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Perguntamos a Parisienses como eles Acham que suas Vidas Mudarão Depois dos Ataques de Sexta-feira

"Meu principal pensamento é que não devo ter medo."

'Peace for Paris' do artista Jean Jullien.

Na sexta-feira, 13 de novembro, o terror atingiu Paris. Uma série de ataques, assumidos pelo Estado Islâmico, aconteceram quase simultaneamente nos distritos dez e onze da capital francesa, matando pelo menos 129 pessoas e ferindo 352.

Os terroristas tinham como alvos torcedores de futebol e pessoas num show de rock – basicamente franceses normais que saem à noite depois de uma longa semana de trabalho. Sob essas condições, a manhã de sábado foi muito mais difícil de lidar. Acordamos e percebemos que a noite anterior não tinha sido apenas um pesadelo. No entanto, a vida continua. Na tarde de sábado, saí às ruas de Paris para falar com outros parisienses sobre como eles acham que a vida aqui vai mudar agora.

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Steeve, 38 anos, ator e cantor.

VICE: Você acha que os ataques vão mudar seu cotidiano nos próximos dias?
Steeve: Acompanhei os eventos de perto. Foi horrível, não há outra palavra. Inevitavelmente, com certos espaços públicos fechados, meus hábitos vão mudar um pouco. Boa parte da minha vida cultural terá que ser pausada. Isso te faz pensar. Hoje, decidi andar pela cidade em vez de ficar em casa, porque achei que era importante seguir com a vida normalmente.

Leia mais: Ataques Terroristas em Paris: uma Linha do Tempo dos Eventos

Talvez isso seja o que todos nós deveríamos estar fazendo.
Sim, mas não é assim tão simples. O que aconteceu muda tudo, quer gostemos disso ou não. Talvez isso não nos impeça de ver os amigos ou tomar uns drinques, mas nada disso vai acontecer no mesmo clima ou nos mesmos lugares.

Você tem tentando ficar longe de certas partes da cidade?
Não. Meu principal pensamento é que não devo ter medo.

Yadira, 22 anos, cientista da computação.

VICE: Como você experimentou os eventos de ontem?
Yadira: Sou cubana e ver o que aconteceu em Paris me deixou muito triste. Estou vivendo aqui há dois meses e essa é a primeira vez que experimentei algo tão horrível.

Sua vida vai mudar depois do que aconteceu?
Sim, com certeza. Hoje eu e meu namorado tínhamos combinado ir ao Jardins das Tulheiras, mas eu disse a ele que preferia ficar no norte de Paris hoje, para ter mais segurança.

Você está com medo?
Sim. Tenho medo de andar nas ruas, mesmo durante o dia. Eu queria tomar ar fresco, mas vou voltar para casa logo. Espero que logo fique mais fácil seguir com a vida normalmente, mas por enquanto prefiro não correr riscos desnecessários.

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Ambrose, 20 anos, estudante de economia.

VICE: Como você está se sentindo com os ataques de sexta-feira?
Ambrose: É horrível. Me sinto estranho. Ainda não entendi o que aconteceu. Moro naquela área, mas na noite de sexta eu estava no nono distrito, assistindo futebol com amigos.

Deve ser estranho voltar para casa agora.
Sim, a área está traumatizada e devo dizer que me sinto um pouco desconfortável aqui. Estou um pouco apreensivo.

Você acha que sua rotina vai mudar?
Não, acho que não. Quero viver normalmente. É melhor fazer isso mesmo, acho. Ou significa que eles venceram.

Benjamin, 22, especialista em audiovisual.

VICE: Como você se sente?
Benjamin: Péssimo. O mundo é um lugar de merda. Fico imaginando como tudo isso vai afetar o resultado das eleições em 2017.

Você vai mudar alguma coisa na sua vida cotidiana?
Não temo pela minha segurança, então vou agir normalmente. Não estou com vontade de sair para a balada, mas é por causa da atmosfera geral em Paris agora, não por medo.

Dominique, 42, agente de operações.

VICE: Como foi sua experiência dos atentados de sexta-feira?
Dominique: O número de mortes continua subindo. Não me sinto seguro, nem um pouco.

Isso vai mudar sua rotina?
Sim, com certeza. Vou prestar mais atenção aos locais que frequento. Vou evitar espaços abertos com muita gente. Vou sair bem menos.

Você saiu hoje.
Hesitei em fazer isso e já estou voltando para casa. Vou ter cuidado, pelo menos até que o estado de emergência termine. Vou trabalhar de casa e só sair quando necessário.

Étienne, 20 anos, estudante.

VICE: Como foi a noite de sexta para você?
Étienne: Não há palavras para descrever o que aconteceu, é nojento. As vítimas eram pessoas como eu, gente tomando uma cerveja num terraço ou num bar. Ainda estou em choque.

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Seus hábitos diários vão mudar agora?
Sinto que não deveria mudar meus hábitos, ou isso significaria que eles venceram. Se temos medo, vamos jogar o jogo deles e isso não seria bom.

Seus planos para o final de semana não mudaram?
Todas as instituições públicas culturais estão fechadas, então não posso fazer tudo que quero. Fora isso, sim, hoje à noite vou beber com meus amigos. Claro, o humor será diferente, mas acho que é importante evitar mudar radicalmente sua rotina. É isso que acho agora, e talvez isso mude conforme os eventos se desdobram. Veremos.

Noémie, 25 anos, jornalista.

VICE: Onde você estava na noite de sexta?
Noémie: Eu estava num café não muito longe da Rue Bichat, onde um dos tiroteios aconteceu. Eu estava no terraço e o dono pediu que a gente entrasse. Tivemos que ficar no bar por horas. Depois andei até a Republic e um policial me agarrou e me colocou em outro restaurante. Tive que ficar lá mais tempo. Depois eles finalmente deixaram a gente ir para casa.

Então você estava no centro dos eventos.
Sim. Como no Petit Cambodge uma vez por semana e enquanto espero pela mesa, tomo uma cerveja no Carillon – os dois lugares foram atacados. Eu poderia estar lá naquela noite. O que está acontecendo é horrível. Eu costumava me sentir segura em Paris, mas agora tudo mudou.

Você vai mudar sua rotina nos próximos dias?
Não, não quero fazer isso. Vou sair para beber com um amigo hoje à noite, nada festivo, claro, mas acho importante sair. Espero que o bar esteja aberto.

Tradução do inglês por Marina Schnoor.

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