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Um Estranho na Minha Camiseta

Como a maioria de nós, minha amiga Mavi Staiano passa horas e horas no Facebook. Perseguir perfis, 'lolar' nos murais dos amigos, bater uma para estranhos... Isso tudo é normal. Todos nos identificamos com isto. A Mavi, no entanto, levou a perseguição...

Como a maioria de nós, minha amiga Mavi Staiano passa horas e horas no Facebook. Perseguir perfis, ‘lolar’ nos murais dos amigos, bater uma para estranhos… Isso tudo é normal. Todos nos identificamos com isto. A Mavi, no entanto, levou a perseguição digital a outro patamar. Nos últimos três meses, juntou mais de 5 mil imagens e print-screens de perfis do Facebook de pessoas do mundo todo, sendo a maior parte desconhecidos. Ela passou, literalmente, centenas de horas fuçando perfis – amigos de amigos, amigos de amigos de amigos, e por aí vai – e coletando imagens das suas vidas. Depois, pegou estas imagens idealizadas da juventude e as usou como estampas em camisetas, fez posters e emoldurou-os como se fossem dela. O resultado da sua obsessão é algo ao mesmo tempo bonito e assustador, dependendo do ponto de vista.

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Vice: O que é isso exatamente? É arte? É pura diversão? Ou você é só uma pervertida?
Mavi Staiano: É difícil de explicar. Vejo isso como uma curadoria de imagens. No começo, eu estava só sendo uma maluca perseguindo estranhos, mas não guardava as imagens. Depois, um dia, me toquei de quantas imagens fantásticas tinha visto. Isso fez com que eu passasse a querer colecioná-las, então comecei a guardá-las. Quando comecei, não sabia o que ia fazer fazer com as imagens. Demorou um tempo até eu descobrir.

Quando você vê as imagens juntas, parecem ter uma estética muito jovem e norte-americana. Concorda?
Sem dúvida. As pessoas nas fotos são todas limpinhas, frescas, puras e jovens. Quando era pequena, pensava que ser norte-americana era algo fantástico. Coca-Cola, McDonald’s, Macaulay Culkin – estas eram as coisas mais legais da Terra pra mim, provavelmente porque pareciam distantes da minha vida. Ainda sou obcecada por clichês norte-americanos, coisas do tipo road trips, skaters, cowboys, motoqueiros e prisioneiros.

É estranho como, com o Facebook, é possível apresentar sua vida só editando suas fotos, álbuns e informações, para que ela pareça de um jeito. O seu trabalho é uma versão mais intensa disso? Ele retrata uma juventude perfeita?
Parece isso, não é? Quando olho para estas imagens, penso: “meu deus! Quero que estas fotos sejam as fotos da minha adolescência! Quero ter 16 anos com um lindo cabelo comprido e sardas, numa praia com o meu namorado skater. Tipo, claro!” Elas são muito idealizadas e desencanadas.

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Sei que você é uma grande fã do Richard Prince e do seu uso de fotografias reapropriadas. Acha que por ter encontrado essas fotos e salvado todas elas elas viraram suas?
Acho. Agrupadas do jeito que estão, estas fotos são o meu trabalho. Salvar imagens da internet é sem dúvida a Fotografia dos tempos modernos.

Alguma vez você já se sentiu como se estivesse invadindo a privacidade das pessoas ao ver os perfis de pessoas que você não conhece?
Na verdade, não. Se você não quere que pessoas que não sejam seu amigos vejam seu perfil, pode mudar as configurações de privacidade para prevenir isso. Nunca adiciono as pessoas que persigo.

Por que você decidiu colocar as imagens em camisetas e posters?
É a coisa mais de fã que existe, não é? Usamos camisetas de bandas que adoramos, os fãs do Leonardo DiCaprio usam camisetas do Titanic… É a mesma coisa. Sou genuinamente fã de todas as pessoas no meu trabalho. Acho que ser fã é uma coisa muito legal, e quando pensamos coisas legais sobre alguém, devemos botar pra fora. É uma boa atitude para se ter.

Além das fotos, você salvou pedaços de conversas digitais. Qual a ideia por trás disso?
Sou um pouco doida por comunicação. Mesmo vendo meus amigos todos os dias, direto a gente se liga, troca e-mails, BBM, g-chat, Facebook, Twitter e por aí fora. Tantas coisas fantásticas são ditas, mas no geral essas conversas digitais são tão rápidas e superficiais que às vezes nós as esquecemos. Comecei a guardar trechos de conversas que achava engraçadas ou fantásticas, ou relevantes de alguma forma, só para não me esquecer delas.

Recentemente tive uma conversa com um amigo meu jornalista sobre como toda esta progressão na linguagem é como uma “bastardização” do que havia antes. As nossas conversas estão cheias de gírias online, abreviações e palavras inventadas. Na sua opinião, palavras e abreviações como lols, OMG e Marlon Rando são sinais da língua evoluindo?
Definitivamente. Acho que é muito importante criar palavras novas. Tudo progride, então por que a língua deveria ser diferente? Palavras como “lols” e “vsf” podem soar patéticas agora, mas palavras da moda que aguentam o teste do tempo eventualmente se tornam parte da nossa linguagem do dia-a-dia.