysio Nunes, o novo ministro das Relações Exteriores?

Ex-piloto de fuga de Marighella, tucano deixou o PMDB em 1997 após briga com Temer e é o epicentro de escândalos do PSDB paulista.

Foto: Agência Brasil.

Surpreendido (como o resto do PSDB) pelo repentino pedido de demissão do senador José Serra (PSDB-SP) do cargo de ministro das Relações Exteriores, Temer passou o Carnaval refletindo, mas parece não ter tido dúvidas: trocou seis por meia dúzia e encaixou outro senador tucano paulista, Aloysio Nunes, na vaga deixada por Serra.

De perfil discreto, Nunes foi ganhando espaço político a partir do vácuo alheio — sua substituição no lugar de Serra faz lembrar que ele se elegeu senador em 2010 após a morte de um dos nomes mais cotados para a reeleição no Senado, Romeu Tuma, que adoeceu logo no começo da campanha.
Nunes começou a carreira política militando contra o regime militar. Filiado ao PCB, acabou caindo nas graças da Aliança Libertadora Nacional, comandada por Carlos Marighella.

Publicidade

Atuando como motorista do guerrilheiro, participou inclusive do "assalto ao trem pagador" em 1968, mas trocou a luta armada pelo exílio no mesmo ano, quando se mudou para Paris e de lá montou uma base internacional para a ALN, descolando espaço para a publicação de textos de Marighella em veículos francesas e também abrigando exilados fugindo da ditadura no Brasil.

De volta ao Brasil em 1979, já filiado ao MDB, foi eleito deputado estadual em 1983, e atuou como líder do governo na Assembleia paulista durante as gestões de Franco Montoro e Orestes Quércia. Em 1991, foi vice-governador de Fleury Filho, e concorreu à prefeitura da capital em 1992, quando foi atropelado pela disputa entre Paulo Maluf (PP) e Eduardo Suplicy (PT).

Amigo de ACM e truta de José Serra, Nunes só foi para o PSDB em 1997, depois que a ala do PMDB comandada por Michel Temer se revoltou com a indicação de Nunes para o ministério dos Transportes de FHC. Na ocasião, olha a ironia, a pasta caiu nas mãos de Eliseu Padilha (PMDB-RS), hoje chefe da Casa Civil do regime Temer. Aloísio, tucano em nova hora, voltaria à administração federal depois da reeleição de FHC em 1999, no bojo de uma reforma ministerial. Primeiro foi Secretário de Governo e mais tarde assumiu o ministério da Justiça.

Durante o governo Serra em São Paulo, Nunes foi secretário da Casa Civil. A ligação lhe rendeu dois episódios espinhosos. Em 2010, durante a campanha eleitoral presidencial, seu nome foi ligado a Paulo Vieira de Souza, o "Paulo Preto", ex-diretor da Dersa que teria desviado R$ 4 milhões para o caixa 2 tucano. Em 2007 ele inclusive recebeu um empréstimo de R$ 300 mil da esposa e filha de Paulo para comprar um apartamento. Mais tarde Nunes foi acusado por um ex-diretor da Siemens de ser um dos articuladores políticos do cartel do metrô de São Paulo, que atuou entre 1998 e 2008 no estado.

Já com a operação Lava Jato em pleno funcionamento, o ex-candidato a vice de Aécio Neves voltou a figurar na mídia. Ricardo Pessoa, da empreiteira UTC, afirmou em delação que o novo ministro pediu R$ 500 mil reais em uma reunião em seu escritório, R$ 300 mil em forma de doação, e R$ 200 mil em espécie. Walmir Pinheiro, ex-diretor financeiro da UTC, confirmou o pagamento em espécie que teria sido feito em 2010 para o advogado Marco Moro. Acusado de falsidade ideológica e lavagem de dinheiro, Nunes é alvo de inquérito no STF, mas não parece infringir a frágil regra de Temer de que ministros denunciados na Lava Jato seriam afastados do governo. Parece que quem vai sangrar até o fim do mandato não é mais Dilma Rousseff, mas vai ser ruim para Aloysio se juntar ao ex-interino nessa hemorragia.

Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram.